Em 2003, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo, a Petrobras estava “na UTI”. 10 anos depois, a empresa tinha outra cara. O investimento em pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, saltou de R$ 100 milhões para R$ 1 bilhão por ano. A participação no PIB saiu de 2% para 13%. A indústria naval, estimulada por políticas de obrigatoriedade de conteúdo nacional, saiu de 2 mil para 90 mil empregados.
“Nós reaprendemos a fazer navios e plataformas”, afirma Zé Maria Rangel, presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Mesmo com esses números, a mídia e aqueles que hoje estão no poder venderam a ideia de que o PT havia destruído a empresa. Nada mais falso. Esse discurso colaborou para o golpe de Estado de 2016. Hoje, o atual presidente da empresa Pedro Parente promove um verdadeiro desmonte, com a venda de ativos importantes.
Todo esse processo remonta a descoberta do pré-sal em 2007, e o interesse de multinacionais aqui. “Elas (multinacionais do petróleo) saem pelo mundo afora em busca de novas reservas, e fazem isso ou através de guerras – com outras justificativas, mas o pano de fundo é o petróleo, como no Irã, Iraque, Angola, Síria. Ou fazem como no Brasil, que eles compram alguns deputados e senadores e mudam a lei, sem disparar um tiro”, explica o sindicalista.
Com a recente sanção da lei que retira a obrigatoriedade da Petrobras na exploração do pré-sal, uma das maiores descobertas de petróleo dos últimos tempos ficou à mercê das estrangeiras. A lei é de autoria do senador José Serra (PSDB), hoje ministro das Relações Exteriores. Em 2009, Serra conversou com uma executiva da Chevron, que o pressionava para impedir a aprovação da lei da Partilha.
Veja a entrevista completa com Zé Maria:
O que aconteceu no cenário internacional, após a descoberta do pré-sal?
O pré-sal é descoberto em 2007 e surgem muitas especulações sobre o tamanho da descoberta, até que percebe-se que é uma das maiores descobertas do mundo, com cerca de 300 milhões de barris de petróleo
No momento seguinte, os Estados Unidos reativam a quarta frota deles para ficar patrulhando a costa da América Latina (em 2008). Em 2008, some um HD da empresa Halliburton, que presta serviços à Petrobras. Um HD com informações importantes de todo mapeamento geológico da costa brasileira. E em 2009 tem o episódio relatado pelo Wikileaks em que a chefona da Chevron cobra o José Serra para evitar uma mudança da lei do regime de concessão para o regime de partilha, sancionada por Lula em 2010. Nesta, lei, a Petrobras é operadora única e tem 30% em cada campo. É um movimento a nível mundial que a cada nova descoberta as empresas controladas pelo governo estão se apropriando mais do volume de produção e da quantidade de reservas. As empresas controladas pelo Estado têm em torno de 63% da produção e 75% das reservas de petróleo do mundo. E tem um estudo da Agência Americana de Energia que indica que esses números chegarão a 80% em 2030.
O que sobra é muito pouco para as multinacionais e elas saem o mundo afora em busca de novas reservas, ou através de guerras – dando outras justificativa, mas o pano de fundo é o petróleo – como no Irã, Iraque, Angola, Síria. Ou como no Brasil, que eles compram alguns deputados e senadores e mudam a lei, sem disparar um tiro.
Essa mudança traz para nós prejuízos significativos por a gente estar revertendo os benefícios do petróleo em prol da população.
E qual foi a participação de José Serra nisso?
Eu não tenho a dúvida de que José Serra foi comprado pela Chevron. Afirmamos isso. Inclusive os parlamentares contra a lei do fim da obrigatoriedade tentaram convocar essa mulher para prestar em uma audiência pública durante a discussão do PL 4567 e o requerimento foi derrubado. O pessoal da situação não aceitou. Isso mostrou o comprometimento que o José Serra tem com a Chevron. Mal tomou posse em 2015 e em março já apresentou esse projeto. E na época o PL estabelecia que perdia o direito de exploração e foi depois da luta da FUP e de alguns parlamentares, conseguiu transformar para que a empresa tenha a opção. Então hoje na hora que houver um leilão do pré-sal, ela oferta antes à Petrobras, que terá 30 dias para responder se ela quer ser operadora e ter os 30% e depois vai para outras empresas. Num governo golpista como está aí ela não vai exercer essa opção nunca, na minha visão.
Que acontece hoje com a Petrobras hoje, sob Pedro Parente?
