Em entrevista ao programa GPS Internacional, do portal Sputnik News e da rádio M24, de Montevidéu, nesta sexta-feira (11), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães criticou a orientação da política externa do governo Bolsonaro. Guimarães, que foi secretário-executivo do Itamaraty durante o governo Lula, se mostrou preocupado com a influência religiosa sobre a condução do ministério das Relações Exteriores do Brasil.
“Houve uma mudança importante durante o governo de Michel Temer, mas agora estamos diante de novos conceitos como ‘globalismo’, que é algo que ninguém definiu bem. Parece ser uma conspiração envolvendo George Soros e ONGs e parte de um esquema global de imposição”, disse o diplomata.
“O que se pretende com isso não é muito claro. Toda política de acordos bilaterais e a recusa do multilateralismo mostram que as iniciativas da política externa brasileira estão muito próximas, senão iguais às iniciativas da política externa norte-americana”, observou Guimarães, que também abordou a proposta de mudança da embaixada do Brasil em Israel.
“Esta questão de [transferência da embaixada em Israel para] Jerusalém é muito interessante porque eles acreditam que seria um passo para o ‘juízo final’. Há declarações no Brasil dos líderes de que isso é muito importante porque seria um passo em direção a batalha final entre o bem e o mal, o Armagedom. São novos conceitos”, advertiu o embaixador, mencionando o episódio da Bíblia, no livro Apocalipse, que fala em uma batalha decisiva dos exércitos de Deus contra os exércitos do “mal”.
Pinheiro Guimarães também foi irônico ao se referir à fonte de inspiração de Bolsonaro e seus comandados. “Temos que ler Olavo de Carvalho, ideólogo de Bolsonaro, de sua família, do ministro das Relações Exteriores e da Educação. É uma iniciativa inédita na história do Brasil e do mundo, basear a política externa em conceitos religiosos. Israel e Irã baseiam sua política externa em conceitos religiosos “, ilustrou.
Mercosul
Na opinião do embaixador, é “muito difícil” o Brasil deixar o Mercosul porque “uma das características da situação que há no Brasil é a ignorância, que não é sinônimo de estupidez, mas sim não conhecer os problemas. Quando se diz que o Mercosul prejudica o Brasil não sabem que a maior parte das exportações brasileiras vai para o Mercosul, especificamente para a Argentina, com qual há um acordo das grandes companhias produtoras de automóveis”, argumentou Guimarães.
Sputniknews