*Elvino Bohn Gass –
Antes de analisar a fala da Presidenta, é oportuno lembrar que a mulher que foi ao rádio e à TV no dia 8 de março é Dilma Rousseff, uma sobrevivente da ditadura; mulher que levou choques e teve dentes arrancados porque defendia justamente o direito de as pessoas se manifestarem livremente. Então, importam menos os ruídos produzidos em bairros ricos a que alguns chamaram exageradamente de panelaço. Ora, panelaço que merece atenção é aquele que se fazia quando faltava comida na mesa e este, definitivamente, não é o caso da imensa maioria do povo brasileiro e, muito menos, dos privilegiados do Morumbi e da Bela Vista. Cito estes dois bairros, que sabidamente são os locais onde moram os endinheirados em São Paulo e Porto Alegre e, não por acaso, foi onde se registraram alguns ruídos.
Sobre o que importa, a fala de Dilma, destaco o fato de ela ter lembrado que a crise financeira mundial começou em 2008 e só seis anos depois é que alguns de seus efeitos estão sendo sentidos pela população brasileira. Isto tem explicação: nosso governo, acertadamente, protegeu a renda dos trabalhadores e a economia do país. Como? Com distribuição de renda, com aumentos nos salários, com proteção do emprego, com investimentos em infraestrutura (PAC), com redução de juros.
Corretamente, Dilma mostrou que as dificuldades não são sentidas apenas no Brasil, mas no mundo: “Nos seis primeiros anos da crise, crescemos 19,9%, enquanto a economia dos países da zona do Euro, caiu 1,7%.” E o que é mais importante e, por vezes, não reconhecido por parte da população brasileira: “enquanto nos outros países havia demissões em massa, nós aqui preservamos e aumentamos o emprego e o salário.”
E, para tristeza da turma do quanto pior melhor, na qual incluem-se os partidos de oposição, boa parte da grande mídia e das classes altas, “pela primeira vez na história, o Brasil ao enfrentar uma crise econômica internacional não sofreu uma quebra financeira e cambial.”
Pessoalmente, creio que a presidenta poderia ter ido um tantinho mais longe no que tange à corrupção, até porque ela, efetivamente, a está combatendo. Mas mesmo assim, deve-se ressaltar sua fala neste aspecto: “Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras.”
Ainda refletia sobre a fala de Dilma quando ouvi uma entrevista do humorista Marcelo Adnet, que comanda o programa “Tá no Ar” da Rede Globo. Marcelo, que disse não ter feito nenhum panelaço durante a fala de Dilma porque considera que é preciso ter muito cuidado já que a eleição presidencial aconteceu há apenas alguns meses, produziu uma boa síntese desse momento. “Reclamar virou uma mania nacional. As pessoas reclamam, mas não apresentam soluções. Se Ricardo Teixeira é ruim e a gente acha que tem que tirar ele da CBF, quem é bom?
Eu me sirvo da fala do artista para dizer, finalmente: Dilma merece respeito e crédito. Por sua história e pelo grande esforço que tem feito como governante, para que o povo trabalhador sinta o menos possível os efeitos da crise financeira mundial. Sua manifestação pode não ter agradado todo mundo, mas foi honesta e séria, mostrando que o Brasil tem sim, governo. E um governo bem diferente daqueles dos anos 90 que, diante de crises muito, mas muito menores, permitiram que o país quebrasse três vezes.
Pois é , minha gente, com Dilma o Brasil não quebrou. E nem vai quebrar.
*Deputado Federal PT/RS – Secretário Nacional Agrário do PT