O líder do PT na Câmara, deputadoJosé Guimarães (CE), vai tratar com o papa Francisco da reabilitação, pelo Vaticano, de um ícone da religiosidade cearense e de todo o Nordeste, o padre Cícero Romão Batista, falecido há quase 80 anos. O tema será tratado na próxima segunda-feira, 22, durante encontro entre uma comitiva de deputados e o papa, que vem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude. A comitiva é chefiada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
O líder do PT reiterou hoje (19) a importância da reabilitação do Padre Cícero – ou Padim Ciço – para todos os fiéis católicos do Nordeste. “ O encontro com o papa é de extrema importância, vamos expor o papel de Padre Cícero para todos os brasileiros, em especial os nordestinos”, disse Guimarães. Ele lembrou que há uma incontável relação de milagres atribuídos ao padre, cuja reabilitação já é analisada pela Santa Sé.
- Romeiros– O Padre Cícero tem suaviva entre os mais de dois milhões de romeiros que vão anualmente a Juazeiro do Norte, no extremo sul do Ceará, para renovar votos de fé diante daquele que consideram um “padre-santo-milagreiro”. Na opinião do líder do PT, o Brasil tem uma dívida histórica e precisa resgatar a figura de padre Cícero Romão Batista diante da Igreja Católica.
“Ele é uma referência da religiosidade cearense e nordestina e teve um legado umbilicalmente ligado à Igreja, sempre fazendo a opção pelos simples e pelos pobres”, afirmou Guimarães. Para ele, o momento é oportuno para tratar do tema, já que o papa Francisco “é muito vinculado à justiça social, aos mais pobres e está resgatando o papel da Igreja Católica”.
A imagem de Padre Cícero, que recebeu da Santa Sé o título de clérigo insubordinado e foi acusado por ela de ser um herege, mantém-se viva entre milhões de fiéis nordestinos. O pleito é para que seja revista a sentença que o baniu dos seus quadros.
Comunhão– Toda a polêmica com relação a Cícero Romão Batista começou com a ocorrência de um fenômeno inusitado numa sexta-feira da Quaresma, exatamente em 1º de março de 1889. Na manhã daquele dia, a beata Maria de Araújo, ao receber a comunhão das mãos de Padre Cícero, experimentou algo inexplicável: a hóstia, ao tocar sua língua, se verteu em sangue. O fenômeno passou a se repetir com frequência. A notícia se espalhou, atraindo multidões ao povoado do Juazeiro do Norte, que viam naquele fato a comprovação da presença de Deus entre aquele povo sofrido do sertão. A Igreja, que enxergava com ressalvas aqueles episódios, acabou por punir Cícero após vários pedidos para que a situação fosse tratada com cautela.
O Vaticano já dispõe de ampla documentação sobre o caso do Padre Cícero, a fim de redimi-lo da sentença que lhe custou a pena de ser afastado de suas funções clericais. O processo para reabilitação do “Padim Ciço” foi oficialmente repassado ao cardeal Josef William Levado, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 30 de maio de 2006, por uma comitiva que saiu do Ceará com essa missão específica.
Com a recente troca de comando no Vaticano, o italiano dom Fernando Panico – atual bispo da Diocese do Crato, cidade vizinha a Juazeiro do Norte, e responsável pelo processo de reabilitação de Padre Cícero junto ao Vaticano – lamentou o fato de a reabilitação do religioso não ter ocorrido durante o papado de Bento XVI.
Panico afirma que o então papa se mostrava preocupado com a demora do processo e havia lhe prometido durante um encontro em Roma que iria acelerar o julgamento do caso. Segundo o bispo do Crato, foi o próprio Bento XVI – à época, ainda na condição de cardeal Josef Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – que o incentivou a pesquisar e a dar inicio ao processo de reabilitação do Padre Cícero.
Equipe PT na Câmara