O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) admitiu ontem (7), em depoimento ao juiz Sérgio Moro, a participação de Michel Temer nas indicações dos principais cargos da Petrobras. O ex-presidente da Câmara afirmou que Temer participou de reunião, em 2007, para discutir indicações para diretorias da petroleira. O depoimento Cunha desmente o presidente golpista Michel Temer que depôs, por escrito a Moro, como sua testemunha de defesa. No documento, Temer declarou que “não houve essa reunião”, citada na denúncia da força-tarefa da Lava Jato contra Eduardo Cunha.
Mas Eduardo Cunha foi categórico no depoimento: “Ele (Temer) participou sim da reunião e foi ele que comunicou a todos nós o que tinha acontecido na reunião, porque não era só o cargo da Petrobrás, eram outras várias discussões que aconteciam no PMDB” assegurou. E acrescentou: “Fui comunicado (sobre a reunião), tanto eu como Fernando Diniz (lobista da Petrobras, já morto), na época, pelo próprio Michel Temer e pelo Henrique Alves (ex-ministro e aliado muito próximo de Temer). O Temer esteve nessa reunião junto com Walfrido Mares Guias”, reforçou.
Na avaliação do deputado Leo de Britto (PT-AC), integrante do Conselho de Ética da Câmara, está muito claro que o presidente Temer mentiu em depoimento ao juiz Moro. “Não há dúvida de que Michel Temer negociava cargos na Petrobras e as afirmações de Cunha são um recado para o presidente sobre o que pode acontecer caso não haja movimentação da cúpula do PMDB para livrá-lo da prisão”.
Leo de Britto relembrou uma frase do senador Romero Jucá (PMDB-RR) de que “Cunha é Temer e Temer é Cunha”, dita na época em que se articulou o golpe para retirar a presidenta eleita Dilma Rousseff da Presidência. “Cunha sabe muito de Temer na presidência do PMDB, das armações, dos desvios. Eles atuavam juntos. Agora, às vésperas do Supremo Tribunal Federal julgar um pedido de habeas corpus, Cunha cobra a fatura do golpe que levou Temer ao poder”, afirmou.
O deputado Zé Geraldo (PT-PA), também integrante do Conselho de Ética, disse que Eduardo Cunha demorou muito para confirmar o que todos já sabiam. “Não é bem uma novidade, sabemos que Temer, como presidente do PMDB participou das negociações de cargos para o partido. Mas as afirmações de Cunha são importantes porque fica cada vez mais claro o envolvimento da cúpula do PMDB com a Lava Jato e a participação de Temer nos escândalos de corrupção”.
Apuração – Para o deputado Wadih Damous (PT-RJ), de pessoas como Eduardo Cunha pode se esperar tudo, inclusive que elas falem a verdade. “É obvio que Temer participava das negociações e distribuições de cargos. É crível que Cunha esteja falando a verdade, mas o importante agora é que depoimentos e delações sejam complementados com provas”, enfatizou.
Damous disse que espera que a partir deste depoimento haja investigação e que as apurações deixem de ser seletivas. “As apurações não podem ser restritas ao PT”, reforçou.
Garnero – Além de desmentir Michel Temer, Eduardo Cunha também chamou a atenção para a ligação do atual presidente ilegítimo com o empresário Mário Garnero. Em diversas oportunidades, Garnero promoveu eventos nos Estados Unidos com participação do então vice-presidente Michel Temer. O último evento realizado por Garnero que contou com a participação de Temer ocorreu em Nova York em julho de 2016.
Rede social – O depoimento de Cunha foi comentado na rede social de vários deputados do PT. A maioria destacou que o presidente ilegítimo mentiu em depoimento, por escrito, ao Sérgio Moro e pediu #Fora Temer.
O deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) frisou que “Temer coordenava nomeações na Petrobras” e acrescentou que Cunha declarou que semanalmente ele, Temer e outros coordenadores do PMDB faziam reuniões para “debater e combinar toda a situação política”.
O deputado Afonso Florence (PT-BA) pediu fora Temer e destacou a afirmação de Cunha sobre Temer ter mentindo em relação as nomeações na Petrobras. E deputado Paulo Pimenta (PT-RS) twitou: “Eduardo Cunha abre o bico e entrega Temer!!!”.
Vânia Rodrigues, com agência