“Tinha obsessão em resolver o problema da educação”, diz Lula no RS

A cidade de Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, recebeu a terceira parada de Lula pelo Brasil pela região sul do Brasil da quinta-feira (22). Durante a manhã o ex-presidente já havia passado por São Miguel das Missões e depois por Cruz Alta e Panambi.

Também participou do ato a presidenta eleita Dilma Rousseff, o ex-ministro Miguel Rossetto, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra e o líder do MST, João Pedro Stédile.

Brincando que não gostaria de chamar o povo de “palmeirenses” por torcer para o Corinthians, Lula explicou como fez a economia do País crescer incluindo o pobre, além de investir em educação. O ex-presidente ainda desafiou seus opositores a tentarem derrotá-lo nas urnas, ao invés de utilizar manobras jurídicas sem fundamento.

“Eu não seria nada se não fosse o crescimento da consciência política do povo brasileiro, do pequeno agricultor, do trabalhador, que acreditaram que suas vidas começariam a mudar se elegessem um igual a eles para governar esse País, disse Lula ao povo de Palmeira das Missões.

“No começo, eu entendia porque as pessoas não votavam em mim. No começo, eu ia em porta de fábrica e as pessoas pensavam que se eu não tinha estudado, e como elas também não tinham estudado e não se sentiam preparadas para governar o País, não queriam votar em mim”, relembrou.

“Eles tinham medo de votar em um cara que consideravam ignorante, afinal, a literatura dizia que, para ser governo, tinha que ser da elite, tinha que ser letrado. Eu perdi três eleições e já chegava em casa com vergonha da Marisa, falava que não ia concorrer mais, e a Marisa falava ‘nada disso’, pode se preparar que na outra você vai outra vez, até ganhar.”

Segundo Lula, “a diferença entre um de nós e um cara da elite é que tudo que ele sabe é por literatura, tudo que aprendeu foi na universidade. Agora, a vivência de conviver com uma pessoa pobre, de tomar uma cervejinha, ele nunca fez. Ele não tem sentimento pra entender as pessoas”.

“Então, eu pensava que, para mudar esse País, a gente tinha que incluir o povo pobre na economia. Por isso, começamos a criar emprego e, em 12 anos, enquanto o mundo desempregou 100 milhões de trabalhadores, no Brasil criamos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada.”

Lula lembrou que o Brasil foi um fenômeno mundial. “As pessoas não entendiam porque a gente criava tanto emprego, e eu respondia que nós incluímos o povo pobre no orçamento da União. A gente começou além do emprego, a aumentar salário, aumentar salário mínimo, dar crédito. Criamos o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) para ajudar o pequeno produtor a vender. Percebemos que a economia começou a crescer e as pessoas começaram a melhorar.”

“Aí o povo começou a comprar uma televisão, um computador, um sapato melhor, material escolar melhor, roupa de melhor qualidade, a comer melhor, as pessoas deixaram de comer pé de frango e pescoço e passaram a comer coxa e peito. Deixaram de comer carne de terceira e passaram a comer carne de primeira”.

“A economia foi crescendo até que chegamos em 2010 com o PIB crescendo 7%. O resultado dessa política é que as pessoas que ganham bem não dão importância, mas eu tenho o testemunho de uma mulher que criava dois netos e essa mulher era obrigada a comprar um único lápis para que cada netinho fosse para a escola com metade de um lápis. Depois do Bolsa Família, comprava uma caixa de lápis para cada neto não passar vergonha.”

Lula afirmou que, com o PT, as pessoas as pessoas começaram a perceber que era possível mudar de vida. “Esse País começou a crescer, era mais emprego, mais salário, mais renda, mais poder aquisitivo, mais consumo.”

“Quando cheguei à Presidência, a indústria automobilística vendia 1 milhão e 700 mil carros por ano. Quando deixamos, em 2010, a indústria automobilística vendia 4 milhões por ano e isso começou a irritar os mais ricos. Reclamavam que eu estava fazendo o pobre ter carro e eu ficava feliz da vida. No Nordeste, o pessoal começou a aposentar o jumento e comprar motoca”, disse.

Lula relembrou os esforços que levaram ao descobrimento do pré-sal. “O pré-sal é obra de investimento, de pesquisa. A gente descobriu a maior reserva de petróleo do século 21 e dizíamos que o pré-sal seria o passaporte do futuro, para investir em educação, ciência e tecnologia.”

“Eu tinha uma obsessão em como a gente ia resolver o problema da educação, como colocar uma pessoa da periferia, de escola pública, para estudar. O filho do trabalhador não tinha como competir com o filho da classe média, porque no vestibular para universidade pública, quem passava era o filho do rico. Aí tinha que ir na escola particular e a mensalidade era cara e a pessoa mais humilde não podia estudar.”

