O epsódio da bolinha de papel jogada na cabeça do candidato tucano à Presidência José Serra e a suposta encenação de Serra, após receber um telefonema, ganhou repercursão também na mídia internacional.
O jornal El Clarin, da Argentina, publicou na última sexta-feira (22) matéria intulada “Trapaça cai mal para Serra”.
A reportagem da correspondente Eleonora Gosman cita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ia oferecer solidariedade ao seu opositor José Serra, mas ao ver imagens de matéria exibida pelas TVs Record e SBT, afirmando que Serra foi atingido por uma bolinha de papel e não por um objeto pesando cerca de meio quilo, como os tucanos divulgaram, Lula mudou de ideia.
Leia a seguir a integra da matéria do jornal El clarin:
Trapaça cai mal para Serra
O presidente Lula da Silva se dispunha a levantar o telefone e falar com o candidato opositor José Serra. Ia oferecer sua solidariedade diante da suposta agressão da qual teria sido objeto o ex-governador de São Paulo. Mas as imagens televisadas dos tumultos detiveram o gesto presidencial e o levaram a uma crítica inflamada. “Foi uma farsa, uma mentira descarada”, declarou ontem o chefe de estado brasileiro.
Não lhe faltaram razões para se sentir fraudado. Imagens da TV Record e do canal SBT confirmaram que em meio de uma briga entre militantes da campanha de Dilma e Serra, o postulante foi alcançado por uma bolinha de papel na careca. O tucano sentiu apenas um roçar na cabeça e seguiu sua caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro.
Minutos depois e diante do enfrentamento dos seguidores de ambos os lados, o homem decidiu se instalar numa van, para instantes depois continuar seu contato com a população. Estava bem protegido por seus seguranças.
Vinte minutos depois, o candidato recebeu uma chamada em seu celular. Aí veio a surpresa. O ex-governador fez uma cara de intensa dor e alguém lhe passou um gelo para o suposto hematoma. O show continuou com uma ida ao hospital Samaritano, onde as primeiras declarações dos médicos eram de que o candidato não apresentava lesões externas. E muito menos internas, como mostrou uma tomografia.
Não podia ser de outra forma, já que não se conhecem casos de bolinhas de papel que tenham provocados danos similares ao impacto de uma pedra.
Lula não escondeu sua irritação. “Foi a equipe de publicidade do candidato Serra quem produziu a mentira. O dia de ontem (anteontem) deve ser declarado o dia da farsa.” O Presidente fez estas declarações ao inaugurar um estaleiro no Rio Grande do Sul. Numa comparação futebolística, Lula disse que o opositor Serra atuou como Rojas, goleiro do Chile, em 1990. Numa partida no Maracanã, o jogador fingiu que lhe tinham disparado um foguete e que este havia alcançado seu corpo. Isto aconteceu durante as eliminatórias da Copa do Mundo daquele ano.
Para Lula, o tucano fez exatamente o mesmo. “Primeiro teve a cabeça tocada por uma bolinha de papel que nem chegou a perceber. Depois recebeu uma chamada telefônica que seguramente foi de seu produtor publicitário que lhe avisa que deve se mostrar dolorido por causa do suposto projétil.”. Isto, disse o Presidente brasileiro “é vergonhoso”. Sustentou que seria bom que o candidato “tenha um minuto de senso comum e peça desculpas ao povo brasileiro”.
O médico oncólogo Jacob Kligerman, que o atendeu, disse que o candidato não tinha nenhum tipo de feridas, nem superficiais nem profundas. Serra agradeceu ontem “a preocupação dos brasileiros” com seu estado de saúde.
“Por recomendação médica tive que parar 24 horas”, acrescentou.
Por Eleonora Gosman
São Paulo. Correspondente
El Clarin. Buenos Ayres
