Reginaldo Lopes: Não basta reindustrializar, é preciso uma nova indústria

Líder Reginaldo Lopes. Foto: Gabriel Paiva

Artigo do líder do PT na Câmara, deputado federal Reginaldo Lopes, no jornal O Tempo defende uma economia digital de matriz energética limpa e sustentável

O IBGE acaba de divulgar o resultado da produção industrial brasileira em 2021, medida pela Pesquisa Industrial Mensal. Com alta de 3,9%, foi o primeiro resultado positivo nos três anos do atual governo, mas nada que valha comemoração. A começar pela oscilação decrescente ao longo do ano. Houve ganho acumulado de 13% no primeiro semestre, depois a indústria entrou em viés de baixa. Além disso, os resultados positivos dos primeiros meses são comparativos aos de 2020, ano que registrou intensas perdas no setor.

Nos dois últimos anos, a produção recuou negativamente 0,9%, e, se compararmos a 2011, quando a pesquisa do IBGE registrou seu recorde, o recuo é de -17%. É cada vez menor o papel da indústria na composição do Produto Interno Bruto (PIB). Em 1984, a participação do setor era de 35,9% e atualmente é de apenas 11%. Desde que Bolsonaro tomou posse, o Brasil perde uma média de 17 indústrias por dia.

Não existe uma política de incentivo à indústria brasileira, que sofre com a perda de faturamento, margem, lucro acumulado, que são a base de financiamento do investimento privado no país. A defasagem no setor não é só quantitativa, mas qualitativa. O resto do mundo avança numa modernização industrial baseada em políticas públicas de investimentos.

O presidente estadunidense, Joe Biden, destinou US$ 174 bilhões para mobilidade elétrica dentro de seu programa de infraestrutura. Em janeiro, a Comissão Europeia anunciou um plano de 1 trilhão de euros em projetos de sustentabilidade para efetuar o que chama de “transição verde”, com o objetivo de neutralizar suas emissões de dióxido de carbono.

A retomada do papel da indústria no Brasil tem que se dar em um novo modelo, em que o país tem potencial de ser vanguarda, já que possui as principais commodities. A questão é que elas precisam ser industrializadas para superar o modelo primário exportador que nos persegue desde que os portugueses aqui chegaram.

As exportações de grãos e de minérios, apesar de sustentarem nossa balança comercial, além de não agregarem valor, praticamente não pagam impostos, que são isentos pela famigerada Lei Kandir. Até a estratégica Petrobras, que era referência em novas tecnologias, foi levada a tornar-se exportadora de petróleo bruto e importadora de combustíveis.

O desafio é desenvolver uma nova indústria 4.0, um modelo econômico de baixa produção de carbono. É intensificar a produção tecnológica e o desenvolvimento digital e trilhar o caminho da valorização ambiental e ecológica, o que abre oportunidades num mundo sedento por sustentabilidade.

É prioritária uma nova matriz descentralizada de desenvolvimento econômico, com a valorização do associativismo, do cooperativismo, financiamentos de fábricas e produção de novas tecnologias. Um bom exemplo são as startups, que Belo Horizonte possui aos montes. Criadas pela inteligência e criatividade, na maioria das vezes de jovens, elas conquistam espaço na disputada economia criativa e tecnológica.

O Brasil tem condição de fazer uma nova indústria graças ao seu clima, sua gente, um grande complexo de universidades, inteligência coletiva, que são os pilares para realizar a transição para uma economia digital e matriz energética limpa e sustentável. Resultados positivos na indústria não são esperados apenas em números, mas na sua própria transformação.

Reginaldo Lopes (MG), é líder do PT na Câmara dos Deputados

Artigo publicado originalmente no jornal “O tempo” 

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