A dupla bolsonarista O Antagonista/Crusoé está disseminando mais uma fake news contra o programa Mais Médicos. Desta vez, atribuem à Organização das Nações Unidas (ONU) o enquadramento das missões de médicos cubanos – normalmente através de convênios firmados com a intermediação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e entes afins – como “trabalho forçado”. Em sites dedicados a difundir e aumentar as mentiras da extrema-direita, a “denúncia” é ampliada para “trabalho escravo”.
De acordo com as publicações, divulgadas no sábado (10), as relatoras especiais da ONU para os temas de Escravidão Contemporânea e de Tráfico de Pessoas, respectivamente Urmila Bhoola e Maria Grazia Giammarinaro, afirmaram isso num documento em resposta a questionamentos de uma ong espanhola chamada Defensores dos Prisioneiros Cubanos.
Há dois problemas graves na “notícia”. O primeiro é que os relatores temáticos não têm prerrogativa ou competência institucional para emitir decisões como um órgão do sistema ONU. E o problema mais grave é que simplesmente não existe tal afirmação na carta [confira a íntegra abaixo] das relatoras que foi enviada ao governo cubano em novembro passado.
O que existe é uma frase que serve de advertência sobre a possibilidade de uma série de práticas – se é que existiram, já que o documento não é conclusivo, mas apenas consultivo e propositivo – questionadas na carta que PODERIAM ser enquadradas na condição de trabalho forçado.
A frase em espanhol distorcida na tradução para o português é essa: “Las condiciones de trabajo reportadas podrían elevarse a trabajo forzoso” – “As condições de trabalho reportadas poderiam ser consideradas como trabalho forçado”.
O texto pede resposta em até 60 dias e termina nestes termos: “Quisiéramos asimismo instarle a que tome las medidas efectivas para evitar que tales hechos, de haber ocurrido, se repitan” – “Também gostaríamos de instar que [V. Exa.] tome medidas efetivas para evitar que tais fatos, se tiverem ocorrido, se repitam”.
Desafio
Diante da “notícia”, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que foi o ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff e um dos responsáveis pela concepção do Mais Médicos, desafiou qualquer pessoa a mostrar a decisão na ONU que comprove o que afirmam os sites.
“Se tem uma coisa que me deixa indignado é fake news na área da saúde. Eu fui procurar junto a pessoas da ONU, da Organização Mundial de Saúde, se tem alguma resolução sobre isso, alguma decisão sobre isso. Não existe nada, muito pelo contrário. O que tem de resolução de comissões são de apoio, solidariedade às ações da Brigada Internacional de médicos cubanos”, disse o parlamentar em vídeo publicado em sua conta no Twitter.
A nova mentira dos bolsominions é que os médicos cubanos estavam sob regime de trabalho forçado, segundo um documento da ONU. Desafio qualquer um a mostrá-lo. Não há! E só para lembrá-los, quem cortou verba para o combate a esse tipo de crime foi o próprio Bolsonaro, talkey? pic.twitter.com/jBM94koY4a
— Alexandre Padilha (@padilhando) January 12, 2020
Confira a íntegra da carta das relatorias especiais para o governo de Cuba:
Carta das relatoras (PDF – 183Kb)
Rogério Tomaz Jr.