Parlamentares da Bancada do PT repudiaram no plenário da Câmara, nesta quarta-feira (4), o ataque desferido pelo presidente Jair Bolsonaro contra a ex-presidente do Chile e Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Em resposta a uma crítica de Bachelet de que existe um “encolhimento do espaço cívico e democrático” no Brasil com o atual governo, Bolsonaro atacou a memória do pai da ex-presidente do Chile, o brigadeiro Alberto Bachelet, que morreu na prisão em 1974 após ter sido preso e torturado por não ter aceitado o golpe de Augusto Pinochet.
Em uma postagem no Facebook, Bolsonaro disse que Bachelet está “seguindo a linha” do presidente da França, Emmanuel Macron, e que tenta se “intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira” ao falar de direitos humanos no Brasil. Na mesma mensagem, Bolsonaro defendeu a tortura e a morte do pai de Bachelet.
“Diz [referindo-se a Bachelet] ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, escreveu. Bolsonaro faz menção à data do golpe de Estado no Chile que levou Augusto Pinochet ao poder, em 11 de setembro de 1973. Acusado de “traição à pátria”, Alberto Bachelet faleceu em 12 de março de 1974 em decorrência das torturas sofridas no cárcere.
Para o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM) deputado Padre João (PT-MG), a apologia de Bolsonaro à tortura é um absurdo. “Venho expressar meu repúdio a essa fala do presidente Bolsonaro ao elogiar a tortura sofrida por Alberto Bachelet. É uma coisa absurda o que esse presidente vem fazendo, e não é a primeira vez que ele faz apologia à tortura e a torturadores”, criticou.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos Direitos Humanos no governo do PT, disse que a declaração de Bolsonaro demonstra que ele não merece o respeito do Brasil. “Trata-se de uma ignomínia, de palavras abjetas. Não se aceitaria isso de qualquer pessoa, principalmente daquele que está no mais alto cargo do Brasil. Ao atacar a mais alta autoridade dos Direitos da ONU, e uma mulher, Bolsonaro prova que não merece o respeito da nação brasileira”, observou.
Reação do Parlamento
Durante pronunciamento em plenário, o deputado José Guimarães (PT-CE) cobrou do Parlamento uma posição contrária ao ataque de Bolsonaro a Michele Bachelet. Ele informou que vai apresentar ainda hoje uma moção de repúdio pelas palavras ditas por Bolsonaro, para ser apreciada pelo Legislativo.
“É preciso que esta Casa tome uma atitude contra a declaração do presidente Bolsonaro. Essas palavras e gestos precisam ser interditadas. A cada manifestação ele mancha a imagem do Brasil. Não se trata de oposição ou governo, essa Casa não pode silenciar”, ressaltou.
Prejuízo à imagem do Brasil
Além de repudiar o ataque ao pai de Michele Bachelet, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) também observou que a atitude de Bolsonaro abala ainda mais a já arranhada imagem do Brasil no exterior. “Ele está destruindo a nossa diplomacia, que aliás já foi terceirizada para os Estados Unidos”, lembrou.
Leia abaixo outras declarações de deputados petistas em repúdio aos ataques de Bolsonaro:
Valmir Assunção (PT-BA) – “Bolsonaro não sabe distinguir o papel que ele deve ter como presidente da República. Ele disse que vai discursar na ONU, e nós temos que tomar uma posição sobre isso, porque ele vai desmoralizar mais uma vez o Brasil e o povo brasileiro”.
Joseildo Ramos (PT-BA) – “O presidente tripudiou do pai da Bachelet, que foi torturado e morreu após um ano de instalada a ditadura Pinochet. A que ponto chegamos, um presidente colocando isso para a imprensa”.
Rogério Correia (PT-MG) – “Bolsonaro é um horror, pior até do que os mais pessimistas poderiam imaginar. Agora elogiou a tortura e a morte do pai da alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos. Ou seja, com quem ele puder brigar e fazer com que o País desça ladeira abaixo, ele vai brigar. Hoje o Brasil é mal visto em todo o mundo. Se nós não pararmos Bolsonaro, ele vai paralisar o País”.
Célio Moura (PT-TO) – “Estamos atônitos com o comportamento do presidente Bolsonaro. É uma atitude vergonhosa, é triste ver que Bolsonaro não honra o cargo para o qual foi eleito”, disse.
Airton Faleiro (PT-PA) – “Já passou dos limites. Este elemento está levando o Brasil a uma situação insustentável nacional e internacionalmente. O País não pode mais continuar sob o comando de um tipo despreparado e irresponsável como ele”.
Héber Carvalho