A história nos mostra inúmeros líderes que desafiaram seu tempo e, sobretudo, o poder das elites, provocando grandes mudanças sociais, políticas e econômicas em seus países e acabaram perseguidos, presos ou mortos.
Nelson Mandela, líder revolucionário que insurgiu contra o apartheid; para o povo segregado, Madiba era um guerreiro em luta pela liberdade. O governo da África do Sul o considerava um terrorista, uma ameaça à ordem pública
Mandela lutou, foi perseguido e preso por quase 30 anos. Quando deixou a prisão, em 1990, foi reconhecido, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e se tornou o primeiro presidente negro da história de seu país.
No Brasil, historicamente, a defesa das classes menos favorecidas também tem custado caro a seus protagonistas. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram tirados do poder porque eram populares e ameaçavam os interesses políticos das elites nas décadas de 1950 e 1960. Getúlio não suportou a pressão e se suicidou em agosto de 1954. JK foi cassado logo após o golpe de 1964, não porque era corrupto e desviara recursos na construção de Brasília, como se dizia na época. Juscelino foi cassado por ser um mito político, favorito nas eleições presidenciais marcadas para 1965 e suspensas pelo regime militar.
“Sinto uma perfeita correlação entre a minha ação presidencial e a iníqua perseguição que me estão movendo”, afirmou JK, responsável pela largada do desenvolvimento econômico brasileiro, em discurso profético feito em junho de 1964, dias antes de ter o mandato cassado, no início da ditadura.
Se Kubitschek lançou o Plano de Metas, um programa de industrialização e modernização que tinha como base a abertura da economia para o capital estrangeiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cinquenta anos mais tarde, criou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Tal como JK, Lula acelerou o desenvolvimento do país, criou políticas públicas que distribuíram renda e que tiraram cerca de 40 milhões de pessoas da linha da miséria – uma pobreza tão extrema que suas vítimas não dispõem de dinheiro sequer para adquirir uma quantidade mínima de alimentos essenciais à sua sobrevivência.
Quando Lula assumiu a Presidência da República, em 2003, disse: “se eu garantir que todo brasileiro faça três refeições por dia, ficarei feliz”. Só quem já passou fome sabe o valor disso.
As políticas criadas facilitaram o acesso dos pobres à universidade e promoveram – como jamais se fizera – a imagem do país lá fora, onde ele virou “o cara” e o Brasil, uma potência emergente que serviu de exemplo e de inspiração para dezenas de outras nações.
No país de Lula, aeroporto não é mais lugar de rico e as faculdades de medicina não reservam vagas apenas para membros de famílias abastadas. No país de Lula, filha de empregada doméstica vira médica e filho de pedreiro se forma em engenharia.
A realidade brasileira, certamente, deixaria o filósofo Karl Marx – maior crítico da lógica capitalista – alucinado. No entanto, despertou a ira vociferante sob bandeiras de partidos conservadores. Determinados a restabelecer a velha luta de classes, eles transformaram a derrota nas eleições de outubro de 2014 em três obsessões: o impeachment da reeleita Dilma Rousseff, a desconstrução do mito Lula e a extinção do Partido dos Trabalhadores, bombardeado por ataques da grande mídia.
Para promotores do Ministério Público de São Paulo, que confundem os pensadores Engels e Hegel, Lula atentou contra a ordem pública, ao contestar sua condução coercitiva. Por isso e por sua capacidade de mobilização, querem vê-lo preso, tal como nos anos de chumbo. Nem que para isso seja necessário “fixar critérios de plantão” na legislação, como observou o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao avaliar como ilegal a condução coercitiva do ex-presidente.
A oposição conservadora quer desconstruir a imagem daquele que fez grandes transformações na vida de milhões de brasileiros, a alma do partido, a força que emana de um retirante nordestino, metalúrgico, ex-sindicalista, que deixou o sertão de Pernambuco num pau de arara para desafiar o preconceito paulista, subir a rampa do Palácio do Planalto e se sentar à mesa com príncipes, reis e rainhas mundo afora.
Não querem apenas “derreter” Lula e extinguir o Partido dos Trabalhadores. Querem acabar com a esperança e com o orgulho da classe trabalhadora brasileira.
*Ana Perugini é deputada federal pelo PT/SP, integrante das comissões de Educação, Licitações, Minas e Energia e da Crise Hídrica na Câmara dos Deputados. É também coordenadora-geral da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Humanos das Mulheres e responsável pelas frentes parlamentares em Defesa da Implantação do Plano Nacional de Educação (PNE) e de Promoção e Defesa da Criança e do Adolescente no Estado de São Paulo
Assessoria PArlamentar
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