Sessão solene homenageia terreiro Opó Afonjá e pede fim da intolerância religiosa

Zezeu_EdsonSoleneA pedido do deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA), sessão solene na Câmara marcou nesta segunda-feira o centenário do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá. Na sessão, os palestrantes destacaram que a realidade brasileira hoje aponta para um ambiente no qual os segmentos sociais historicamente discriminados e marginalizados têm espaço de diálogo junto aos poderes públicos no sentido de sensibilizá-los para as demandas de seu cotidiano.

Ao mesmo tempo, afirmaram, é necessário manter o combate à intolerância religiosa e apoiar as comunidades religiosas de matriz africana no Brasil, além de combater toda a forma de perseguição e de intolerância de que essas religiões são vítimas.

Os palestrantes destacaram que a história das religiões de matriz africana já foi alvo de perseguição até por parte do Estado brasileiro. “Aqui há o registro do papel do Ilê Axé Opó Afonjá no sentido de levar ao então Presidente da República Getúlio Vargas uma solicitação de liberdade para o exercício do culto. Isso em 1937. Nós estamos em 2010 e precisamos efetivamente hoje afirmar e consolidar esse espaço das religiões de matriz africana”, defendeu o deputado e ex-ministro da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), Edson Santos (PT-RJ) .

Na presidência inicial da sessão e, em seguida, falando em nome da liderança do PT, ele destacou que o terreiro Ilê Axé Opó Afonjá é um dos mais antigos e respeitados da Bahia. “O terreiro Ilê Axé Opó Afonjá tem exercido, nesses 100 anos de funcionamento, uma liderança espiritual e social baseada na fé nos orixás e no estímulo ao fortalecimento da vida familiar e comunitária”, disse.

O deputado destacou que tanto a fundadora do terreiro, mãe Aninha de Afonjá, como suas sucessoras, mãe Bada de Oxalá, mãe senhora de Oxum, mãe Ondina de Oxalá e mãe Stella de Oxóssi, atual responsável pelo comando da casa, merecem lugar de destaque no processo de afirmação da identidade afro-brasileira. “Uma vez que, pelos padrões de nossa sociedade, as religiões não têm caráter mutuamente exclusivo, muitos adeptos de outras crenças participam de rituais do candomblé.

Estima-se em dezenas de milhões o número de brasileiros que agem dessa forma, costumeira ou eventualmente. Só em Salvador, existem mais de mil terreiros em atividade, segundo registros da Federação Baiana de Cultos Afro-Brasileiros”, afirmou.

Homenagem – O deputado Zezéu Ribeiro destacou que o motivo que o levou a prestar homenagem ao Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá é a importância que tem a cultura afro na formação econômica e cultural brasileira. “A nossa Bahia é o estado brasileiro que mais influência recebeu dessa relação, com especial atenção na música, na culinária e na religião, enfim, no modo de vida de nossa população. É nesse contexto que se insere a influência religiosa e cultural do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, criado oficialmente em Salvador, no ano de 1910, por Mãe Aninha, tornando-se uma importante referência de matriz africana na vida religiosa e social da comunidade baiana”, disse.

“A luta da Mãe Aninha pela afirmação e independência do culto foi da maior importância, tendo conseguido demonstrar a grandeza e a complexidade de uma religião da qual era ela grande representante, numa época cheia de preconceitos e perseguições, acrescentou Zezéu Ribeiro.

Mãe Stela, a yalorixá do Candomblé, tomou posse como yalorixá do llê Axé Opó Afonjá por morte de Mãe Ondina de Oxalá. É a quinta sacerdotisa do Candomblé de São Gonçalo do Retiro, dirigindo o Opó Afonjá desde o dia 11 de junho de 1976.

“Sacerdotisa de vanguarda é respeitada por suas ideias no território nacional e em muitos outros países. Tem proferido palestras e participado de seminários em deferentes partes do Brasil e do mundo. Mulher do seu tempo, moderna e ao mesmo tempo rigorosa na prática e na defesa dos fundamentos da religião, ela tem marcado sua liderança à frente da comunidade Ketu Afonjá, cuidando da preservação do culto, e de forma pioneira, da transmissão por escrito do conhecimento e dos princípios aprendidos com os antepassados e transmitidos oralmente pelos mais velhos, há gerações”, destacou Zezéu Ribeiro.

O deputado ressaltou ainda que o trabalho da Câmara guarda relação com o de Mãe Stela, no que se refere ao fomento da cultura afro-brasileira. “A partir de uma proposta de minha autoria foi possível iniciar um trabalho de mapeamento dos terreiros de Salvador. Diversos municípios e outros estados estão fazendo também o seu inventário, aproveitando o momento especial que vive a cultura brasileira com a adoção de programas e projetos que vêm ao encontro de demandas antigas da nossa sociedade. Nesse sentido, aplaudimos a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que sancionou a lei que cria a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira -Unilab”, disse.

A universidade tem o objetivo de promover atividades de cooperação internacional com os países da África por meio de acordos, convênios e programas de cooperação internacional, além de contribuir para a formação acadêmica de estudantes dos países parceiros.

Além da homenageada Mãe Stela de Oxóssi, matriarca do Terreiro Olê Axé Opó Afonjá, participaram o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, representando o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o secretário de Políticas Públicas para Comunidades Tradicionais, Alessandro Reis, representando o ministro da Secretaria de Políticas Promoção da Igualdade Racial, Elói Ferreira Araújo. Também estiveram presentes o presidente da Sociedade Cruz Santa do Axé Opó Afonjá, José Ribamar Feitosa Daniel, e o deputado estadual Bira Coroa, do PT da Bahia, além de ialorixás e babalorixás.

Em breve discurso, Mãe Stela agradeceu a homenagem e pediu a benção dos orixás. “O sacrifício passado de nossos ancestrais deu resultado. Que cada dia seja de alegria e realizações. Boa sorte para todos”, afirmou.

Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, a sessão solene foi mais um marco de destaque para a promoção da religião de matriz africana e para a defesa da promoção da igualdade. “Uma igualdade plena, cultural, social e religiosa”, defendeu.

Equipe Informes

 

 

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