Por Paulo Pimenta (*)
No dia 12 de maio, completaram-se três anos do afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, vítima de um golpe parlamentar, midiático e judicial. Os golpistas assumiram o poder, abrindo caminho para a implementação de um projeto antinacional, entreguista e voltado para a destruição de direitos do povo brasileiro.
Três anos depois, o País hoje sob as mãos de um presidente de extrema direita, o qual chegou ao cargo graças a uma articulação judicial e política a cargo do ex-juiz Sérgio Moro e seus patrões do grande capital nacional e estrangeiro. O Brasil assiste ao agravamento da crise econômica e a morte da esperança.
É hora de refletir sobre a tragédia que se abateu sobre o Brasil. Dilma não foi retirada por seus erros ou por uma inexistente pedalada fiscal. Foi afastada sem ter cometido um único crime porque os ajustes econômicos que propunha fazer iam colocar a economia brasileira no rumo certo, amparada em projeto inaugurado em 2003 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha como eixo central a soberania nacional e a defesa de uma sociedade justa, solidária e democrática. As forças reacionárias, aquelas que querem o Brasil submisso aos estrangeiros, empurraram o país para uma crise sem precedentes.
Os números não mentem. A taxa média anual de desemprego no Brasil saltou de 11,5% para 12,7% entre 2016 e 2017, e com Bolsonaro, agora, o desemprego já atinge 13,4 milhões de brasileiros, num quadro horripilante de estagnação. O bolso dos brasileiros está cada vez mais vazio. Inexistem políticas para a retomada do crescimento econômico, o consumo das famílias – responsável por 60% do PIB, também cai de forma desastrosa. O cenário é de desesperança, enquanto só aumenta o lucro dos bancos.
Bolsonaro é uma espécie de cavaleiro do apocalipse. Só fala em destruição de tudo o que conquistamos ao longo de vários governos e várias gerações. Fim dos Mais Médicos, ataques ao Bolsa Família, a aniquilação do Minha Casa Minha Vida, os cortes brutais do orçamento das universidades, institutos federais de educação e das escolas do ensino médio e infantil, sucateamento da saúde pública. Liberação de armas para 20 milhões de brasileiros, como se o Brasil estivesse em plena guerra. Esses são alguns dos “feitos” em pouco mais de quatro meses de governo Bolsonaro.
O povo brasileiro não pode se iludir. O golpe foi extremamente articulado, passando pelo impedimento da candidatura de Lula em 2018, depois de condenado à prisão política sem provas por um ex-juiz que abandonou a toga e sem nenhum pudor aderiu à carreira política, assumindo cargo de ministro em um governo que ajudou a eleger.
Foi um grande complô que uniu juízes, procuradores, mídia e governo dos Estados Unidos para atacar a maior liderança popular brasileira. Documentos recentes já mostram que por trás da Lava Jato havia o projeto de entregar as imensas jazidas de petróleo do pré-sal aos estrangeiros (em especial às petroleiras dos EUA) e a destruição de grandes construtoras brasileiras, cuja presença externa incomodava seus concorrentes externos. Era preciso tirar o Brasil de seu protagonismo internacional alcançado com os governos do PT, reenquandrando- como país periférico. Esse foi o grande jogo jogado por Moro e seus lavajateiros.
O governo Bolsonaro é a extensão do de Temer – ambos se inserem num projeto de transformação do Brasil em nova colônia. Esse projeto antinacional prevê a destruição dos direitos trabalhistas, dos direitos sociais assegurados pela Constituição de 1988, a entrega das riquezas nacionais e das empresas estatais lucrativas aos gringos.
O governo Bolsonaro ataca o meio ambiente como se a natureza fosse inimiga central, quer massacrar os povos indígenas e os quilombolas e, para coroar os abissais retrocessos, quer aprovar agora uma reforma da Previdência que significa uma perversa extinção de direitos, a ofensa a diversos princípios constitucionais e a significativa modificação das regras de acesso e dos valores dos benefícios previdenciários.
Trata-se da destruição do modelo da seguridade social concebido na Constituição de 1988, baseado no princípio da solidariedade social e que se pretende substituir por um regime de capitalização em que a aposentadoria fica vinculada à capacidade de poupança individual. Ou seja, os pobres não vão se aposentar mais, sendo jogados na incerteza de uma velhice sem nenhum apoio oficial e solidário.
Depois de uma eleição baseada em mentiras e sem debate de ideias entre os candidatos, Bolsonaro dá continuidade ao golpe e destrói conquistas democráticas do povo brasileiro. O momento é de mobilização da população contra os ataques de Bolsonaro aos direitos de nosso povo. O Brasil tem condições de superar a crise, mas com um modelo econômico que leve em consideração os interesses da maioria da população. Em vez de cortes, como prevê o modelo neoliberal de Bolsonaro e Paulo Guedes, precisamos de investimentos. Os governos do PT já mostraram que o Brasil tem jeito.
(*) Paulo Pimenta é Deputado Federal (PT-RS), líder da Bancada do partido na Câmara dos Deputados
Foto: Gustavo Bezerra