Em novembro de 2015, uma delegada federal foi a um hospital em Belo Horizonte para tomar depoimento de Carolina de Oliveira Pimentel, então primeira-dama do estado de Minas Gerais, grávida de oito meses. A conversa, pelo visto, não poderia ficar para depois e à ela foi oferecida a oportunidade de fazer uma delação premiada contra o pai de sua filha, que estava perto de nascer.
Era a Operação Acrônimo, da Polícia Federal, que acusava Fernando Pimentel de chefiar uma quadrilha na época em que foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Todas as fases da investigação contaram com ampla repercussão e inúmeras manchetes de jornais e nos grandes portais. Afinal, as manchetes não destoavam muito de: “Governador petista chefia quadrilha, diz PF.”
Como se sabe, Pimentel perdeu a reeleição em 2018, ano marcado por pela campanha eleitoral mais virulenta da história e onde a desinformação deu o tom. A grande mídia já havia garantido anos antes a munição que foi usada nos disparos de fake news contra o então governador.
Cinco anos depois, no final de julho de 2020, o inquérito aberto foi arquivado pela Justiça Federal a pedido do Ministério Público Federal por… não haver provas contra Fernando Pimentel!
Será que era mesmo preciso tomar o depoimento de uma jovem senhora grávida e no hospital por conta de um inquérito que mesmo cinco anos depois não continha nenhuma prova?
Isso para ficar em apenas um exemplo de abuso que a família Pimentel sofreu durante todo esse período. A grande mídia, movida pelo antipetismo e pela fome por cliques, deu voz ao populismo penal ajudou a parir monstro do fascismo no Brasil. A política, que era a solução enquanto o PT não ganhava eleição, passou a ser o problema a partir do crescimento do partido.
Quem irá pedir desculpas à família Pimentel? A mulher tratada em manchetes como “mulher de Pimentel“ tem nome. É Carolina e ela é uma mãe, uma brasileira, que foi vítima de uma injustiça. Quem irá pedir desculpas à ela?
Tanto o Estadão, quanto o G1, no dia 11 de novembro de 2015, chamaram a atenção em sua manchete de que ela havia se calado durante o depoimento prestado no hospital. Por protesto, choque ou absoluto desconhecimento do que foi perguntado, (afinal de contas, o inquérito acabou mesmo sendo arquivado por falta de provas) o fato de Carolina ter se utilizado de um dispositivo que a Constituição garante causou mais espanto do que o fato dela ter sido vítima de uma verdadeira invasão em um dos momentos mais ternos de sua vida.
Quando o inquérito foi aberto, choviam manchetes sobre o assunto. Agora, com seu arquivamento, ele parece ser digno apenas de notas de rodapé. O assunto agora é o governador do Piauí e sua esposa. Uma nova rodada de operações midiáticas e abusos de autoridade. O alvo segue sendo o PT, mas são também pessoas, que têm família e que têm reputação.Ninguém poderá reparar os danos contra Fernando, Carolina Pimentel, seus filhos e toda sua família e nem podemos voltar no tempo. O que podemos fazer é sempre tirar lições para melhorarmos enquanto país e enquanto sociedade. E isso passa por denunciarmos o punitivismo e a perseguição política, além de lutar contra todas as injustiças, sejam elas contra um menino morador em situação de rua, ou contra um governador e uma primeira-dama.
*Reginaldo Lopes, é deputado federal (PT-MG)
Artigo publicado originalmente na Revista Fórum