Em sua coluna ao jornal O Tempo, o líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes aponta o maior ataque que o instituto sofreu desde sua fundação, há 84 anos.
Personagem principal do teatro de horrores em que se transformou o Brasil, Bolsonaro não deveria nos surpreender mais com seus crimes e idiotices. Mas ele sempre se supera, deixando-nos perplexos e indignados. Ao discursar para uma plateia de empresários em São Paulo, o presidente assumiu não saber o que era Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para em seguida confessar o crime de ter substituído a presidência do órgão e privilegiado o andamento da obra de um amigo empresário.
Desconhecer o Iphan e desmerecê-lo na sua primordial missão de proteger e preservar a cultura brasileira é crime que revela a plena incapacidade de entender a missão desempenhada por essa instituição, que completou 84 anos, com uma folha de serviços prestados ao Brasil e com reconhecimento internacional várias vezes manifestado pela ONU, pela Unesco e por instituições culturais de todo o mundo.
A instituição foi criada por ato de Getúlio Vargas, em 1937, expressando o amplo desejo de modernidade cultural brasileira, adotando proposta elaborada por Mário de Andrade, líder da Semana de Arte Moderna de 1922, a pedido de Gustavo Capanema, então ministro de Estado da Educação.
Integraram o Iphan as maiores expressões da cultura brasileira, como Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Oswald de Andrade, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Augusto Carlos Silva Teles, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, Aloísio Magalhães e, como colaboradores, Gilberto Freyre, Afonso Arinos, Germain Bazin, Sérgio Buarque de Holanda, Hannah Levy, Robert Smith e muitos outros.
Devemos ao Iphan a recuperação, restauração, preservação e proteção de milhares de patrimônios monumentais, bens materiais e imateriais, portadores de história, arte, exemplaridades e singularidades, testemunhos da civilização brasileira ao longo dos cinco séculos e que conformam nossa identidade como nação e povo.
Em toda a sua existência, o Iphan salvou milhares de monumentos e obras de arte e documentos da memória histórica brasileira, pelo tombamento e intervenções de restauração. E hoje sua proteção não se faz somente no patrimônio edificado, mas também na preservação de sítios excepcionais da natureza e do não edificado ou imaterial, nos modos de vida e dos saberes e fazeres humanos que merecem ser documentados, lembrados e preservados.
O Iphan atua na proteção aos entornos de monumentos, na publicação de inventários e na gestão de casas de cultura e museus. Elaborou planos diretores municipais de proteção às cidades históricas e formou milhares de profissionais voltados para a preservação patrimonial, que, hoje, integram os mais respeitados organismos internacionais.
O instituto já sofreu agressões de especuladores imobiliários, da mineração destrutiva e dos que temem a cultura e não veem que a preservação do ambiente urbano melhora e qualifica a vida e os padrões humanistas e civilizatórios.
Mas nada se compara à intervenção criminosa de Bolsonaro. Manter a integridade do Iphan, com direção de padrão técnico compatível com suas funções, é essencial. As agressões e os desvios, como ocorre ao instituto e à cultura brasileira, merecem ser combatidos com todo o rigor.
Reginaldo Lopes é deputado federal e líder do PT na Câmara
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo
https://www.otempo.com.br/politica/reginaldo-lopes/o-iphan-que-bolsonaro-deveria-conhecer-1.2589025