A deputada Maria do Rosário (PT-RS), em discurso na tribuna da Câmara, fez um retrospecto da trajetória política de Luiz Inácio Lula da Silva e da reação contrária das elites brasileiras à luta dos trabalhadores e às mudanças implementadas pelos governos do PT. Citou o aparato midiático como instrumento dessa mesma elite, que insiste em manter privilégios e se opõe a qualquer ganho social e econômico da população historicamente desfavorecida.
Rosário, a partir de relatos do próprio Lula, pontuou como foram as primeiras abordagens da mídia ao fazer a cobertura das atividades do então líder sindical, bem como mostrou em que momento essa abordagem ganhou viés contrário. Resgatou que, nos idos de 1970, a mídia fazia uma relevante cobertura midiática do líder que despontava.
“Tratava-o como o operário autêntico, o retirante nordestino, sem ensino superior, que tornou-se líder, mas afirmava que não gostava de política, nem de quem gostava de política. Lula tornou-se alvo desta mesma mídia quando passou a ter consciência de classe, ousou ser mais do que o ser apolítico que esperavam dele”, detalhou.
Essa consciência, segundo Rosário, deu a Lula um entendimento da necessidade de ir além da luta sindical, da luta corporativa, que, em sua compreensão, melhorava a vida das pessoas, mas não mudava o mundo. A deputada citou uma fala de Lula, feita em 1981, durante a Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores, em que ele afirmou que o sindicato era a ferramenta adequada para melhorar as relações entre o capital e o trabalho, mas não o suficiente para prover o que, de fato, era desejado.
“Não queremos apenas melhorar as condições do trabalhador explorado pelo capitalista. Queremos mudar a relação entre capital e trabalho. Queremos que os trabalhadores sejam donos dos meios de produção e dos frutos de seu trabalho. E isso só se consegue com a política. O Partido é a ferramenta que nos permitirá atuar e transformar o poder neste país”, afirmou Lula na convenção. A deputada explicou em seu discurso que a partir daí Lula “tornou-se persona non grata”.
Rosário mostrou que em toda a trajetória política de Lula ele foi alvo de ataques contínuos e constantes, mas que, apesar de todas as manipulações, ele sagrou-se vencedor das eleições presidenciais de 2002. “Restava então a esperança de que o operário duraria pouco, seja metendo os pés pelas mãos, ou deixando para trás seus tempos de defensor dos trabalhadores e trabalhadoras, tornando-se, portanto, parte do sistema, traidor de sua classe, relegado aos porões da história. Mas não foi assim”.
Ao contrário disso, a deputada mostrou que o novo presidente colocou em prática um projeto nacional de desenvolvimento. “Neste País, cada brasileiro passou a comer ao menos três vezes por dia, nos tirando do mapa da fome; a ter empregos; pobres, negros, indígenas, moradores de periferias, a adentrar as universidades; viajar de avião, ao lado daqueles e daquelas que passaram a se ressentir pelo fim do glamour dos aeroportos, do charme da Paris de Danuza Leão e de FHC, com seu apartamento na Avenue Foch, que agora passara a ter que dividi-la com seu porteiro”.
Mesmo com todas as investidas contrárias, Rosário pontuou que Lula não somente se reelegeu, mas conseguiu eleger e reeleger uma sucessora: Dilma Rousseff. “Ao fim e ao cabo, foram três derrotas em eleições presidenciais para Lula, e quatro vitórias, duas dele como candidato, duas dele com Dilma. As elites sabem que Lula é o denominador comum das vitórias populares no Brasil, e decidiram mobilizar seus representantes nas instituições para destruí-lo. Para esses, é chegada a hora de acabar com o seu legado enquanto governante reconhecido por seu povo, e em todo mundo.”
A parlamentar afirmou que mais recentemente estão em curso várias inciativas golpistas: as elites tanto investem em um impeachment sem fundamento jurídico como buscam impedir a candidatura de Lula em 2018. “Cabe a nós, os militantes, os que acreditam e trabalham por mudanças estruturais no país, os trabalhadores e trabalhadoras que ao longo das últimas quatro décadas sonhamos o mesmo sonho que Lula, e construímos um Brasil capaz de iniciar o enfrentamento às injustiças históricas, manter viva a confiança do nosso povo e a liderança essencial de Lula nesse processo”.
PT na Câmara
Foto: Gustavo Bezerra
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