O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) atribuiu nesta quinta-feira (23) ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, o protagonismo de um episódio “inédito, ilegal e absurdo”, sem precedentes até mesmo na Ditadura Militar. Moro submeteu um profissional do jornalismo a uma condução coercitiva e, sob constrangimento, exigiu dele a revelação de suas fontes. O alvo da ação que ocorreu na segunda-feira (21) foi o blogueiro Eduardo Guimarães, acusado de divulgar informações sobre a condução coercitiva do ex-presidente Lula.
O discurso em plenário do deputado ocorreu no mesmo dia em que Moro recuou na decisão de investigar Guimarães, certamente por causa da repercussão negativa que o caso tomou. Várias entidades que representam jornalistas, incluindo a ONG Repórteres sem Fronteiras, criticaram a ação do juiz. O sigilo da fonte e a liberdade de expressão são garantidos pelo art. 5º da Constituição Federal, combinado com o art. 220.
“As ilegalidades são inúmeras, mas o que eu quero aqui alertar é que há nessa operação algo de sinistro. Se eu tivesse que caracterizar a conduta do Juiz Sérgio Moro, diria que ela é de um ladino. O que é um ladino? É aquele indivíduo que se acha muito esperto e age de uma maneira perversa. Eduardo Guimarães nunca foi o alvo principal de Sérgio Moro”, ressaltou Pimenta, fazendo referência ao ex-presidente Lula como foco central da Lava Jato.
O deputado argumentou que tanto o juiz como os procuradores que integram a força-tarefa da operação estão diante de uma incógnita, já que se passaram três anos de investigação, sem que haja uma prova que incrimine Lula, existindo apenas “convicções”. “Depois desse tempo, investigando Lula e sua família, vasculhando seus e-mails, suas contas pessoais e seus sigilos telefônicos, não encontram uma prova sequer do envolvimento do presidente nos supostos crimes. Não há nada sobre o tal tríplex, não há nada sobre o tal sítio de Atibaia”.
Em função desse engodo em que juiz e procuradores se meteram, a alternativa – segundo argumentou Paulo Pimenta – foi articular essa ação contra Eduardo Guimarães. “A operação tem, por trás dela, um objetivo escuso: criar uma ideia de que, em função de um vazamento ilegal de uma operação e de uma informação, as supostas provas que poderiam existir foram destruídas, e que, portanto, a tese do Ministério Público Federal, a tese da Justiça, aquilo que os delegados afirmaram não será possível de se realizar, porque as provas foram destruídas. E foram destruídas porque um profissional de comunicação avisou o Instituto Lula que poderia ocorrer uma operação da Polícia Federal”, explicou.
Paulo Pimenta disse não ter dúvida de estar diante de mais um capítulo dessa farsa, para que Moro e procuradores justifiquem que não têm provas para incriminar Lula por causa de um vazamento. Ele lembrou, porém, que vazamentos de informação são episódios característicos da Operação Lava Jata, o que transforma a ação de Moro contra Guimarães num total contrassenso. “Sérgio Moro defendeu, na sua tese de mestrado, baseado na Operação Mãos Limpas, na Itália, de que era necessário, sim, vazar, que o vazamento é parte de uma estratégia de elo com a opinião pública para a investigação que ele conduz”, argumentou.
“Estamos diante de um crime, mais um crime. O mesmo Sérgio Moro que cometeu um crime quando interceptou, de maneira ilegal, a ligação da presidenta da República, o mesmo Sérgio Moro criminoso que entregou para a imprensa, agora quer falar em vazamento de Eduardo Guimarães. Sérgio Moro entregou para a Globo conversas telefônicas da D. Marisa com seus filhos que nada têm a ver com a investigação. Com que autoridade moral Sérgio Moro e Deltan Dallagnol podem falar sobre vazamento de investigações?”, questionou o deputado.
PT na Câmara
Foto: Agência Câmara