Os deputados Alexandre Padilha (PT-SP), Jorge Solla (PT-BA) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), criticaram nesta terça-feira (9), durante reunião técnica remota da Comissão Externa da Câmara que acompanha as ações de combate ao coronavírus, a recente tentativa do Ministério da Saúde de alterar o modelo de divulgação dos mortos pela Covid-19 no País. Na presença do ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, os petistas afirmaram que ao contrário da transparência defendida por ele na reunião, divulgar apenas o número de óbitos efetivamente ocorridos nas últimas 24 horas, sem computar outras mortes confirmadas no dia, é uma forma de reduzir artificialmente o número diário tentando minimizar a gravidade da pandemia.
“O senhor falou que deseja a verdade, a clareza e a transparência, mas verdade não combina com tentar esconder ou escolher um dado ou outro para mostrar. No Brasil, hoje, temos quase cinco mil óbitos em investigação. Se o senhor quer mostrar a verdade, tem que mostrar os óbitos registrados diariamente, por data de ocorrência e aqueles que estão em investigação. Agora, o senhor pode ter certeza que se o ministério não fizer, a imprensa, o Congresso ou a academia fará. Isso vai fazer com que o ministério perca sua autoridade, o que seria a pior coisa para o enfrentamento da pandemia”, avisou Padilha por
videoconferência.
Nesta segunda-feira (9), o ministro Alexandre de Moraes determinou que o ministério da Saúde volte a informar os dados integrais relativos à pandemia da Covid-19 no Brasil, da forma como vinha sendo divulgado desde o início da pandemia até o dia quatro de junho. Ele ainda determinou que as informações sejam divulgadas até as 19h30, e não mais as 22h, como chegou a anunciar o Ministério da Saúde. A decisão atende a pedido de liminar do PCdoB, do PSOL e da Rede.
Durante a reunião, Pazuello tentou se defender dizendo que nunca foi a intenção do ministério esconder informações sobre o número de mortos pela Covid-19. Segundo ele, o ministério apenas queria evitar a ocorrência de picos de mortes durante a semana, mas efetivamente ocorridos aos sábados e domingos, e também melhorar a “qualidade dos dados” para os gestores públicos. O ministro interino da Saúde informou na comissão que um novo sistema já estava disponível para consulta pública, com dados completos sobre a pandemia no País. Porém, foi contestado pelo deputado Jorge Solla, que acessou o site antes de participar por videoconferência da reunião.
“Falando em transparência, chequei agora o site do Ministério da Saúde e continua sem apresentar o dados somatórios. Por favor ministro, peça aos seus subordinados que cumpram essa sua determinação de transparência. Porque o site covid.saúde.gov.br continua tendo apenas o número de mortes e de novos casos das últimas 24 horas. O que o senhor colocou aqui de transparência, o Ministério da Saúde, infelizmente, não está cumprindo”, apontou.
O deputado Arlindo Chinaglia questionou o ministro sobre o aumento acima do normal de mortes registradas como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que em algumas cidades chega a ser até 12 vezes maior do que o registro de mortes pela Covid-19. Segundo denúncias de vários especialistas, parte desses casos de SRAG pode ser de pacientes que morrem pela Covid-19, sem terem sido diagnosticados.
Em algumas capitais, segundo Jorge Solla, o problema da subnotificação pode ser grave. Ele lembrou que em Campo Grande (MS), ocorrem quase 12 vezes mais óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave para cada caso de Covid-19. No estado de Minas Gerais, ele informou que, entre 1º de março e 1º de maio, ocorreram nove casos de SRAG para cada um de Covid-19, número muito acima da média histórica.
Faltam testes
O ministro da Saúde reconheceu que pode existir uma subnotificação por conta da falta de capacidade operacional de realização de testes em massa na população. Segundo Pazuello, até agora o governo disponibilizou 10 milhões de testes para a Covid-19 aos estados, número que ele considerou “razoável”. O ministro reconheceu também que não será possível cumprir a promessa de ofertar à população os 46 milhões de testes prometidos em abril pelo governo federal.
“Não diga que é razoável ministro, compare com o resto do mundo. O Brasil hoje faz 4 mil testes para cada um milhão de habitantes, somos o segundo (país) em número de casos (de Covid-19) no mundo, e o terceiro em número de mortos. Em compensação somos centésimo trigésimo primeiro (131º) em testagem no mundo. Então, não é razoável isso”, criticou Padilha.
Poucos equipamentos
Além dos testes, o ministro da Saúde também foi cobrado pelos deputados petistas sobre o auxílio insuficiente aos estados na oferta de equipamentos de combate à Covid-19, especialmente a instalação de UTIs e compra de respiradores. Arlindo Chinaglia lembrou que o governo federal anunciou 3 mil UTIs e entregou apenas 540, e que prometeu 14.100 respiradores e até agora ofertou 1.612.
Na defesa do Executivo, o ministro disse que o governo federal tem liberado recursos para a instalação de UTIs, dentro do orçamento possível. Ele reconheceu, no entanto, que há dificuldade para a obtenção de respiradores. Segundo Pazuello, quatro empresas nacionais contratadas pelo governo não estão conseguindo suprir a encomenda do governo federal, e por isso outras indústrias estão sendo procuradas para ajudar na produção dos respiradores.
Héber Carvalho