José Mentor
A enciclopédia Delta Larousse define esporte como “o conjunto de exercícios físicos praticados metodicamente, sobre a forma de jogos individuais ou em equipes, com observância de regras específicas”.
No dicionário Houaiss, esporte é “atividade física regular, com fins de recreação e/ou de manutenção do condicionamento corporal e da saúde”. A Lei Pelé, que institui normas gerais sobre esportes no Brasil, estabelece no artigo 2º, XI que “o desporto, como direito individual, tem como base o princípio da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial”.
Todas as definições convergem no sentido de que as regras de cada modalidade devem promover a manutenção do condicionamento corporal e da saúde, garantindo o princípio da segurança e integridade física do praticante.
Nos últimos 15 anos, oito lutadores morreram no mundo por causa da prática. Há uma semana, um brasileiro morreu durante a preparação para uma luta. Ele precisava emagrecer 15 quilos para se enquadrar numa categoria. Na véspera da pesagem, faltavam 900 gramas. Entrou em uma sauna e não resistiu. Teve um AVC. Nos últimos três anos, dois lutadores norte-americanos ficaram tetraplégicos.
Não vemos no MMA regras que proporcionem a preservação da saúde e da integridade física do praticante. Quanto mais rápidos, fortes, contundentes e agressivos forem os golpes (pontapés, joelhadas, cotoveladas e socos sucessivos na cabeça, rosto e abdômen), mesmo que o adversário esteja grogue, mais cedo o lutador comemora a vitória.
Depoimentos de esportistas de combate reconhecidos, como Ted Boy Marino –quando em vida–, Maguila e Éder Jofre, e de especialistas de educação, saúde, psicologia não consideram o MMA um esporte. Nova York, nos Estados Unidos, e a França proíbem a prática do MMA. No Canadá, a associação médica quer banir essa luta.
Profissionais e praticantes de artes marciais de confederações de caratê, judô, tae-kwon-do e capoeira não acham que MMA seja esporte nem uma mistura de artes marciais, cujas principais características são o desenvolvimento espiritual, filosófico, físico e técnico do praticante –disciplina, auto controle, autodefesa e a não agressão.
O MMA não mostra outra mensagem que não seja agressão e violência. Não raro, são lesões graves e gravíssimas, fraturas de braço, pernas e coluna. Tetraplégicos. Mortes.
Mesmo nas artes marciais de competição, como o tae-kwon-do, os atletas fazem simulações de golpes, usam protetores, tecnologia para registrar os golpes. Pontuam sem necessidade de atingir o adversário.
No MMA, a lesão é real, a agressão é o objetivo, a brutalidade impera. A violência é real, o sangue é real. Aliás, o “sangue é o suor do MMA”, dizem seus defensores.
O projeto de lei que apresentei em 2009 não proíbe o MMA no Brasil, como nos países citados. Nossa preocupação principal é com a influência que causa em nossas crianças e adolescentes por causa de transmissões de TV, uma concessão pública de comunicação de massas.
Por isso, buscamos impedir que a TV transmita lutas de MMA . Apesar de muito lucrativas para alguns poucos, são violentíssimas, desumanas e despertam os piores instintos do homem em muitos.
Será o MMA o tipo de atividade que queremos para formar, educar, qualificar, graduar ou promover os valores esportivos ou civilizatórios do cidadãos e cidadãs brasileiros?
O MMA não é esporte. A violência é um produto comercial. É barata e dá lucro.
JOSÉ MENTOR, 65, advogado, é deputado federal pelo PT de São Paulo (texto publicano no jornal Folha de S. Paulo em 5/10/13)