Tempestade em copo d’água – Paulo Nogueira Batista Jr.

paulonogueiraEstou passando, neste momento, por uma experiência considerável.

Demiti a minha diretoraalterna, de nacionalidade colombiana, do nosso escritório no FMI. Foi um deus nos acuda. A demitida fez um verdadeiro escândalo. O governo colombiano reagiu mal. Entre várias providências, enviou carta ao FMI, vazada para a imprensa, avisando que o Brasil não fala mais pela Colômbia. Venho apanhando feito boi ladrão na imprensa colombiana e, o que é pior, também na imprensa brasileira.

Estou na China, para reuniões do G20. A cada dia, recebo notícias e boatos sobre o assunto. A última: segundo a Agência Estado, o governo colombiano exige a minha saída do FMI e estaria atuando para que a minha permanência no cargo se torne insustentável, numa espécie de tática de motim.

A desproporção entre o fato e as reações colombianas dá ao episódio um aspecto ao mesmo tempo burlesco e misterioso. A minha intenção era fazer tudo de maneira discreta, sem qualquer publicidade. Tomei os cuidados possíveis. Pedi à Colômbia que indicasse um substituto. Dentro do acordo que rege as relações dos nove países do nosso grupo no FMI, cabe à Colômbia indicar o diretor-alterno.

Hesitei em ocupar o espaço que este jornal me concede para tratar de assunto administrativo, de importância muito relativa. No entanto, o comportamento da Colômbia confere ao caso uma dimensão inusitada. Sinto-me obrigado a dar ao leitor brasileiro algumas explicações e retificar informações equivocadas publicadas nas semanas recentes.

Primeiro, não houve qualquer irregularidade.

A nomeação e demissão do diretoralterno é atribuição exclusiva do diretor-executivo, garantida pelos estatutos do FMI. Pelo acordo entre os nove países do grupo, a Colômbia indica o diretor-alterno. Não tem o direito, entretanto, de insistir que a posição seja ocupada por determinada pessoa.

Tomei a decisão por razões estritamente profissionais e técnicas. A funcionária demitida não possuía, no meu entender, as qualificações necessárias para o cargo. Alem disso, não se destacava pela lealdade nem pelo respeito à hierarquia. Trabalhava sistematicamente para obstruir a relação entre o diretor brasileiro e Bogotá. Depois de algum tempo, perdi a confiança na minha substituta eventual. A decisão não foi de natureza ideológica ou politica.

Não há divergências importantes, em temas substantivos, entre o Brasil e a Colômbia no FMI.

Antes de tomar a decisão, tive inúmeras conversas com a funcionária colombiana, tentando persuadi-la a melhorar seu desempenho e comportamento.

Não adiantou. O problema foi crescendo. A comunicação com Bogotá tornava-se cada vez mais difícil.

No final de 2009, enviei correspondências ao governo colombiano relatando os problemas com a diretora-alterna.

Não recebi resposta.

No início deste ano, tentei viajar a Bogotá para explicar o problema. A minha visita, por incrível que pareça, foi recusada. Diante disso, resolvi afastar a diretora-alterna. Ao mesmo tempo, enviei nova carta ao governo colombiano, explicando e documentando a insuficiência do seu trabalho.

A demissão teve que ser implementada em prazo curto. Não era saudável que continuasse no escritório, já demitida, mas na condição de minha substituta eventual e com plenos poderes para atuar na minha ausência, uma pessoa em que eu perdera completamente a confiança. Diferentemente do que foi publicado, tudo foi feito com cortesia e respeito.

A Colômbia tem quadros qualificados, que poderiam exercer o cargo de diretor-alterno com proveito para os países do nosso grupo. Estava disposto a entrevistar candidato ou candidatos que Bogotá quisesse indicar.

Agora, tudo ficou mais difícil. A Colômbia se recusa, por enquanto, a indicar alguém para a posição. Faz grande barulho na imprensa. Desautorizou o diretor brasileiro em carta ao FMI. Segundo reportagem publicada por este jornal, a demitida ameaça o Brasil com a saída da Colômbia do nosso grupo e exige, também, um pedido de desculpas do governo brasileiro… Tempestade em copo d’água.

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal.
O GLOBO- EDIÇÃO DO DIA 3-4-2010

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