O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (18) que “se o PT quiser” será candidato à Presidência da República, “aconteça o que acontecer”. Nem radical (“Eu não posso ser”), mas também sem ser “Lulinha paz e amor”, como em 2002. “Eu quero provar pra eles que não tem jeito de consertar este País se o povo trabalhador, o povo pobre, não estiver inserido na economia”, afirmou, durante quase uma hora de discurso em evento na Casa de Portugal, bairro da Liberdade, região central de São Paulo. O ato em apoio ao direito de Lula ser candidato, que começou às 20h e terminou perto da meia-noite, reuniu artistas, intelectuais, políticos, inclusive de outras legendas, e representantes de movimentos sociais.
Pouco antes do pronunciamento, o líder dos sem-terra Gilmar Mauro já havia adiantado que no dia 25 – imediatamente após o julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre – “o movimento social em geral e particularmente o MST vai lançar a candidatura Lula, “independentemente do resultado”.
“Eu quero que o PT me indique para a Presidência da República. Se o PT quiser, estarei como candidato à Presidência”, disse Lula a um auditório repleto – a capacidade aproximadamente é de 700 pessoas. Ele disse estar tranquilo, seja qual for o resultado do julgamento. “Eu duvido que os juízes que já me julgaram ou que ainda vão me julgar estejam com a tranquilidade que eu estou. Estou com a tranquilidade dos justos, dos inocentes”, afirmou o ex-presidente. E vai continuar assim, garantiu: “A minha tranquilidade vai infernizar a vida deles”.
O ex-presidente disse que não sabe qual será a decisão no próximo dia 24 e que não pode falar sobre os juízes do TRF4, porque não os conhece. “A única coisa que peço é que leiam a peça de acusação, de defesa, veja o que as testemunhas falaram e condenem ou absolvam. O que não posso é ser condenado por um crime que não cometi.” Mesmo condenado, ele disse continuará “andando por este país”.
Anestesia – Lula disse que inicialmente suas palestras começaram a ser criminalizadas, depois algumas de suas políticas de Estado, como a de relações internacionais, até se iniciar uma ofensiva contra o PT, “como fizeram com o Partido Comunista em determinando momento histórico”. Segundo ele, disseram que o país estava “doente” e que o PT era a “doença” e, assim, anestesiaram a sociedade, que só estaria começando a acordar agora, após o “desmonte das conquistas trabalhistas” e com a resistência contra a “reforma” da Previdência.
Sobre seu processo, ele criticou integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato e chamou o inquérito de mentiroso. “O Moro sabia que não tinha crime, mas o Moro, o MP (Ministério Público) e a PF (Polícia Federal) estavam com o rabo preso com a mídia e não podiam mais desdizer”, afirmou Lula. “A Globo já falou 30 horas no Jornal Nacional do meu triplex”, acrescentou, enfatizando a última palavra. “Como é que vai falar agora que eu não tenho triplex?”
Ainda sobre a Lava Jato, ele ironizou o fato de a operação, segundo se noticia, ter garantido a devolução de R$ 1,4 bilhão à Petrobras. “Pedro Parente (atual presidente da companhia) devolveu aos americanos quase 10 bilhões, antecipando uma decisão judicial de primeira instância nos Estados Unidos.” Por essa razão, emendou, “o que está em jogo é uma coisa mais forte que o Lula, é uma coisa chamada soberania nacional”.
“Agora estou descobrindo, como disse o professor (Demerval Saviani, um dos presentes ao ato), a diferença entre a democracia formal e a que nós queremos”, disse o ex-presidente, para quem a expressão “iguais perante a lei” tem grande conteúdo, mas nenhuma praticidade, em um país que viola direitos de mulheres, negros, índios, pobres.
Para ele, o Estado democrático precisa investir, particularmente em educação. “O papel do Estado é garantir o que está escrito na Constituição. O pré-sal não foi descoberto por sorte, mas por investimento em pesquisa.”
Lula disse sempre ter defendido um Ministério Público forte. E que aqueles que roubam devem ir para a cadeia. “Eles sabem que eu penso assim.” E a reafirmou sua inocência. “Nunca poria vocês (dirigindo-se ao público) nessa luta se eu estivesse escondendo alguma coisa de vocês.”
Vários ex-ministros de Lula participaram do ato, como Celso Amorim, Luiz Dulci, Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha, Fernando Haddad, Eleonora Menicucci e Paulo Vannuchi, além de Luiz Marinho, atual presidente estadual do PT. Também estiveram no local representantes de movimentos social e sindical, como o presidente da CUT, Vagner Freitas. Artistas de diferentes estilos e áreas de atuação também subiram ao palco.
Rede Brasil Atual