Nova realidade do mercado de trabalho impõe desafios a sindicatos e partidos de esquerda, afirma Pochmann

Foto: Reprodução

O economista e professor universitário Márcio Pochmann aconselhou o movimento sindical e os partidos políticos de esquerda a se aproximarem da nova classe trabalhadora que está surgindo com a ascensão do trabalho por aplicativos, do home-office (trabalho em casa) e da informalidade.

A afirmação aconteceu durante encontro virtual com militantes petistas promovido pelo líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Elvino Bohn Gass (RS), na noite desta quinta-feira (29). O tema central discutido foi “como garantir direitos no novo mundo do trabalho”. Pochmann é pesquisador e ex-presidente da Fundação Perseu Abramo (2012/2020) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA- 2007/2012).

Transformações no mundo do trabalho

Durante sua explanação, Pochmann fez um resgate histórico das transformações no mundo do trabalho, da passagem do predomínio econômico rural para o urbano e da ascensão da produção industrial sobre a produção no campo. Segundo o economista, o Brasil vive atualmente um novo momento de transformação da economia, agora com o fortalecimento do setor de serviços, com destaque para o crescimento vertiginoso do trabalho por aplicativos, reconhecidos por não garantirem nenhum direito trabalhista.

Para o ex-presidente do IPEA e da Fundação Perseu Abramo, para se fortalecerem e garantir direitos, os sindicatos e partidos políticos de esquerda precisam se aproximar da nova classe de trabalhadores para os representarem.
“Temos que construir entidades em que esses trabalhadores se sintam representados, e assim exigir direitos mínimos como salário, direito a férias e a aposentadoria digna. Na nova era da digitalização, muitos também ainda vão realizar o trabalho que era fora de casa em casa. E isso não está sendo considerado pelos sindicatos e partidos políticos. Nossas instituições ainda estão na era passada”, alertou.

Sobre a proximidade com essas novas forças de trabalho, Pochmann ressaltou que até mesmo o discurso deve mudar, trazendo esperança de dias melhores para a classe trabalhadora. “O discurso do dirigente sindical é racional, ele sabe explicar a razão de o trabalhador ter perdido o emprego, por exemplo, mas é preciso oferecer uma palavra de esperança”, comentou.

Novo trabalho de base

Nesse sentido, Pochmann explicou que, por vias diferentes, as igrejas e o crime organizado têm conseguido oferecer algum tipo de esperança a parte da população, principalmente nas periferias, seja com proteção, auxílio financeiro, cesta básica, qualificação profissional ou mesmo disposição para ouvir problemas. Segundo o professor de Economia da Unicamp, isso ocorre principalmente porque tanto as igrejas quanto o crime organizado estão presentes onde a massa trabalhadora vive, na periferia das cidades. “Enquanto isso os partidos políticos e os sindicatos têm suas sedes no centro da cidade”, observou.

Pochmann ressaltou ainda que os sindicatos e partidos políticos de esquerda precisam investir cada vez mais na comunicação digital. Ele frisou que, atualmente, a massa trabalhadora forma sua opinião em bolhas na internet, de acordo com preferências pessoais, dificultando a promoção do debate de ideias. “Muito diferente da classe trabalhadora do passado, que formava opinião na diversidade do ambiente de trabalho”, explicou.

Além do novo trabalho de base, Márcio Pochmann também alertou que para garantir direitos o mundo do trabalho também precisa priorizar a eleição de seus representantes nos parlamentos. “Não existe uma bala de prata que resolva todos os problemas. A questão não é simplesmente técnica, mas de correlação de forças. A representação dos trabalhadores vem perdendo espaço no fazer da política”, explicou.

Representatividade dos Sindicatos

Outro ponto que Marcio Pochmann destacou como dificuldade para a aproximação dos sindicatos da nova classe trabalhadora é a falta do sentimento de pertencimento ao local onde se trabalha ou a uma profissão específica. Segundo ele, essa mudança também dificulta a aproximação dos sindicatos a esses novos trabalhadores.

“O trabalho no passado oferecia o sentimento de pertencimento a uma indústria, empresa ou profissão. Hoje uma pessoa trabalha no Uber durante o dia, faz bico de segurança a noite e no fim de semana ainda vende produtos de embelezamento, trabalhando 70 horas semanais para complementar a renda. Ou seja, não se sente identificado com nada, pensa apenas na sobrevivência”, observou.

Novo modelo de geração e distribuição de renda

Apesar de reconhecer as dificuldades dos sindicatos e dos partidos políticos de se aproximarem dessa nova classe trabalhadora, Márcio Pochmann ressaltou que essas instituições são fundamentais para mudar a realidade do País, cada vez com menos direitos para os trabalhadores.
“Vivemos uma mudança de época, mas essas mudanças oferecem oportunidades históricas”, disse. Segundo Pochmann, entre essas oportunidades que podem oferecer esperança aos novos trabalhadores, e ao restante da população, estão os novos tipos de geração de renda com a economia solidária, além da instituição de uma moeda e crédito social.

O lembrou que já existem experiências exitosas, dentro e fora do Brasil, onde moedas sociais – sem interferência e controle do setor financeiro – foram adotadas exclusivamente para fomentar a economia local e pequenos negócios. Pochmann defendeu que os sindicatos adotem a defesa do pagamento dos trabalhos de cuidados, seja doméstico, de crianças e adolescentes ou mesmo de idosos, com o chamado crédito social.
“Temos que reconhecer o trabalho comunitário como fundamental para a sociedade, associando a hora trabalhada a uma moeda social que pode ser trocada por bens e serviços locais. Precisamos pensar formas de sobrevivência fora do capitalismo, que só traz insatisfação e não tem resposta para garantir direitos a longo prazo”, afirmou.

Héber Carvalho

Assista aqui

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Postagens recentes

CADASTRE-SE PARA RECEBER MAIS INFORMAÇÕES DO PT NA CÂMARA

Veja Também