“Resolvemos criar o Prouni. O milagre do Prouni foi isentar as dívidas das universidades particulares e transformamos as dívidas em bolsas de estudo e começamos a colocar as pessoas da periferia na universidade privada. Era filha de pedreiro, de pequeno vendedor. As pessoas começaram a ter acesso.”

“Na hora que você dá a mesma oportunidade, quando a pessoa toma café, almoça e janta todos dias, não tem rico melhor que pobre. O que a gente vai perceber é que há pessoas mais motivadas ou menos motivadas. As pessoas mais humildes agarraram aquilo como a tábua de salvação. O meu maior prazer é viajar o Brasil e encontrar as pessoas falando que são diplomadas pelo Prouni.”

“Ainda faltava uma coisa, porque havia muitos alunos e poucas vagas. Quando uma aluna de classe média baixa ia na Caixa Econômica, precisava de avalista. Eu decidi com o Fernando Haddad [ex-ministro da Educação] que o avalista do povo pobre seria o tesouro nacional.”

“O Brasil tem dívida ativa de mais de R$ 1 trilhão, de pessoas que pegaram dinheiro e não pagaram, e não era pessoa pequena. Se a gente pode financiar um industrial, por que a gente não pode financiar um jovem que quer estudar? Quando a gente investe em estudante a gente está investindo no avanço tecnológico e no futuro do País.”

Lula destacou a importância da educação para que o País um dia possa deixar de ser exportador de commodities como minério de ferro e soja e passar a exportar conhecimento e produtos manufaturados.

“Por isso que em 12 anos colocamos 4 milhões de jovens na universidade. Por isso que Dilma e eu, em apenas 12 anos, fizemos 4 vezes mais escolas técnicas que eles fizeram de 1909 a 2003”, orgulha-se.

“Eu quero que os jovens estudem porque quando você tem uma profissão, você arranja emprego em qualquer lugar do Brasil com salário melhor.”

“E a mulher tem que estudar, porque além de ter um emprego e a profissão, tem uma coisa mais sagrada que é a independência da mulher. O motivo da independência da mulher é que uma mulher não pode viver com alguém à custa de um pedaço de pão. Eu estou dizendo a independência de escolher o que querem ser da vida, e que ninguém dê palpite na vida de vocês.”

Dizendo-se animado, Lula afirmou que quer ser candidato. “Eu descobri que tenho 72 anos, e descobri que estou com energia de 30, e descobri que estou com um tesão de 20. Aí, meu caro, eu estou disposto, se o PT me indicar, a ser candidato à Presidência da República, a provar a essas pessoas que estão lá, mostrar como a gente vai recuperar o crescimento econômico desse País, como recuperar a soberania e o crescimento, investindo na produção e não vendendo.”

Referindo-se ao processo judicial do qual é alvo, Lula disse que quer provar sua inocência. “Eu vou durar bastante e a única coisa que eu quero provar é a minha inocência. Sou vítima de uma mentira do jornal ‘O Globo’, de uma mentira da Polícia Federal, de uma acusação mentirosa do Ministério Público, e o Moro preferiu contar outra mentira dizendo que o apartamento era meu e ele sabe que não é.”

“A única coisa que quero é os juízes estudarem o mérito do meu processo e, se e tiver uma única culpa, eu não mereço ser candidato porque eu cometi um crime. Agora, eles estão há 4 anos cutucando a minha vida, invadiram minha casa, na casa do Cabral acharam joia, no Geddel acham mala de dinheiro, eles vão na minha casa, levantaram o colchão de um ex-Presidente da República e não encontraram nada. Deveriam ter vergonha e ter pedido desculpa”.

Lula acenou a intenção de fazer um referendo revogatório sobre a PEC do Fim do Mundo ou chamar uma nova constituinte, porque eles rasgaram a constituição de 1988.

“Se eu disputar e perder, eu acatarei o resultado como acatei em 1989, 1994 e 1998. Agora, se querem evitar que eu seja presidente, não façam uma sacanagem, tenham coragem, vamos disputar na urna para ver na urna quem vai ser o Presidente da República desse País. Eles têm que se preparar porque, se eu for candidato, é pra ganhar as eleições no primeiro turno em 2018.”

“Eu quero ganhar para governar esse País, para esse País ser respeitado e acabar com o complexo de vira-lata. Por isso vou precisar da combatividade dessa região.”

“Companheiros, estejam certos de que o Lula de hoje, embora seja mais velho, está mais animado, faz ginástica, toma vitamina. Se um velho há 12 anos atrás governou bem, imagina um jovem de 72 anos!”

Agência PT

Foto: Ricardo Stuckert

 

 

 

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