Nem descontrole nem leniência. O que impulsionou a inflação em 2012 e se reflete ainda durante este ano foi a alta nos preços dos alimentos “in natura” e a desvalorização cambial. A constatação é do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça-feira (2), ele deixou claro que há muita espuma nas interpretações do mercado e, especialmente, da grande imprensa, sobre a atuação da autoridade monetária no controle e combate à alta de preços e sobre as declarações da presidenta Dilma Rousseff, que embasaram a tese de que o Governo está se omitindo com relação ao controle inflacionário.
Tombini deixou claro que embora o índice de 5,84%, que encerrou o ano passado estivesse acima do centro da meta de 4,5%, estava dentro da margem de tolerância – que conta com um teto de 6,5%. Lembrou ainda que, no acumulado de 12 meses até fevereiro, a inflação de alimentos está em 13,9% e que o IPCA, nesse mesmo período, fecha em 5% quando se tira alimentação.
Ele também apresentou aos senadores o último Relatório de Inflação que decompõe a taxa de inflação em 2012. Os dados revelam que 12,5% da inflação do ano passado foram consequência do choque de oferta e 10,2% do repasse cambial. As expectativas foram responsáveis por 8,3% da inflação acumulada de 2012.
“Em nenhum momento a presidenta sugeriu qualquer tolerância em relação à inflação e, no que cabe ao Banco Central, não há qualquer hipótese de que isso seja verdade. Estamos olhando os cenários macroeconômicos para avaliar nossos próximos passos”, enfatizou.
Por enquanto, segundo ele, o Brasil tem a tranquilidade de contabilizar os bons resultados de um crescimento consistente, que inclusive assegurou a ampliação do mercado consumidor. “Crescemos com redução da desigualdade”, enfatizou, referindo-se aos dados que apontam o Brasil como o país de economia emergente que mais colheu resultados na redução da desigualdade entre sua população nos últimos dez anos. “Isso é muito importante, porque alargamos nosso mercado doméstico com consequências positivas não só no curto prazo, como principalmente, para o futuro”, disse.
O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), rapidamente compreendeu o que destacou a autoridade monetária e disparou, via twitter: “as metas do Governo são o controle da inflação, os juros baixos e o crescimento”
Atenção constante – Ao contrário da avaliação da oposição de que o Governo deixou de lado o acompanhamento e o controle dos índices de inflação, Tombini assegurou que o Banco Central (BC) está acompanhando as condições da economia para avaliar as ações necessárias ao combate à inflação. Ele acrescentou que “se e quando” achar necessário, o BC irá usar o instrumento de política monetária para fazer a “convergência da inflação se materializar”.
Tombini também falou sobre o agronegócio. Lembrou que o país colherá uma supersafra de grãos este ano, o que será benéfico para a queda da inflação agrícola. Destacou ainda que o Brasil tem apresentado, na última década, uma política fiscal desenhada para colocar a relação dívida líquida/PIB em trajetória declinante.
Também afirmou que, apesar do déficit de US$ 5,1 bilhões na balança comercial brasileira no primeiro trimestre do ano, o governo espera que o país registre, no fechamento de 2013, um superávit comercial da ordem de US$ 15 bilhões. “A perspectiva continua sendo de superávit comercial”, afirmou.
Desemprego – Tombini traçou um quadro favorável para o mercado de trabalho brasileiro. “Olhando pela ótica da demanda, há fatores que sustentam a economia, como ocupação e renda, que continuam em expansão, ainda que com sinais de moderação na margem”, salientou.
Segundo ele, as mudanças estruturais pelas quais o Brasil passou nos últimos anos levam a taxa de desemprego a níveis histórico. “A tendência é de baixo desemprego”, previu.
Na última vez em que Tombini esteve na CAE, no fim do ano passado, ele citou um conjunto de fatores que favoreceria que a inflação voltasse a se deslocar na direção da trajetória da meta ao longo deste ano. Entre eles, o reajuste menor do salário mínimo em 2013 em comparação ao que foi concedido em 2012; a moderação na dinâmica de certos ativos reais e financeiros (em referência ao comportamento do câmbio); as desonerações adotadas pelo Governo com impacto nos índices de preços ao consumidor; e expansão do crédito às pessoas físicas.
Giselle Chassot/ PT no Senado
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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