Retomada de campeonatos de futebol durante a pandemia é criticada em audiência pública na Câmara

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), o jornalista esportivo Juca Kfouri e o presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas, Alex Sandro Gomes, criticaram nesta quarta-feira (19), a retomada dos campeonatos de futebol no País durante a pandemia. O tema foi debatido durante audiência pública da Comissão Externa da Câmara que acompanha as ações de combate ao novo coronavírus. A reunião contou ainda com a presença de outros parlamentares, representantes da CBF e de clubes de futebol, a maioria favorável ao retorno dos jogos.

Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados

Autor do requerimento que viabilizou o debate, o deputado petista ressaltou que a paixão pelo futebol não pode servir de justificativa para naturalizar o contexto atual da Covid-19 no Brasil, que já causou oficialmente mais de 110 mil mortes. Segundo ele, em um país de dimensões continentais como o Brasil é um absurdo a retomada do Campeonato Brasileiro de Futebol, com partidas realizadas em regiões com os mais variados índices de contágio.

“Campeonato nacional significa circulação de aeroportos, deslocamento de estados para estados, além da mobilização de pessoas, não só os jogadores. Estamos falando de preparadores, funcionários dos clubes, jornalistas, de toda a atividade econômica que está em torno do futebol”, explicou.

Como exemplo do cuidado adotado por outros países para a retomada de competições esportivas, jornalistas esportivos citaram o caso das finais da Champions League (Liga dos Campeões da Europa), que estão sendo realizadas em Portugal, país que já controlou a epidemia. Também foram citados os jogos da NBA (liga de basquete profissional norte-americana), que foram concentrados na cidade de Orlando, na Flórida.

Interesses econômicos

Segundo o jornalista esportivo Juca Kfouri, a retomada do Campeonato Brasileiro de Futebol comprova que os interesses econômicos dos clubes estão sendo colocados como prioridade, em detrimento da preocupação com a saúde.

“Nós achamos um absurdo paralisar o futebol no Brasil, quando a Olimpíada, o maior evento esportivo do planeta, foi simplesmente adiado por um ano, com todos os prejuízos que isso significa: os econômicos, os esportivos e os culturais”, comparou.

O presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas, Alex Sandro Gomes, também fez coro às preocupações manifestadas por Juca Kfouri. Segundo ele, além dos atletas, comissões técnicas e demais envolvidos diretamente com o futebol, a retomada do esporte também pode ajudar a disseminar a Covid-19 entre a população.

“Torcedor se aglutina para prestigiar o clube do coração, principalmente em centros periféricos, será que alguém pensou nisso? Temos que levar em consideração que o futebol sem torcedor não é futebol, e futebol em tempos de pandemia não pode trazer alegria. O reflexo, sobretudo na periferia, é enorme”, ressaltou.

Defesa pela retomada dos campeonatos

Em contrapartida, dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e de clubes defenderam o retorno do campeonato. Segundo eles, o protocolo de testes adotados atualmente antes dos jogos é eficaz para evitar a disseminação da Covid-19. O secretário-Geral da CBF, Walter Feldman, reconheceu que houve casos pontuais em que foram detectadas contaminações em uma série de atletas, mas disse que a entidade “agiu com responsabilidade suspendendo os jogos ou decidindo que os planteis disponíveis eram suficientes para a realização da partida”.

Na última quinta-feira (13), a CBF confirmou o adiamento da partida entre CSA e Cuiabá, pela terceira rodada da série B do Campeonato Brasileiro. O motivo, segundo nota oficial da própria CBF, foi que os resultados de testes detectaram que 20 dos 31 jogadores inscritos pelo CSA para a competição estavam infectados pelo novo coronavírus. Já no último domingo (16), o time do Goiás jogou desfalcado contra o time do Palmeiras, em São Paulo. 15 atletas do time testaram positivo para o novo coronavírus e nem chegaram a embarcar para o jogo.

Apesar desse cenário, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, elogiou o protocolo de testes adotados pela CBF para atletas e comissões técnicas. Otimista, o dirigente disse ainda que “é hora de partir para a próxima discussão, que é sobre a volta da torcida aos estádios”, ressaltou. A afirmação foi rebatida pelo jornalista Juca Kfouri.

“Estou participando de uma reunião como se estivéssemos em uma audiência na Finlândia, vendo as coisas serem tratadas como se estivéssemos sendo exemplo, e não o epicentro da Covid-19 na América do Sul. Uma única morte por causa de um jogo de futebol justifica que não haja futebol, isso é uma posição de cuidado com a vida, futebol não é atividade essencial”, esclareceu.

Héber Carvalho com informação da Agência Câmara de Notícias

 

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