Convidado para falar em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, sobre a série de reportagens produzidas pelo site The Intercept Brasil, o jornalista Glenn Greenwald afirmou que “é impossível lutar contra a corrupção usando comportamentos corruptos”, ao fazer referência aos métodos adotados pelo ex-juiz Sérgio Moro e pelo procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol.
O The Intercept tem revelado o conluio jurídico nos processos que envolvem a prisão do ex-presidente Lula, preso ilegalmente pela Operação Lava Jato. A audiência foi conduzida presidente do colegiado, deputado Helder Salomão (PT-ES).
Glenn Greenwald observou que prática como essa apurada pelo The Intercept, em que segundo o jornalista, se comprovou que um juiz colaborava com as partes, não às vezes, não em casos isolados, mas o tempo todo, em segredo, sem conhecimento do outro lado, nos Estados Unidos seria impensável.
“Se um juiz fizesse uma vez, em todos os países democráticos que eu conheço, o que o Sérgio Moro fez como juiz, durante 5 anos no Brasil, sofreria muita punição e com certeza perderia o cargo”, destacou.
O jornalista alertou o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, sobre a tentativa de ele querer desqualificar o trabalho jornalístico e os documentos fornecidos pela fonte do The Intercept. “Eu sei muito bem, e o Sérgio Moro também sabe, que quando ele está tentando nos acusar, ele está mentindo”, criticou.
Glenn Greenwald recomenda ao ministro Moro parar com a tática de desqualificar o trabalho jornalístico do The Intercept. Esse método do ex-juiz representa um ataque à liberdade de imprensa garantida pela Constituição brasileira. “Essa tática não vai funcionar, não vai fazer nada, exceto estragar a imagem desse país internacionalmente, porque o Ministro da Justiça está tentando criminalizar o jornalismo. Esse material vai continuar sendo reportado e o ministro Moro não pode fazer nada para impedir isso”, alertou. “A democracia no Brasil vai ficar muito mais forte depois deste caso. O que estamos fazendo é simplesmente jornalismo”, informou Glenn.
Método
Greenwald esclareceu aos participantes da audiência pública que lotaram a Comissão de Direitos Humanos, que as mensagens são autênticas, e que o método que ele usou são os mesmos adotados no Caso Snowden – série de reportagens sobre programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos que ele fez em parceria com o analista de sistemas Edward Snowden e a documentarista Laura Poitras. A investigação revelou que a Agência Nacional de Segurança (NSA) violava a privacidade de milhões de pessoas, não só dos Estados Unidos, mas do mundo todo.
“Nós utilizamos o mesmo método jornalístico que eu usei com o Snowden quando recebi o grande arquivo de documentos. Eu consegui saber que esses documentos não eram alterados. Nós usamos os mesmos métodos jornalísticos [no caso Lava Jato], falamos com fonte que tinha informação que não era pública, mas que só pessoa de dentro da Lava Jato conseguia saber disso. Nós falamos com pessoa que conversou com os membros da força-tarefa da Lava Jato, que mostrou as conversas dentro do arquivo e eles compararam as conversas e disseram que as conversas são totalmente autênticas”, sintetizou Greenwald.
Recado
Durante sua exposição, Glenn foi atacado pela deputada de extrema direita Carla Zambelli (PSL-SP) que o desafiou a mostrar os áudios usados para produzir as reportagens sobre a Lava Jato. O jornalista rebateu as críticas de Zambelli. “Nós vamos divulgar os áudios, quando estiverem jornalisticamente prontos, e você vai se arrepender muito de ter pedido isso”, alertou Glenn.
Sobre os próximos episódios da série do The Intercept, ele dá um pequeno spoiler: “A postura do Deltan foi tão subserviente que vocês vão sentir vergonha quando for divulgada”.
Leia mais: https://pt.org.br/glenn-greenwald-moro-era-o-chefe-dos-procuradores-e-fingia-ser-imparcial/
Confira a coletiva do jornalista Glenn Greenwald:
Benildes Rodrigues com Agência PT Notícias