O deputado Célio Moura (PT-TO) defendeu durante pronunciamento na tribuna da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (27), a prisão do atual ministro da Justiça e ex-juiz, Sérgio Moro, e do coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol pelos crimes cometidos no curso da operação Lava Jato. O parlamentar afirmou que enquanto promovia uma perseguição implacável contra o ex-presidente Lula, a Lava Jato protegia outros personagens da vida política e econômica do País. Célio Moura lembrou a mais recente reportagem do site The Intercept Brasil, que aponta entre “a turma protegida da Lava Jato: bancos, FHC, Álvaro Dias e Onyx Lorenzoni”.
“É preciso que a Lei e a justiça coordenada por agentes públicos sérios e cientes de suas enormes responsabilidades, desmantelem imediatamente com essa ‘Máfia de Curitiba’, obviamente assegurando-os o direito legal de ampla defesa que eles tanto negam, para que em seguida vejamos tanto o senhor Sérgio Moro quanto seu comparsa Deltan Dallagnol, presos! ”, defendeu Célio Moura.
Durante o discurso, o parlamentar apresentou os protegidos da Lava Jato denunciados pelo The Intercept Brasil:
Bancos
O deputado Célio Moura lembrou que a reportagem do site afirma que, enquanto os bancos escaparam de investigações na Lava Jato, o setor da construção civil sofreu uma verdadeira devassa. Como exemplo da impunidade, o The Intercept apontou que um dos procuradores da força tarefa, Roberson Pozzobon, reconheceu que o banco Bradesco, “lucrou muito com as movimentações bilionárias” de Adir Assad, um lobista condenado por lavagem de dinheiro e envolvido em diversos casos de corrupção. Apesar da constatação, nenhum dirigente do banco foi investigado.
Fernando Henrique Cardoso
Entre os políticos citados em delações e que escaparam das investigações da Lava Jato, está o ex-presidente tucano FHC. Segundo Célio Moura, “FHC era protegido da máfia de Curitiba que, não por acaso, fez vistas grossas às robustas demonstrações de ilícitos do juiz e seu servo”. O The Intercept lembrou que a ordem para não investigar FHC partiu do próprio Sérgio Moro, que recomendou a Dallagnol que não prosseguisse com as investigações contra FHC para não “melindrar alguém cujo apoio é importante”.
Álvaro Dias
O atual senador pelo Podemos do Paraná e ex-candidato a presidente, Álvaro Dias, também escapou das garras da Lava Jato. A reportagem do The Intercept cita dois episódios nos quais o parlamentar foi citado como beneficiário de propinas. Em um deles, o ex-candidato a presidente foi acusado de receber propina para ajudar a melar a CPI da Petrobras. “O senador chegou a prestar depoimento para Moro em 2017 sobre o caso, mas o ex-juiz e o então procurador Diogo Castor nem chegaram a perguntar se ele havia recebido a propina”, observou o site investigativo.
A reportagem lembrou ainda o episódio em que e-mails do advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán indicavam que Álvaro Dias teria recebido R$ 5 milhões em propina para pegar leve nas perguntas aos investigados na CPMI de Carlos Cachoeira, o empresário do jogo do bicho. O caso não mereceu uma investigação mais profunda, e Dias jamais virou um investigado.
“Agora está explicado o motivo do senador robô, programado só para dizer sim aos crimes e trapalhadas dos aloprados de Curitiba, foi outro beneficiado e blindado por Moro o chefe Mafioso”, disse Célio Moura.
Paulo Guedes
Segundo o The Intercept Brasil, o atual ministro da Economia Paulo Guedes foi outro personagem citado em delações que não sofreu qualquer investigação. A Lava Jato descobriu uma empresa do ministro que fez pagamento a um escritório de fachada, suspeito de lavar dinheiro para esquema de distribuição de propinas a agentes públicos no governo do Paraná. Uma denúncia sobre o caso chegou a ser apresentada, mas nem o ministro nem ninguém da sua empresa foi denunciado. Curiosamente, os responsáveis por outras duas empresas que participaram do esquema foram presos, denunciados e viraram réus.
O site investigativo destacou ainda que “à época da descoberta, Guedes já era o grande nome da campanha do Bolsonaro, apresentado como o fiador da política liberal do candidato”. Portanto, “era o homem que tornou a extrema direita palatável para o mercado”. “Uma denúncia contra Guedes seria avassaladora para Bolsonaro, que passou a campanha explorando o fato de estar distante dos acusados na Lava Jato”, destaca o The Intercept. “Ou seja, se por um lado a operação se esforçava em tirar Lula do páreo, por outro poupava a candidatura que levaria Sérgio Moro ao ministério da Justiça”. O site registra que foi Paulo Guedes quem convidou Sérgio Moro pessoalmente para integrar o governo.
“O ministro ‘Posto Ipiranga’ pagou com devoção a ‘passada de pano’ que Moro, o ocultador de caixa Dois, lhe prestou”, enfatizou Célio Moura.
Onyx Lorenzoni
A reportagem do The Intercept lembrou um caso “mais representativo da frouxidão moral de Sérgio Moro e da seletividade da Lava Jato”. Ainda juiz, Moro disse que “caixa 2 é pior que corrupção”. Depois que virou político e seu colega de governo Onyx Lorenzoni, do Democratas (RS), confessou ter cometido crime de caixa 2, Moro passou a dizer que “caixa dois não é tão grave quanto corrupção”.
A Vaza Jato revelou que Onyx, que ocupa o ministério mais importante do governo Bolsonaro, também contou com a tolerância dos procuradores da operação. Em diálogo com um militante de um movimento anticorrupção, Dallagnol confessou que sabia que Onyx aparecia na lista de beneficiários de caixa 2 da Odebrecht: “Já sabia, mas tinha que fingir que não sabia, o que foi na verdade bom… rs”.
Para o deputado Célio Moura, apesar das injustiças e arbitrariedades praticadas pela Lava Jato ainda permanecerem impunes, é preciso confiar que no futuro a justiça será feita. “É como diz nosso presidente Lula. Moro e Deltan mentem, praticam crimes e serão punidos, para o bem da justiça! Eles podem cortar uma ou duas rosas, mas jamais conseguirão impedir a chegada da primavera!”, avisou.
Héber Carvalho
Foto: Gustavo Bezerra