CPMI: Fake news ameaçam a democracia, denunciam entidades e parlamentares

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para investigar a disseminação de notícias falsas nas redes sociais, conhecida como fake news, ouviu nesta terça-feira (3), jornalistas investigativos e representantes de entidades profissionais. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) foram entidades convidadas para contribuir com esse tema que assombrou o cenário político nas eleições presidenciais de 2018.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Arnaldo Cesar Ricci Jacob, ao falar sobre a matéria, logo afirmou: “o advento das fake News “corrói a democracia, desorganiza a opinião pública no País, confunde a formação da opinião pública e desestabiliza o Estado Democrático de Direito”.

O representante da associação contou que a ABI vem estudando sobre fake news desde meados de 2016. Jacob contou sobre a evolução da entidade em se posicionar em momentos que aconteciam “desacertos” ou “irregularidades”. “Reagíamos com notas oficiais ou manifesto. E nós percebemos que no mundo de comunicação de hoje já não produz nenhum tipo de resultado”, constatou.

A partir daí, relatou o palestrante, a entidade começou a trabalhar a ideia de que era necessário encontrar meios de combater as notícias falsas no campo em que elas se manifestam, que é o campo das redes sociais. Para isso, a associação desenvolveu um projeto simples em que se usa a robótica. “O mesmo robô que dissemina informação dentro das redes sociais, ele pode ir lá e captar as informações nocivas que estão dentro da rede. Então uma equipe de checagem constituída por jornalistas, faz a checagem numa velocidade muito rápida e reinjeta dentro das redes sociais uma vacina”.

Essa vacina, explicou, é um aviso que vale para os internautas, para os leitores de veículos convencionais, para os telespectadores de uma rede de televisão, para radiouvintes de que aquela informação é suspeita. “Nesse meio tempo, as equipes de profissionais checam para saber se aquilo é verdadeiro ou falso. Esse é o mecanismo que a gente discutiu para a ABI combater as fake news de uma maneira mais efetiva”, detalhou.

Segundo Arnaldo Jacob, uma das questões que a ABI tem estudado é de “como combater fake news num País onde o próprio mandatário produz fake news?”. Ele citou como exemplo os EUA, Brasil, Turquia, Hungria e Filipinas, países onde isso acontece.

Organização criminosa

O deputado Rui Falcão (PT-SP) sustentou a tese, que segundo ele, o general Santos Cruz não desmentiu em seu depoimento à CPMI: a da existência de uma organização criminosa alojada no Palácio do Planalto disseminando notícias falsas.

“Existe uma organização criminosa, cujo comando político está no interior do gabinete do presidente da República. Essa organização criminosa tem esse núcleo político que produz informações falsas, essas informações têm uma rede de distribuidores, influenciadores e financiadores dessas informações. E um dos objetivos desta CPMI, que eu espero que a gente possa chegar até ele, é desbaratar essa organização criminosa, porque ela corrói a democracia brasileira e ela é o ovo da serpente do fascismo que começa dessa maneira e se estende País afora, e se a gente silencia, se a gente não repele os provocadores, os disseminadores desse tipo de coisa, mais tarde não haverá como fazê-lo”, alertou.

Epidemia mundial

A deputada e jornalista Luizianne Lins (PT-CE) afirmou que a disseminação de notícias falsas é uma epidemia mundial. Ela apontou que as redações hoje precisam de jornalistas especialistas em checagem de fatos.

“Acho que nós estamos aqui diante do que poderíamos considerar uma epidemia, ou seja, a propagação de uma doença de forma rápida e em demasia em determinado local e em determinada época. Então, poderia comparar o que nós estamos chamando hoje de “fake news” a uma epidemia mundial. E é uma epidemia mundial que pode impactar – e muito – o futuro da humanidade, do planeta Terra, em todos os aspectos”, alertou a deputada.

Luizianne destacou o papel das agências de checagem em todo esse processo de desconstrução das notícias falsas. “Eu acho que cada vez mais essas agências vão ter a responsabilidade sobre isso, porque nós não podemos viver em um mundo em que você não sabe mais o que é verdade e o que é mentira. Hoje qualquer pessoa fala: “vocês viram isso que aconteceu?”. E a gente pergunta: “Mas é verdade ou é fake news? É assim que nós estamos vivendo”, lamentou.

Sugestão

O presidente da ABI, Arnaldo Cesar Ricci Jacob, sugeriu aos deputados e senadores que compõem a comissão para que criem mecanismos que possam apoiar, financiar e ajudar instituições que existem no Brasil, e que hoje fazem pesquisas profundas na área de comunicação digital.

Democracia

O vice-presidente regional Centro-Oeste da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Gésio Passos, ressaltou que a estratégia da desinformação não é nova. Ele apontou, porém, que a ampliação do acesso à internet favoreceu a disseminação das notícias falsas. Na visão de Passos, a desinformação é uma aliada da estratégia de grupos políticos extremistas. Ele lamentou a grande concentração das empresas de comunicação e afirmou que o presidente da República é “um dos principais promotores” da desinformação no País. Segundo levantamento da Fenaj, Jair Bolsonaro realizou 111 ataques à imprensa desde que assumiu a Presidência.

Desinformação

Diretora executiva do portal Aos Fatos, a jornalista Tai Nalon disse que o fenômeno da desinformação deve se prolongar e que não existem receitas prontas para vencer essa cultura. Ela apresentou ferramentas tecnológicas do Aos Fatos que podem auxiliar o leitor a conferir a veracidade de uma informação. Há, inclusive, uma ferramenta dedicada ao presidente Bolsonaro. Segundo a jornalista, o presidente tem falado, com bastante frequência, frases com informações fora de contexto ou claramente falsas. Ela alertou para o perigo da polarização e para a divulgação de falsas notícias relacionadas à saúde e registrou que o brasileiro se informa hoje, principalmente, pelas redes sociais.

“Desinformação pode fazer mal [à saúde] e pode gerar histeria coletiva. A checagem importa, o jornalismo profissional importa” — declarou.

A repórter da Agência Lupa Natália Levien Leal apresentou as principais rotinas de checagem da agência. Ela informou que a Lupa checa cerca de 40 notícias por mês. Na visão de Natália, quanto mais informação, mais transparência e mais poder de decisão. Ela disse que a solução para a questão das fake news passa muito mais pela educação do que pela criminalização. Na mesma linha, o jornalista Thiago Reis, do serviço Fato ou Fake, do Portal G1, informou que 70 jornalistas trabalham hoje no processo de checagem dentro do Fato ou Fake.

Benildes Rodrigues com informações da Agência Senado

 

Finalizada às 20h10

Veja como foi a audiência:

Foto – Gabriel Paiva-Arquivo

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