Gleisi Hoffmann apela a Rodrigo Maia para acionar a ONU contra desastre ambiental no País

Foi com tristeza que a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), usou a tribuna da Câmara nesta quinta-feira (22) para denunciar a destruição da Amazônia, promovida pela “estupidez, pela ignorância, pela má-fé e pelo descompromisso” do governo Bolsonaro com a soberania nacional. Ela fez um apelo para que o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, dirija-se ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, para falar sobre a situação ambiental e dos direitos humanos no Brasil.

“É fundamental que façamos essa denúncia. Nós queremos de novo o respeito e o reconhecimento mundial sobre como tratamos as nossas florestas, os direitos das comunidades originárias, o direito da nossa população”, argumentou a presidenta do PT.

Gleisi informou que foi incumbida pelo Fórum dos Partidos de Oposição, a solicitar do escritório da Coordenação-Residente do Sistema Nações Unidas aqui no Brasil, uma conferência com Michelle Bachelet, alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, para entregar a ela relatório sobre o que está acontecendo no Brasil. “Quero convidar todos os partidos políticos que defendem o meio ambiente e os direitos humanos para a conferência, visto que essa não é uma questão ideológica, uma questão política, para nos acompanhar, pois nós iremos solicitar que a ONU, que já elogiou o Brasil, observe o que está acontecendo. Eles (Nações Unidas) precisam estar aqui, precisam observar, precisam ajudar o Brasil”.

A presidenta do PT ainda conclamou a militância petista e os movimentos sociais para se unirem às manifestações que estão sendo chamadas nas ruas. “E são muitas, que acontecerão neste final de semana em defesa da selva amazônica, em defesa desta, que é uma das maiores riquezas que nós temos. Um diferencial, entre todos os países, com o qual, infelizmente Jair Bolsonaro está querendo acabar”, lamentou.

Queimadas seguem rastro do desmatamento

Gleisi citou nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, que afirma que as queimadas na Amazônia em 2019 seguem o rastro do desmatamento, não da seca. Segundo o documento, o número de focos de calor registrados na Amazônia já é 60% mais alto do que o registrado nos últimos três anos, e o pico tem relação com o desmatamento, não com a seca, não há fogo natural na Amazônia, diz o Instituto. “O que há são pessoas que praticam queimadas que podem piorar e virar incêndios. Isso é muito triste, porque isso depõe contra o nosso meio ambiente, mas isso depõe também contra a vida dos nossos povos originários, população indígena, quilombola, isso depõe também contra a saúde das populações que vivem e que moram na região Amazônica, isso depõe contra a produção do Brasil”, alertou.

Selo ambiental

Na avaliação da deputada, em breve o País poderá perder o “selo ambiental” para os produtos brasileiros, para a nossa agropecuária, que nós demoramos muito para ter. “Isso está sendo jogado no lixo, e jogado no lixo por um presidente da República, que, a meu ver, ilegitimamente eleito, mas que hoje senta na cadeira de presidente. E ele é o que incentiva o desmatamento, é o que incentiva a queimada, aliás, ele se diz orgulhoso, que é o presidente motosserra, agora, ele está dizendo que é o presidente Nero”, ironizou.

Dia do Fogo

Gleisi lamentou ainda que, por causa da posição de Bolsonaro, que acha que a Amazônia tem que ser desmatada, que fazendeiros da região do Pará instituíram tristemente o Dia do Fogo. Ela citou matéria de um jornal do Pará, que publicou uma matéria dizendo que os produtores rurais de lá se organizaram e, amparados nas palavras de Jair Bolsonaro, coordenaram a queima de pasto e áreas em processo de desmate na mesma data. “Detalhe: escolheram o dia 10 de agosto e essa queimada insana trouxe prejuízos imensos para a população da região, mas também para todo o Brasil. O dia virou noite em São Paulo. Tivemos problemas de fumaça, tivemos agravado o problema ambiental das nossas comunidades e dos nossos animais”.

O Brasil, lamentou Gleisi, está sendo rechaçado no mundo inteiro porque o desmatamento na Amazônia registrou um aumento de 278% em relação ao mesmo mês do ano passado. Os dados são INPE — Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais —, “um instituto reconhecido internacionalmente, no qual Bolsonaro interveio e mandou proibir a divulgação dos dados”, observou.

A gravidade é tanta na questão ambiental brasileira que a Alemanha e a Noruega suspenderam o dinheiro que passavam para um fundo da Amazônia, uma cooperação internacional criada por Lula em 2008. “São R$ 283 milhões, e Bolsonaro disse que não precisa desse dinheiro. Mas, na semana passada, ele disse que o Brasil não tem dinheiro nenhum. Então, como ele rechaça um dinheiro que pode ajudar a nossa proteção ambiental?”, indagou.

Governos Lula e Dilma

Gleisi, que foi ministra-chefe da Casa Civil do governo Dilma, aproveitou para resgatar o que significou os governos Lula e Dilma para a questão ambiental. Ela destacou que em 2014, o Brasil ganhou o reconhecimento das Nações Unidas como um exemplo que o mundo deveria seguir no combate ao desmatamento. A entidade atribuía o resultado ao sucesso das políticas de preservação da floresta iniciada por Lula nos anos 2000.

Lula reduziu o desmatamento anual na Amazônia de 27.772 quilômetros quadrados, em 2004, para apenas 7 mil quilômetros quadrados em 2010, segundo dados do INPE, “esse que Bolsonaro quer fechar”, provocou Gleisi. “E o mais trágico é que o Itamaraty, a mando do Bolsonaro, fez um telegrama para todas as embaixadas no exterior colocando esses dados para que os embaixadores defendessem o Brasil dos ataques que estão recebendo por não cuidar de seu meio ambiente. Mas eles são tão fraudadores — canalhas, eu diria — que eles não colocaram que esses dados se referiam aos governos de Lula e de Dilma, até porque no governo Bolsonaro o aumento do desmatamento foi de 278%”, protestou.

Retratação

Gleisi ainda repudiou o Jornal Nacional, da Rede Globo, que comparou Lula a Bolsonaro. “Lula nunca permitiu que nenhum país interviesse aqui no Brasil e sempre disse, na questão ambiental, que nenhum país podia cobrar do Brasil o que não fez no seu solo, e ele tinha razão. Mas, ao contrário de Bolsonaro, Lula disse que ia mostrar para o Brasil e para o mundo que podia fazer preservação ambiental e ter produção agrícola sustentável. E fez isso. Na época de Lula, nós combinamos expansão da produção agrícola com proteção do meio ambiente”, afirmou, pedindo que o Jornal faça a devida retratação.

Vânia Rodrigues

 

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