O pronunciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 7 de setembro, mostrou uma radiografia completa do Brasil e escancarou a necessidade de um amplo acordo nacional, em torno de um novo contrato social, para a superação do descalabro em curso implementado pelo governo Jair Bolsonaro.
O atual governo aprofunda o modelo de destruição de direitos e conquistas civilizatórias nos campos social, trabalhista, econômico e ambiental iniciado com o golpe de 2016. Antes que seja tarde, é preciso vislumbrarmos soluções de curto prazo para a reconstrução nacional, com base num modelo consensual e sustentável que garanta o desenvolvimento com justiça social, o combate a desigualdades sociais e regionais, o respeito à democracia, meio ambiente, povos indígenas e minorias, bem como a geração de empregos e renda.
Deboche
O ceticismo paira sobre a sociedade brasileira diante de tanta incompetência, irresponsabilidade e insensibilidade do atual governo. A disparada dos preços dos alimentos da cesta básica- em especial o arroz – evidencia ao povo brasileiro que o governo Bolsonaro é refém da cartilha do neoliberalismo e debocha da população. Não há empatia e preocupação com a vida das pessoas. O descaso de Bolsonaro frente à pandemia de coronavírus é o maior exemplo.
O capitão-presidente, seu ministro da Economia, Paulo Guedes, e outros atores procuram atribuir a crise alimentar à alta do dólar e chegam a dizer que a culpa é do povo por supostamente estar consumindo mais arroz. Mais uma mentira para tentar encobrir a irresponsabilidade do governo, que zerou os estoques reguladores da Conab. Os estoques impedem altas especulativas ou de desequilíbrios de oferta, em benefício dos consumidores.
Estoque regulador
No governo Dilma, antes do golpe de 2016, havia 1680 toneladas de arroz estocadas para serem colocadas no mercado para evitar o aumento de preço. Com Bolsonaro e Paulo Guedes, o estoque regulador foi zerado, já que seguem o mantra de que o mercado resolve tudo. Resolve sim, para seus interesses e fomento à especulação a fim de ampliar o lucro às custas do povo. O governo Bolsonaro está nu, mas uma vez, pois mostra que age prontamente para atender às demandas de mercado e de seus aliados, em detrimento do consumidor.
O Brasil está à deriva, como frisou Lula, mas é possível evitar uma tragédia. Depois de lamentar as mortes causadas pela pandemia de coronavírus, falou sobre a responsabilidade do governo Bolsonaro na tragédia que o país vive, denunciou o desmonte da soberania nacional e do meio ambiente e ainda apontou caminhos para que o Brasil volte a se desenvolver após a pandemia.
Pacto em defesa da vida
Ele lembrou que soberania significa independência, autonomia, liberdade e o contrário disso são dependência, servidão e submissão. “Renunciar à soberania é subordinar o bem-estar e a segurança do nosso povo aos interesses de outros países”, frisou o ex-presidente. Renunciar ao papel do Estado frente aos interesses do mercado- como no caso dos produtos da cesta básica- é também ferir os interesses de toda a população.
O Brasil precisa urgentemente de um novo contrato social no qual a vida seja prioridade. Em pleno século XXI , precisamos resgatar o modelo em que a distribuição de renda se sobreponha ao lucro dos bancos e de especuladores, que o meio ambiente seja colocado acima dos interesses imediatistas de depredadores em busca de lucros que transformam nosso cerrado e florestas da Amazônia em deserto.
Desastre chamado Bolsonaro
Desde 1988, com a Constituição Cidadã, vínhamos caminhando democraticamente para a construção de uma sociedade mais justa. Processo interrompido com o golpe de 2016, promovido com uma combinação de forças antinacionais e antidemocráticas, inclusive com a providencial perseguição política e ideológica contra Lula pela Operação Lava-Jato, sob a batuta do ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. A Lava Jato está exposta e vai para a lata de lixo da história.
O fato é que o grande capital nacional e estrangeiro, indiferente ao destino do Brasil como nação, está sob foco da opinião pública mundial, diante da omissão ou apoio ao desastre chamado Bolsonaro, que colocou o Brasil como pária global. Por isso, o discurso de Lula adquire relevância ao fazer um chamamento aos cidadãos e cidadãs do Brasil, independentemente de cor partidária, política, religiosa ou ideológica, para a retomada de um projeto nacional e que recoloque o Brasil como referência mundial em várias áreas, como na questão ambiental e social.
O Brasil está sendo destruído, ainda há tempo de evitar um desastre maior. Lula mostrou claramente a diferença entre um estadista e um capitão aventureiro eleito com base em fake news e mentiras, cujo discurso pseudo patriótico não passa de uma farsa gigantesca. É possível resgatar os sonhos e reconstruir o Brasil.
José Guimarães é deputado federal (PT-CE) e líder da Minoria na Câmara dos Deputados
Artigo publicado originalmente na Revista Fórum