Para entregar a Amazônia aos EUA, Bolsonaro briga até com o Papa

Com discursos ofensivos e polêmicas que relativizam a gravidade dos desmatamentos, das queimadas e negam a ciência, o governo Bolsonaro “não garantirá a proteção da Amazônia e do nosso meio ambiente”, alerta o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Em uma série de postagens na rede social Twitter, na última quinta-feira (19), Wagner listou os constrangimentos internacionais mais recentes patrocinados por Bolsonaro, acompanhados da frase “Perdão por nosso presidente” em sete idiomas.

O senador citou o veto ao discurso brasileiro na Cúpula do Clima das Nações Unidas, marcada para esta segunda-feira (23), o alerta de vários fundos de investimento internacionais sobre a falta de políticas de proteção à Amazônia no Brasil e a rejeição do Parlamento da Áustria ao acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul. “Diante desse quadro, só nos resta pedir desculpas ao mundo”, concluiu Wagner.

Até o papa

Bolsonaro parece mesmo estar na contramão do planeta. Enquanto a juventude de 150 países — do Brasil, inclusive — ocupou as ruas, na sexta-feira (20), em manifestações da Greve Global pelo Clima, o ocupante do Planalto conseguiu tirar do sério até mesmo o Papa Francisco.

Por meio do secretário de Comunicação do Vaticano, Andrea Tornielli, Francisco respondeu às recentes fake news divulgadas pela milícia virtual bolsonarista de que os bispos católicos pretenderiam “desmembrar territórios da Amazônia e declará-los independentes”. O ataque é motivado pela realização do Sínodo da Amazônia, que terá início do dia 6 de outubro em Roma.

Piada e falsidade

“Essa afirmação é uma completa falsidade. O Sínodo é uma reunião da igreja, de bispos, sem qualquer poder político. Não é um Parlamento e, logo, não pode interferir na soberania de nenhum dos nove países em cujo território se encontra a Amazônia”, afirmou Tornielli em vídeo divulgado na sexta-feira (20) pela agência oficial Vatican News.

Para o secretário de Comunicação do Vaticano, as afirmações bolsonaristas “parecem mais uma brincadeira, uma piada”.

“Tarado”

A reação do Vaticano, apontam analistas, indica que a cúpula da Igreja Católica não mais receberá em silêncio os ataques que o governo Bolsonaro e os católicos ultraconservadores têm disparado contra o Sínodo e o próprio Papa Francisco.

Desde julho, Bolsonaro já tinha incorporado o papa à sua coleção privada de chefes de Estado alvos de grosserias. Quando Francisco lamentou que “prevalece na Amazônia uma mentalidade cega e destruidora que privilegia o lucro sobre a justiça”, o presidente respondeu que “o Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer“.

Cruzada

Fazem companhia ao Papa Francisco nesta lista os governos da Alemanha, da Noruega — cujas doações abastecem o Fundo Amazônia de combate ao desmatamento — e o presidente francês Emmanuel Macron. Na última quinta-feira (19), em sua transmissão semanal pelo Facebook, Bolsonaro voltou a atacar os governos europeus.

Confirmando presença na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, Bolsonaro prometeu que não vai “brigar com ninguém”, mas que vai “enfrentar os europeus”, reafirmando sua cruzada-buffa de pretensa “defesa da soberania”.

Tarefa dos brasileiros

Algumas reações estrangeiras só fazem crescer os ventos para o moinho bolsonarista. “Quando Macron fala em intervir na Amazônia, ele cria um grande apoio a Bolsonaro, porque ninguém no Brasil pensa que isso seria uma boa ideia”, alertou a ex-presidenta Dilma Rousseff, ovacionada pela plateia que ouviu sua palestra na Universidade de Sorbonne, na noite da última quarta-feira (18), em Paris.

“O Brasil sem a Amazônia, sem os povos indígenas, não é o Brasil, pode ser outra coisa, mas não é o Brasil”, afirmou Dilma. Assegurar a preservação da floresta e das populações da floresta em território brasileiro, ressaltou ela, será uma tarefa do povo brasileiro. Essa é a postura soberana, não a escolha de qual potência estrangeira à qual entregar esse patrimônio.

Plano de ocupação

Segundo uma reportagem do site noticioso The Intercept Brasil, publicada na última quinta-feira (19), o governo de Jair Bolsonaro já vem discutindo, desde fevereiro, “o maior plano de ocupação e desenvolvimento da Amazônia desde a ditadura militar”.

Esse projeto seria a retomada do velho sonho dos militares de povoar a Amazônia, com o pretexto de desenvolver a região e proteger a fronteira norte do país — a mesma orientação que inspirou o projeto faraônico da Rodovia Transamazônica, que permanece inacabada desde sua inauguração, durante o governo Médici, em 1972.

Sem nacionalismo

“Ele se comprometeu a proteger a floresta em pronunciamento em cadeia nacional, mas o projeto do governo federal mostra que a prioridade é outra: explorar as riquezas, fazer grandes obras e atrair novos habitantes para a Amazônia”, protesta o senador Paulo Rocha (PT-PA).

A diferença entre o projeto do tempo da ditadura e o atual é o abandono do viés nacionalista. O plano de Bolsonaro é derrubar grandes porções de floresta, colonizar a Região Amazônica com populações não indígenas e “em parceria” com mineradoras norte-americanas, como explicou o próprio ocupante do Planalto ao justificar a indicação do filho para o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

Linha direta com Trump

Em julho, durante a formatura de novos paraquedistas das Forças Armadas, Bolsonaro manifestou a ambição de estabelecer uma “parceria com o primeiro mundo” para explorar as “terras riquíssimas” das reservas Ianomami e Raposa-Terra do Sol, em Roraima.

“É um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o primeiro mundo para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA. Quero contato rápido e imediato com o presidente americano”, confessou Bolsonaro na ocasião.

 

Por PT no Senado

Foto: Reprodução

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