Economistas e especialistas em relações internacionais afirmaram nesta segunda-feira (11) que os povos que compõem os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) precisam se unir em uma grande frente internacional de luta contra o avanço do imperialismo e do neoliberalismo no mundo, capitaneado pelos Estados Unidos e seus aliados. A constatação aconteceu durante o seminário “Brics dos Povos”, que reúne dirigentes políticos, de movimentos sociais e populares, intelectuais e acadêmicos, principalmente dos cinco países que compõem o Brics.
O objetivo do encontro foi debater interesses comuns dos povos desses países frente aos desafios econômicos e sociais impostos a estes países e também para firmar posição política frente a 11ª Cúpula dos Brics, que se realiza em Brasília nos próximos dias 13 e 14 de novembro. Nessa primeira parte do seminário dois temas foram debatidos os seguintes temas: “Imperialismo, Geopolítica Internacional, O Papel dos Brics e dos Povos”; e a “Crise Econômica, Social e Ambiental e as Alternativas Populares de Desenvolvimento.
Na abertura do evento, o líder da Bancada do PT, deputado Paulo Pimenta (RS), lembrou que o evento ocorre em meio a uma conjuntura, no Brasil e na América do Sul, de intensa agitação política. Como exemplo ele citou a inconformidade da direita brasileira com a decisão do STF que libertou o ex-presidente Lula, e o recente golpe na Bolívia que forçou a renúncia do presidente reeleito Evo Morales. Ele lembrou que áudios vazados naquele país indicam que o golpe pode ter tido a participação de autoridades do governo Bolsonaro.
Sobre o papel do imperialismo no contexto internacional e o papel dos Brics e dos povos, o representante do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (em inglês: National Union of Metalworkers of South Africa – NUMSA), Mbuso Ngubane, destacou que o modelo capitalista, defendido pelo imperialismo internacional, está destruindo o planeta. Segundo ele, a solução para evitar a catástrofe passa pela unidade mundial da classe trabalhadora.
“Temos que ter uma aliança mundial revolucionária dos trabalhadores que seja a favor de uma nova forma de vida e da preservação ambiental, com um programa que se aplique em todo o mundo. Para isso é preciso ocupar as ruas em cada canto do planeta, para destruirmos o sistema atual, o imperialismo”, afirmou.
O jornalista indiano Prasanth Radhakrishnan, representante da organização Peoples’Dispatch (organização que estuda a mídia em seu País) – explicou que a hegemonia econômica no mundo vem mudando nos últimos dez anos com deslocamento do poder econômico do ocidente para o oriente, principalmente após a crise do capitalismo de 2008, com a China e a Índia ganhando protagonismo nesse campo.
Apesar disso, o jornalista indiano alertou que apesar da decadência o capitalismo ainda tenta se impor pela força do imperialismo. “O que ocorreu na Bolívia é o maior exemplo disso”, explicou.
Importância do Brics
Primeiro vice-presidente do Banco dos Brics, o economista Paulo Nogueira Batista Jr – indicado pela então presidenta Dilma Rousseff – ressaltou que apesar de não ser uma instituição de confronto aberto com o ocidente, o Brics foi criado com o objetivo de dar protagonismo internacional aos países emergentes.
“Era um projeto anti-hegemônico, criado por iniciativa da Rússia e com apoio fundamental do então presidente Lula, que tinha como objetivo aumentar a representatividade de seus membros na governança mundial, como G-20, FMI e Banco Mundial”, ressaltou. Para exemplificar a importância do grupo, Batista Nogueira Jr explicou que dos dez países com maiores extensões territoriais, economias e populações, quatro são membros do Brics.
Já a coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Geopolítica, Integração Regional e Sistema Mundial (GIS/UFRJ), a cientista política Monica Bruckmann, ressaltou que o Brics “é o espaço de reconfiguração da economia, da geopolítica e da tecnologia mundial”. “O Brasil lamentavelmente abandonou este espaço, após a saída do PT do poder”, disse.
Crise econômica, social e ambiental e a alternativas populares de desenvolvimento
O professor Márcio Pochman, do Instituto de Economia da Unicamp, ressaltou que o Brasil já passa por um cenário de pré-crise insurrecional. Porém, ele alertou que as organizações sociais e populares também precisam saber captar o descontentamento popular advindo da crise capitalista.
“Ainda temos uma insatisfação individual generalizada, mas o campo progressista precisa estar preparado para captar a insatisfação coletiva”, disse. Segundo ele, só assim será possível promover mudanças mais profundas na sociedade.
“No levante popular de 2013, por conta aumento no preço das passagens no transporte coletivo em São Paulo, poderíamos ter tributado os mais ricos, por meio do IPTU para financiar o transporte público, uma vez que havia essa demanda. Não soubemos aproveitar essa oportunidade, e acabamos perdendo a massa de inconformado para a direita”, destacou.
O seminário também contou com a participação do economista indiano Biswajit Dhar, do Centre for Economic and Planning (Centro de Economia e Planejamento), da Jawaharlal Nehru University; do jornalista Konstantin Syomin, da Rússia; e da economista Isabela Nogueira, professora do Instituto de Economia da UFRJ. Os deputados federais petistas Patrus Ananias (MG), Frei Anastácio (PB) e Maria do Rosário (RS) também passaram pelo evento.
Além de dirigentes de mais de 60 organizações de movimentos sociais e populares, e de partidos políticos de esquerda, também participaram do seminário representantes do Marrocos, Mauritânia, Congo, Nepal, Estados Unidos e Venezuela.
O seminário “Brics dos Povos” tem entre seus organizadores a Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, a Assembleia Internacional do Povos, o Instituto Transcontinental de Pesquisa Social, e o Capítulo Brasil de Articulação de Movimentos Populares da Alba.
Héber Carvalho