A pesquisa realizada pelo Instituto Ibope, divulgada esta semana, sobre a questão da violência no país mostra que o povo brasileiro não concorda com a flexibilização do uso de armas no país, proposta em decreto do presidente Jair Bolsonaro. Nela, constatou-se que 73% dos entrevistados são contrários à liberação de porte para cidadãos comuns e que 61% discordam da mais facilidade para possuir arma em casa.
É muito estranho que em um país onde as armas de fogo atingem, principalmente, os jovens e os negros nas suas regiões mais pobres, onde os assassinatos com uso de arma de fogo atingiram 72,4% dos homicídios no Brasil, em 2017 – o maior patamar já registrado no país, segundo o Atlas da Violência de 2019, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) esta semana – um dos primeiros atos do presidente da República foi decretar a liberação da posse e do porte de armas em todo o território.
Ao todo, no Brasil, se tem uma média de 50 mil mortes por ano, segundo os movimentos que lutam por terra no Brasil. Entre os anos 1980 e 2016, o percentual de homicídios no país cometidos com armas de fogo subiu de 40% para 71%, segundo dados do Atlas da Violência – 2018, divulgado esta semana pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Em Sergipe, foram assassinadas 6.143 pessoas nos últimos cinco anos (2013 – 2017). Uma média de quatro pessoas mortas por homicídio por dia. É uma guerra! Embora alarmante, por que esses dados não chocam o quanto deveriam chocar? Talvez a resposta esteja no fato de a maioria desses mortos ser formada majoritariamente pela população negra, pois das 1.313 mortes registradas no Estado, em 2017, 1.232 vítimas eram negros.
Do total desses 1.313 assassinatos, 58% eram jovens entre 15 e 29 anos, em sua quase totalidade do gênero masculino. É um processo seletivo, como são desiguais as oportunidades e excludente a sociedade: matam-se negros, jovens, do gênero masculino.
Com a medida do governo federal em liberar o porte e posse de armas, a indústria armamentista passou a ter um mercado potencial de R$ 20 bilhões. A Taurus, empresa brasileira fabricante de armas, viu suas ações dispararem no mesmo dia da publicação, com uma alta de 19,19%.
Venceram, portanto, o lobby da indústria e dos ruralistas e assustou os setores das representações sindicais e sociais e todas as pessoas, dado o risco iminente de aumento da violência.
No campo é de se esperar por mais conflitos, já que o presidente há muito tempo criminaliza os movimentos sociais, como os acampamentos e assentamentos e as comunidades quilombolas e indígenas. Uma violência que só atinge os mais pobres, quando o que os vários movimentos desejam é uma reforma agrária ampla, para que se produzam alimentos baratos e saudáveis para acabar com o problema da fome e viverem em paz.
O Instituto Sou da Paz informou, em audiência no Senado, que nos Estados Unidos alguns estudos foram revistos e mostram que os estados em que se permite o porte de armas o número de crimes violentos aumentou. Segundo informações do Centro de Política sobre Violência dos Estados Unidos, para cada tentativa de defesa armada bem-sucedida, 32 dão errado e a vítima morre, além de que a existência de uma arma em casa não dá segurança ao morador.
O que nos anima é que o povo tem percebido que as únicas promessas do presidente, enquanto candidato, só vêm se cumprindo naquilo que penaliza os mais pobres e que, com a falta de investimentos públicos, com uma redução drástica da qualidade dos serviços e aumento do desemprego.
O que se poderia esperar de um governo é que tivesse foco na melhoria de vida do nosso povo e não fazer como estar fazendo, acabando com o emprego e a renda, acabando com a aposentadoria e promovendo todo o tipo de maldades contra o povo. Mas isso seria esperar demais desse governo neoliberal e entreguista.
*João Daniel é deputado federal (PT-SE)