Vitória do povo boliviano. Eleição de Arce recupera democracia

Os ex-presidentes Lula e Dilma saúdam a vitória do candidato do Movimento ao Socialismo, o partido de Evo Morales. “Que a Bolívia retorne ao caminho do desenvolvimento com inclusão e soberania”, disse o líder brasileiro. “Que a vitória sirva de inspiração aos povos do nosso continente que sofrem sob regimes neoliberais e autoritários”, comentou a ex-mandatária.

O Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Molares, deposto num golpe vergonhoso em 2019, obteve ontem uma vitória surpreendente nas eleições presidenciais da Bolívia, elegendo o economista Luiz ‘Lucho’ Arce à Presidência da República, já no primeiro turno. Lucho derrotou os dois candidatos da direita, Carlos Mesa e Fernando Camacho, que tinham apoio da presidenta interina Jeanine Áñez, que assumiu o poder na Bolívia depois que o líder esquerdista foi deposto há um ano. De Buenos Aires, onde está exilado, Evo com o triunfo: “Vamos levantar a Bolívia novamente”.

O novo presidente fez um discurso pregando unidade nacional. “Recuperamos a democracia e recuperamos a esperança. Nosso compromisso é trabalhar, levar nosso programa adiante. Vamos construir um governo de unidade nacional, vamos construir a unidade deste país”, disse. A força da vitória eleitoral e política foi comemorada em todo o continente.

Os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, parabenizaram Lucho e o candidato a vice, David Choquehuanca.  Outros líderes da esquerda latinoamericana também festejaram a vitória do MAS, como o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Nas redes sociais, Lula saudou o novo presidente e a retomada democrática. “Meus parabéns ao povo boliviano, que restabeleceu sua democracia. Parabéns para Lucho e meu amigo Evo, que depois de um ano difícil podem ver respeitado o voto popular”, comemorou Lula. “Que a Bolívia retorne ao caminho do desenvolvimento com inclusão e soberania”.

 

Dilma também comentou a expressiva vitória, nas suas redes sociais: “Celebro com Lucho e Evo a lição que nos dá o bravo povo boliviano, que reconquistou a democracia nas urnas. Que a vitória sirva de inspiração aos povos do nosso continente que sofrem sob regimes neoliberais e autoritários”. A eleição de Lucho também foi celebrada pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, e da vice-presidenta Cristina Kirchner: “Um ato de justiça diante das agressões sofridas pelo povo boliviano”.

 

A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), que está em La Paz desde sexta-feira para acompanhar as eleições presidenciais também comentou a vitória eleitoral do MAS, logo na abertura das urnas, ainda na noite de domingo. “Sai primeira apuração das eleições na Bolívia. Luiz Arce está eleito novo presidente do país, com 52,4% dos votos! Carlos Mesa tem 31,5% e Camacho 14,1%. Viva o povo boliviano, viva a democracia!”, celebrou. Os efeitos da guinada à esquerda da Bolívia também foram reconhecidos pela direita, derrotada nas urnas. Gleisi também comemorou a eleição da senadora Patrícia Arce Guzman, agredida no ano passado durante o Golpe na Bolívia.

Em nota, a bancada do PT no Senado, liderada por Rogério Carvalho (SE), celebrou a vitória eleitoral. “Ainda no primeiro turno, Arce derrota não apenas os demais candidatos, mas também o golpe de Estado que, com uso de violência, afastou no final de 2019 o ex-presidente Evo Morales, legitimamente eleito”, diz a nota divulgada na manhã desta segunda-feira, 19. “Está, portanto, restaurada a democracia na Bolívia, e saudamos o povo boliviano, que atendeu ao chamado de Morales, feito em seu exílio político”.

Foto: Rede Brasil Atual

Reconciliação

A vitória de Lucho e do MAS foi reconhecida de pronto pela própria presidenta interina Jeanine Áñez. “Ainda não temos uma contagem oficial, mas de acordo com os dados de que dispomos, Arce (e seu companheiro de chapa) venceram as eleições”, disse no Twitter. “Parabenizo os vencedores e peço-lhes que governem tendo a Bolívia e a democracia em mente”. O resultado causa um terremoto na política boliviana e supera as expectativas do próprio MAS, que saiu do poder de maneira violenta um ano atrás, num episódio que obrigou Morales a se exilar, iniciou uma crise política e deu lugar a um governo interino que fez da luta contra o MAS sua principal ocupação e objetivo.

O triunfo eleitoral foi comemorado por Evo Morales em Buenos Aires. Em entrevista coletiva de imprensa, o ex-presidente pediu uma grande reunião para a reconciliação na Bolívia. “Não somos revanchistas”, disse. “Vamos fazer avançar a nossa querida Bolívia, vamos enfrentar a crise económica e de saúde”, afirmou. Evo celebrou as qualidades do novo líder boliviano, que foi ministro da Economia em seu governo durante mais de uma década. “Eu conheço o parceiro há anos. Ele não é apenas um dos melhores economistas, como tem muitas qualidades humanas, é solidário e honesto”.

A Bolívia, que já foi um dos países politicamente mais voláteis da América Latina, experimentou um raro período de estabilidade durante 14 anos sob o governo de Morales, o primeiro presidente indígena do país.  Pastor  que se tornou líder de um sindicato de plantadores de coca, Evo Morales foi imensamente popular enquanto supervisionava um aumento econômico liderado pelas exportações.  Ele liderou a Bolívia de 2006 a 2019 e foi o último sobrevivente da chamada “onda rosa” de líderes de esquerda que chegaram ao poder na América do Sul, incluindo Lula, o venezuelano Hugo Chávez e o argentino Nestor Kirchnner.

 

Da Redação da Agência PT

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