O rompimento de duas barragens de rejeitos de mineração – na quinta-feira (5), no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) – trará consequências irreparáveis à agricultura familiar de toda a região nos próximos anos. O alerta é do deputado Padre João (PT-MG), coordenador da Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional e membro da Frente Parlamentar Mista da Agricultura Familiar. Segundo o deputado, por se tratar de uma lama tóxica, os resíduos acumulados no solo implicarão graves impactos ambientais, com comprometimento dos solos e dos recursos hídricos dos municípios a jusante da barragem.
“Não se trata de um impacto apenas neste momento. Aquelas pessoas perderam casas, entes queridos e objetos. Mas o prejuízo vai muito além de tudo disso. Agora, todas elas contam com a solidariedade da população, mas como ficarão daqui a um ano. É uma situação preocupante, porque, com o tempo, é possível que essa colaboração não exista mais. E de onde essas famílias vão tirar o sustento se a terra não será mais produtiva?”, avaliou Padre João.
O parlamentar disse que ontem mesmo entrou em contato com o secretário de Governo de Minas Gerais, Odair Cunha (PT), que manifestou todo o empenho pessoal do governador Fernando Pimentel (PT) em prestar apoio às vitimas e ao município. Horas depois do ocorrido, equipes da Defesa Civil do estado e de outros órgãos competentes foram enviadas ao local. Quatro helicópteros foram mobilizados para levar até Mariana grupamentos do Batalhão de Emergências Ambientais e Respostas a Desastres (Bemad).
De forma semelhante, o governo federal deu resposta imediata ao acidente. Ainda na quinta-feira, o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, anunciou que, juntamente com técnicos da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, estaria já na manhã desta sexta-feira em Minas Gerais para acompanhar de perto as ações de socorro e assistência às vitimas do rompimento da barragem.
“As unidades do Exército Brasileiro próximas ao local do acidente (São João Del Rei e Belo Horizonte) já estão de sobreaviso para auxiliar na busca de sobreviventes. A Defesa Civil Nacional está em contato permanente com o governo do Estado e, havendo necessidade, os recursos federais serão utilizados”, disse o ministro Occhi em nota. Até a tarde de sexta-feira, 14 pessoas continuavam desaparecidas e cerca de 500 já haviam sido resgatadas. A estimativa é que mil pessoas estejam desabrigadas. Oficialmente, uma morte foi confirmada.
Contaminação – O deputado Padre João reiterou que a maior preocupação neste momento é com a proporção incalculável do acidente, já que a lama chegou a municípios a dezenas de quilômetros de onde ocorreu o rompimento. “O Rio do Carmo, que passa na região de Mariana, segue para Acaiaca, depois Barra Longa, até chegar em Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado”.
A lama e a sujeira já atingiram Barra Longa, distante 60 quilômetros do local da tragédia. O município está inundado e pelo menos três povoados estão isolados. Cerca de 50 casas localizadas na parte mais baixa da cidade foram danificadas depois que o Rio Gualaxo do Sul transbordou.
“Foi uma bomba que construíram em cima de várias comunidades. Há alguns anos, quando era deputado estadual, fiz parte de uma luta em que se discutia as consequências da atividade de mineração. Uma das propostas era criar um fundo para ser usado num momento como esse. De nada adianta, multar a empresa de mineração agora e depois dar anistia. Sempre quem fica no prejuízo é a população”, lamenta o parlamentar.
PT na Câmara com agências
Foto: Corpo de Bombeiros/MG