O discurso deles é que eles encontraram uma empresa quebrada, que o PT quebrou a Petrobras. O que é uma grande inverdade. Só que o discurso deles ainda ecoa para algumas pessoas, porque a mídia vem desde 2014 dizendo que o PT quebrou a Petrobras quando é na verdade o contrário. Quando nós chegamos ao governo em 2003, a empresa estava na UTI, a Petrobras estava em um processo de declínio, sem novas descobertas há muito tempo, a Petrobras estava com sua engenharia praticamente quebrada, tinha quadro de 33 mil empregados e a industrial naval que a Petrobras fomentava estava falida, nós desaprendemos a fazer navios e plataformas, ela respondia a 2% do PIB nacional. E investia 100 milhões por ano em Pesquisa e Desenvolvimento. E isso foi revertido. O investimento em Pesquisa e Desenvolvimento saltou para 1 bilhão em 2013. A Petrobras conseguiu reativar sua engenharia, a indústria naval saiu de 2 mil empregados para 90 mil empregados. Nós voltamos a reaprender a fazer navios e plataformas e a corresponder a 13% do PIB nacional. O Pedro Parente fala que a dívida da Petrobras é muito grande. É verdade que a dívida é muito maior do que a maioria das outras operadoras, mas nenhuma tinha uma carteira de operações do tamanho da nossa, com o pré-sal para desenvolver nessa velocidade.
Nós passamos a produzir 1 bilhão de barris de petróleo em apenas 7 anos, coisas que outras empresas demorariam 15 anos. E o que os atuais gestores não dizem e escondem é que a crise no setor de petróleo é uma crise mundial. Ele sai 140 e chegou a bater 27 dólares. Todas as empresas no mundo tiveram que rever seus ativos e realinhar seus projetos. Fizemos um trabalho e apresentamos alternativas para reduzir o endividamento. O Pedro Parente está se desfazendo de ativos importantes. Ele vendeu 90% da transportadora do sudeste. Agora, a transportadora vai cobrar um pedágio e quem vai pagar isso? O consumidor. Então esse é o desmonte, ele quer vender parte da BR Distribuidoria, que vende o produto final (combustíveis). É um desmonte, e nós estamos tentando resistir a isso.
Qual o interesse por trás desse desmonte?
Eles sabem que a Petrobras tem um potencial gigantesco de desenvolver a economia, que ainda é motivo de orgulho para a população. Eles querem desmontar a Petrobras principalmente para carimbar que foi o governo do PT que quebrou a empresa. E essa corrente do Pedro Parente é a mesma que dizia no passado falando que a Petrobras não ia ter tecnologia, que o governo não ia ter capacidade para investir. E obviamente a gente vem demonstrando ao contrário, que é uma empresa capaz.
Como entra a Operação Lava-Jato nisso?
A PriceWaterhouse auditou R$ 6 bilhões desviados da Petrobras. Desses R$ 6 bilhões, os procuradores da Lava-Jato comemoram que recuperaram R$ 600 milhões, que é 10% do que eles dizem que sumiu. Ou eles superestimaram o que sumiu ou eles são incompetentes e não conseguiram recuperar tudo. E com a operação, eles conseguiram quebrar todas as empreiteiras do país. Você não tem uma Odebrecht, Queiroz Galvão, e que com todos os defeitos estavam construindo uma engenharia nacional. Ao invés de fazer acordo de leniência, eles resolveram sucatear e aniquilar a indústria nacional. Estima-se que só na cadeia de petróleo e gás nós tenhamos 700 mil trabalhadores demitidos, causando uma queda de 1,5% no PIB.
A Lava-Jato conseguiu bombardear nossa economia, enfraquecer toda a cadeia de óleo e gás puxada pela Petrobras.
E os Estados Unidos?
A grande atuação dos EUA nesse processo, ele conseguiu desenvolver uma tecnologia de produção do chamado gás de xisto. Ele tem uma previsão de praticamente zerar essa produção a partir de 2024. Se você, como tá tudo levando a crer, é que teremos um leilão em 2017, para produzir em 2014, que é exatamente quando os EUA vão precisar dessa produção novamente.
E Pedro Parente já falou que vai avaliar a participação da Petrobras no pré-sal, da mesma forma que ele já falou que vai construir as plataformas lá fora, gerando conhecimento lá fora. E na lei de partilha, o recurso que vai para União é descontado do valor de produção. E a Petrobras é o que tem o menor valor. Assim, se não for a Petrobras operando, o valor será muito menor.
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