O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) afirmou durante pronunciamento no plenário da Câmara, nesta terça-feira (12), que os 60 dias do governo Bolsonaro já deixam um rastro de destruição irreparável para o País. Segundo ele, enquanto pautas da agenda econômica e de retirada de direitos podem ser ainda ser evitadas, ou mesmo se aprovadas, revertidas em um futuro próximo, o mesmo não ocorre com algumas ações ou omissões que já provocam mortes ou comprometem a saúde da população brasileira.
“Direitos, políticas avançam, e a história pode retroceder. Se retrocede, com a luta histórica podemos avançar. Vidas destruídas e perdidas não se recuperam nunca mais. Meio ambiente atacado, natureza atacada, terras indígenas atacadas não se recuperam nunca mais. Os 60 dias do governo Bolsonaro têm mostrado resultados muito claros que reforçam a minha avaliação”, afirmou.
Em relação às vidas perdidas, Padilha lembrou que mais de 200 mulheres já foram vítimas de feminicídio desde a posse de Bolsonaro na presidência da República. “Suas famílias nunca mais terão direito ao convívio com essas mulheres que foram assassinadas. Os dados mostram já no Brasil, anterior a isso, que nós temos a cada 11 minutos uma mulher estuprada em nosso País; mais de 500 mulheres são vítimas de agressão a cada hora”, informou o petista.
De acordo com o parlamentar, o aumento dos casos de feminicídio tem relação com a forma desrespeitosa com a qual o atual presidente sempre tratou a questão da violência contra as mulheres. Ele lembrou que Jair Bolsonaro já gravou um vídeo fazendo chacota sobre a forma como as mulheres poderiam se defender da violência.
“O Presidente Bolsonaro disse que feminicídio é mi-mi-mi, e que a solução para isso é dar uma arma para as mulheres, porque aí vai acabar o feminicídio e vai começar o homicídio: ou seja, um (homem) mata uma (mulher), e uma (mulher) mata um (homem)”, disse Padilha. O parlamentar argumentou que se arma fosse garantia de defesa da vida, “a Polícia Militar do meu Estado de São Paulo não era a que mais morria no mundo”.
O deputado Alexandre Padilha ainda criticou a forma como o presidente tratou a questão da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens. Ele lembrou que Bolsonaro gravou vídeo criticando a caderneta de vacinas destinadas a adolescentes apenas porque continha informações sobre como se prevenir do contágio de doenças pela via sexual.
“Ele (Bolsonaro) nega ou quer negar a existência do aumento da gravidez na adolescência no nosso País. Ele nega ou quer negar o aumento de mortes de mulheres, sobretudo as negras, pelo aborto clandestino no nosso País. Ele nega ou quer negar o aumento de 700% — quero repetir: 700% — de infecções sexualmente transmissíveis entre adolescentes no nosso País. Esse é um governo que não está disposto a proteger vidas, não está disposto a colocar a vida no centro de um projeto de país. E nada, nada poderá ser feito para recuperar essas vidas que se perdem no governo Bolsonaro”, apontou.
Meio Ambiente
Ainda de acordo com Padilha, outro comportamento demonstrado por Bolsonaro que, além de demonstrar desrespeito com a vida também pode acarretar prejuízos irreparáveis e sem volta, são os ataques do atual governo ao meio ambiente.
“Não é pouco o País nos seus dois primeiros meses ter tido o registro de mais de um tipo de agrotóxico por dia. Alguns eram produtos que já estavam registrados, alguns deles registrados no ano passado, onde tivemos o recorde de mais de 400 tipos de agrotóxicos registrados e que no começo deste ano o Governo expandiu a sua área de atuação, expandiu a sua cultura. Um agrotóxico que era só para amendoim passou a ser para o laranjal, um agrotóxico que estava restrito a uma determinada região do nosso País passou a ser utilizado em outras regiões, entre elas o Alto São Francisco, próximo aos rios”, alertou.
O petista também acusou o governo Bolsonaro de atentar contra a vida dos povos indígenas, ao retirar o trabalho de demarcação das terras da Funai e entregar para o Ministério da Agricultura, e enumerou outros ataques frontais à preservação do meio ambiente no País.
“Ele [Bolsonaro] tirou o Ministério do Meio Ambiente da coordenação da política de desmatamento no País; na Medida Provisória nº 870 também retira a Agência Nacional de Águas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a entrega para o Desenvolvimento Regional; retira papeis importantes do MMA na condução do desenvolvimento do País e deu um tapa no resto do mundo, isolando ainda mais o Brasil ao dizer que não quer sediar a Cúpula do Clima aqui no nosso País. Perdemos a Cúpula do Clima para o Chile”, relembrou.
Despreparo
Diante de tantas propostas e ações que ameaçam a vida, o deputado Alexandre Padilha destacou no pronunciamento que a maior parte dos brasileiros já entendeu que Bolsonaro não tem preparo para governar o País.
“Eu tenho certeza absoluta de que não só aqueles que votaram no candidato Fernando Haddad, como eu votei, não só aqueles quase 90 milhões de brasileiros que não depositaram o seu voto em Jair Bolsonaro no dia da eleição, mas muitos dos 51 milhões que votaram em Bolsonaro hoje admitem que nós temos aqui em Brasília um Presidente despreparado para liderar o País”.
O petista disse ainda acreditar que, mesmo entre os deputados federais, poucos hoje continuam confiando em Bolsonaro.
“Eu duvido que alguém tenha coragem de deixar o seu celular e o seu Twitter na mão do presidente Bolsonaro, durante 30 minutos, depois dos últimos acontecimentos do Carnaval. Pois bem, não podemos deixar um País do tamanho do Brasil por 24 horas na mão de alguém que a gente não teria coragem de deixar um celular por 30 minutos”, declarou.
Héber Carvalho