Rui Falcão deixa legado de luta na presidência do PT

 

No comando do Partido dos Trabalhadores, maior partido de esquerda da América Latina, o jornalista, ex-deputado estadual de São Paulo, Rui Falcão, deixa a presidência do PT no próximo fim de semana, quando uma nova direção será eleita no 6º Congresso Nacional do partido que ocorrerá em Brasília dias 1, 2 e 3 de junho.

Em entrevista ao PT na Câmara, Falcão relata como foi presidir o PT por mais de seis anos. Ele aborda o cenário de turbulência política, retrocessos e insatisfação com o governo ilegítimo e usurpador de Michel Temer. No decorrer da entrevista, se emociona ao lembrar sua trajetória e seu futuro político. “Vou continuar militante. Quero participar da campanha do presidente Lula e dar minha contribuição de outra maneira ao nosso partido do qual eu muito me orgulho de ter sido presidente por três vezes e, acima de tudo, de ser militante do Partido dos Trabalhadores e das trabalhadoras”, disse emocionado.

Por BENILDES RODRIGUES

PT Na Câmara – O senhor está à frente do PT há mais de seis anos. Nesse período, o senhor passou por momentos políticos diferenciados. Como foi esta experiência?

Rui Falcão – Eu saio do PT agora, num momento muito importante para nós, em que setores populares começam a sair às ruas, a se manifestar mais claramente pedindo diretas já. Essa é a confirmação de que o golpe não ia se afirmar, que ninguém concorda com essas reformas antipopulares, antinacionais e, por isso, o PT e o conjunto dos partidos estão se manifestando neste momento por diretas já, contra as reformas impopulares. Esse é o final do meu mandato.

PT Na Câmara – E o início dessa gestão…

Rui Falcão – O começo foi muito difícil. Primeiro porque eu tive que substituir às pressas o saudoso companheiro José Eduardo Dutra que, por razões de saúde, foi obrigado a renunciar. Depois fui reconduzido numa eleição direta, por quase 70% dos filiados do PT. Tivemos a alegria de ver a reeleição da Dilma e o dissabor de conviver com o golpe parlamentar do impeachment. Nesse período, também tivemos que enfrentar aquele bandido do deputado Eduardo Cunha que criou pautas bombas no Congresso e foi um dos principais responsáveis pelo impeachment.

PT Na Câmara – O senhor passou por um período em que o partido foi massacrado…

Rui Falcão – Nesse período, o PT foi alvo de uma campanha como nunca se viu. Uma verdadeira campanha de aniquilamento que começou, na verdade, em 2005 com a ação penal 470, chamada mensalão – que levou para a prisão injustamente companheiros valorosos que nós queremos ver libertos e em plena atividade, que são os casos do Vaccari e do Zé Dirceu.

PT Na Câmara – Esse momento de enfrentamento reaproximou o partido da militância e dos movimentos sociais?

Rui Falcão – O PT nesse período elaborou muitas políticas. Se reaproximou dos movimentos sociais. Ajudamos a criar a Frente Brasil Popular, temos uma boa convivência com a Frente Povo Sem Medo e é reconhecido o papel do PT no combate ao governo usurpador. Por isso mesmo temos visto, apesar de toda a campanha contra o PT, o Lula ser o primeiro colocado em todas as pesquisas de opinião pública para presidência da República e o PT, que na época do impeachment chegou a 12% de popularidade, hoje aparece com 20% de preferência dos brasileiros – maior que a soma de todos os partidos.

PT Na Câmara – Como o PT se prepara para enfrentar a crise institucional com desconstrução de direitos imputados pelo governo ilegítimo?

Rui Falcão – Nós podemos ver, desde o começo, como a Constituição está sendo atropelada, como os direitos fundamentais da pessoa humana estão sendo revogados. Nesse processo, fizemos um material traduzido em quatro línguas sobre a cassada judicial ao ex-presidente Lula. Ali já aparecia, em vários momentos, a denúncia dos mecanismos de exceção que vão se impondo, e nós temos hoje uma Constituição que foi a principal vítima.

PT Na Câmara – A aprovação da Emenda Constitucional 95 consolidou a desconstrução de direitos?

Rui Falcão – Sim. A emenda 95 congela a Constituição por 20 anos. Não vai dar para investir em infraestrutura, saneamento, não vai dar, nesse contexto, para manter os projetos sociais que foram desenvolvidos nos nossos governos. E os direitos fundamentais estão sendo suprimidos pela ação de um judiciário politizado e pela conivência de uma mídia que, na verdade, serve ao interesse do grande capital. A população começa a se dar conta disso.

PT Na Câmara – Ou seja, a máscara que cobre a narrativa de combate à corrupção está caindo?

Rui Falcão – Estamos vendo a bandeira da corrupção sendo utilizada hoje como, no passado, foi utilizada a bandeira de subversão para subverter a democracia, para violar garantias como habeas corpus, como a presunção de inocência. Então, um conjunto de juízes, professores e da própria população começa a se dar conta de que precisamos voltar a ter democracia no país e, para isso, as eleições diretas são a única saída possível neste momento.

PT na Câmara – O senhor se dedicou a este partido, a esta causa. Agora, uma etapa da sua vida está sendo concluída. De que forma o senhor pensou em dar continuidade a esta luta?

Rui Falcão – Desde os 17 anos eu sou militante político. Primeiro, no Partido Comunista Brasileiro, depois na VAR-Palmares, no período de resistência à ditadura militar, que eu participei e fiquei quase três anos no presídio político. Passei a militar no PT e vou continuar militante. Quero participar da campanha do presidente Lula e dar minha contribuição em outra esfera, de outra maneira, ao nosso partido do qual eu muito me orgulho de ter sido presidente por três vezes e, acima de tudo, me orgulho de ser militante do Partido dos Trabalhadores e das trabalhadoras.

 

Benildes Rodrigues

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