Autoridades governamentais, parlamentares e acadêmicos manifestaram preocupação com o aumento de mais de 200% na incidência de sobrepeso entre crianças de cinco a nove anos, nos últimos 30 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Durante o 1º Seminário Infância Livre de Consumismo realizado nesta quinta-feira (8) pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, foi defendida a criação de um marco regulatório para a publicidade infantil, como acontece em 12 países, entre eles, a Suécia e Noruega.
A Secretaria de Direitos Humanos está atenta ao problema. De acordo com Valéria Rabelo, que representou a ministra Maria do Rosário no debate, o impacto da mídia no comportamento das crianças e adolescentes está presente tanto no consumo de alimentos como na adoção de hábitos não saudáveis, cuja consequência é a violência. “A publicidade desencadeia não só a obesidade infantil, mas também a busca pela saciedade, a erotização precoce, entre outras coisas. A Secretaria está empenhada para contribuir com avanços nesta questão”, afirmou Valéria Rabelo.
A onipresença das mídias e da publicidade como elemento de formação para crianças e adolescentes também foi criticada pela professora e coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inês Vitorino. “Esse tipo de publicidade – de viver sem fronteiras e limites – dificulta o trabalho nas escolas. Ao mesmo tempo, é impossível para os pais sozinhos tratarem de forma adequada a questão (de defesa contra o consumismo)”, advertiu a professora. Ela afirmou ainda que “o incentivo ao consumo como instrumento de diferenciação social acaba implicando na geração de bullying, bem como na padronização de modelos físicos e de comportamento que desconsideram a diversidade humana”.
A representante do Coletivo Infância Livre de Consumismo, Vanessa Anacleto, criticou o enfoque dado pelos meios de comunicação sobre a responsabilidade única dos pais na regulação do consumismo infantil, sem interferência estatal. “Precisamos mudar o foco dessa discussão. A publicidade precisa conversar com os pais. A autorregulamentação do setor não está funcionando e é necessário regulamentação do Estado”, destacou Vanessa Anacleto.
Ivana Figueiredo.