Em discurso contundente na tribuna do Congresso Nacional na noite desta quarta-feira (25), o deputado Wadih Lula Damous (PT-RJ) cobrou da procuradora-geral da República, Raquel Dogde, a aplicação das regras de combate à corrupção que ela defende na Procuradoria, nas suas próprias ações. “A senhora vai aos Estados Unidos dar uma palestra de uma hora em Harvard, fica sete dias naquele país e recebe R$ 11.285,00 por essa palestra de uma hora? Como isso é feio”, enfatizou.
O deputado Damous citou ainda que a procuradora Dodge estava acompanhada do seu marido, que na rubrica do Ministério Público Federal apareceu como colaborador eventual. “Ele viajou com a passagem paga com dinheiro público, que foi ressarcido depois que o site BuzzFeed entrou em contato com a Procuradoria-Geral para pedir explicações”.
Wadih Lula Damous disse que fica se perguntando, diante de situações como essa, se aquilo que determinados procuradores e juízes pregam, em nome do combate à corrupção, se aplicam a eles. “A procuradora-geral foi lá nos EUA tratar do de sempre: levar a experiência revolucionária do Brasil no combate à corrupção. Aliás essa febre do combate à corrupção que contaminou o País, não sei se positivamente ou negativamente, pelo sistema de justiça, tornou um mercado lucrativo. Todo mundo sai daqui para fazer palestra sobre o tema com gordíssimas diárias, com gordíssimos patrocínios e, muitas vezes de verbas públicas”, criticou.
Então, continuou Damous, a senhora Raquel Dodge deve explicações ao Brasil acerca dessas diárias que recebeu. “É porque possivelmente seus filhos moram lá nos Estados Unidos, e a senhora precisou ficar lá. Mas isso não deve ser custeado com recursos públicos. A senhora que recebesse a sua diária de um dia e arcasse da sua bolsa com as despesas restantes da sua permanência lá nos Estados Unidos. Aplique para si próprio aquilo que quer dos outros”, cobrou.
Incoerência – Ainda sobre atitudes incoerentes do Ministério Público, Wadih Lula Damous disse que foi alertado hoje por alguns colegas que o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais se disse constrangido em mandar prender o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB), já condenado em segunda instância. Azeredo foi condenado a 20 anos e um mês de reclusão por peculato e lavagem de dinheiro.
“E o presidente Lula está preso lá em Curitiba. Que constrangimento é esse? E mais, sou contra a prisão do Azeredo, porque a Constituição disse que só pode prender depois de transitado em julgado da condenação criminal. Agora por que esse tratamento diferenciado com o presidente Lula?”, questionou.
Wadih Lula Damous encerrou com uma provocação à procuradora-geral: “Se a senhora quer praticar o que prega, diga logo a quantas andam as investigações acerca das denúncias do advogado Tacla Duran, que envolve colegas seus, do Ministério Público federal. Envolve a possibilidade de tráfico de influência na operação Lava Jato. E aí, vocês vão lá fora dizer que o Ministério Público brasileiro, se for o caso, corta na própria carne. Mas parece que não é bem assim procuradora”, concluiu.
Vânia Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PTnaCâmara