Dados preocupantes apresentados durante seminário realizado no município de Propriá (SE) vieram comprovar o que a comunidade ribeirinha há muito tempo vem sentido no seu dia a dia. A realidade do rio São Francisco, principalmente em sua extensão no estado de Sergipe é extremamente grave. Quase 80% da água retirada da sua Bacia é utilizada para irrigação. O Velho Chico realmente está agonizando; 48% da área da sua bacia se encontra desmatada.
Estes foram alguns dos dados apresentados por especialistas que participaram do seminário realizado na sexta-feira (1), no município de Propriá, a partir de requerimento apresentado pelo deputado João Daniel (PT-SE), através da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, juntamente com a Frente Parlamentar Mista de Meio Ambiente, Segurança Alimentar e Comunidades Tradicionais da Assembleia Legislativa, presidida pela deputada estadual Ana Lúcia (PT). Além desses parlamentares, a audiência contou com a participação do presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, deputado Nilto Tatto (PT-SP).
Segundo o deputado João Daniel, o rio São Francisco é uma das questões muito importantes para Sergipe, que é o estado mais prejudicado pela sua atual situação. Ele lembrou que grande parte do abastecimento de água dos municípios do Estado, especialmente Aracaju, vem dele. Para ele, nesse momento, é muito grave a situação desse rio.
“Precisamos discutir de que forma está sendo utilizada a água do rio, precisamos discutir a questão do saneamento das cidades que ainda falta e revitalização do rio e todos os riachos que dão acesso ao rio. Não acreditamos num projeto que faça a revitalização e cuide do rio sem uma presença forte da sociedade civil em geral. Por isso nos reunimos para debater esse tema fundamental e urgente que pode ser resolvido e depende de uma decisão política e entendemos que ela só virá se houver uma cobrança forte e firme da sociedade de Minas Gerais a Sergipe, envolvendo todos os estados por onde o São Francisco passa”.
O deputado Nilto Tatto falou do desafio que é essa situação do São Francisco, que tem sofrido com a seca prolongada em determinados trechos. “O rio São Francisco tem uma peculiaridade que recebe um volume significativo nas cabeceiras e aqui no baixo você tem água e no meio do seu trecho quase não é alimentado do ponto de vista de produção de água e aí começam os conflitos. Tem todo um programa de revitalização, mas está praticamente paralisado”. Ele levantou outro problema que é o fato de que centenas de cidades que estão à margem do rio e não possuem tratamento de esgoto, que vai para dentro do rio. Além do problema da retirada de mata ciliar que tem causado erosão. “Em muitos trechos do rio, há um modelo de agricultura que usa muito agrotóxicos e tudo isso vai para dentro do rio”, alertou.
O superintendente de Recursos Hídricos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Semarh), Ailton Rocha, falou um pouco dos seus 20 anos de estudo nessa área e assegurou que o rio São Francisco está agonizando. Segundo ele, a longa estiagem desde 2010 causou uma redução do seu volume. Resultado disso, ele citou como exemplo a redução na vazão média natural nos reservatórios, a exemplo do de Três Marias, que teve diminuição de 26% da sua vazão média natural, e no de Sobradinho esse percentual chegou a 37%, o equivalente a quase sete vezes o volume útil desse reservatório. O superintendente acrescentou ainda que 48% da bacia do São Francisco se encontra desmatada, principalmente nas áreas de recarga.
O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Maciel Oliveira, ressaltou que o rio São Francisco é responsável por 70% da disponibilidade hídrica do Nordeste, um rio que passa por seis estados e por biomas como a caatinga, o cerrado e a Mata Atlântica e destacou a necessidade de se preservar esses biomas que estão sendo destruídos, especialmente a caatinga. De acordo com ele, a água do Velho Chico vem sendo utilizada para várias atividades, não só a geração de energia e abastecimento humano, e a existência de peixes nele está fortemente atingida. “Estamos exportando nossa água para produzir grãos e deixando nossos povos sem água”, alertou. Segundo ele, 79% da retirada da água da bacia do São Francisco é para irrigação. Apenas 10% para consumo humano e 3% animal e 1% rural.
Assessoria Parlamentar
Fotos: Márcio Garcez