O Produto Interno Bruto brasileiro apresentou queda de 0,1% no último trimestre, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Como no anterior a regressão foi de 0,4%, o país entrou em recessão técnica, termo usado pelos economistas para quando o PIB tem revés por dois períodos consecutivos.
Além disso, o IBGE identificou que a indústria brasileira apresentou um recuo de 7,8% no mês de outubro em relação ao comparado com 2020. É o terceiro resultado negativo neste indicador e, considerando a sequência, a queda mais intensa.
Até o agronegócio, que apresentava mais resistência, sofreu uma queda de 8%, mostrando que nenhum setor resiste à política econômica, que assim como o restante do governo, é baseada no negacionismo.
O revés não impediu o ministro da Economia, Paulo Guedes, de afirmar que o Brasil “está condenado a crescer”. Entre mentiras e previsões erradas, aquele que já foi chamado de “superministro” acumula sucessivas derrotas que fizeram agora o Brasil recuar também no ranking global de desempenho econômico. Em um quadro que analisa 31 nações, o país apareceu na 26° colocação.
Em uma realidade paralela, o ministro já cravou que com R$ 3 bilhões se “aniquilaria o coronavírus” e que muito dificilmente o dólar chegaria a R$ 5,00. A declaração de que o Brasil cresceria “em V”, em alusão ao formato da vigésima segunda letra do alfabeto latino, só pode ser entendida se o ministro estiver de cabeça para baixo. O que se viu na prática foi a letra “lambda” do alfabeto grego, o “V” invertido.
A queda de 0,1% no PIB se dá no contexto da volta da inflação de dois dígitos, 60% dela composta pelo aumento do preço dos derivados de petróleo, que venho enfrentando em projetos e ações na Câmara Federal e na Justiça.
Nosso país era autossuficiente no refino de petróleo em 98,8% até o começo do governo Temer, quando passamos a submeter o preço da gasolina e gás de cozinha ao preço internacional.
De lá para cá, mais de R$ 230 bilhões de investimentos foram perdidos, tivemos refinaria vendida, construções e obras de modernização de outras paralisadas, e não avançamos como poderíamos na transição da matriz energética para termos uma economia de baixo carbono.
A recessão na economia corrói salários, tira a comida de muita gente, coloca brasileiros em situação de moradores de rua. Mostra que o Brasil vive um ciclo vicioso, em que falta de emprego, queda na renda e redução do PIB alimentam um ao outro.
O quadro recessivo não será invertido enquanto durar o governo Bolsonaro, que se nega a usar o Estado para fazer com que a economia escape desse redemoinho, que quebra a cada dia o setor produtivo e aumenta o endividamento da população.
A saída da crise passa por uma forte participação de um Estado moderno e com compromisso pelo aumento de investimentos e com o fim do ciclo da desindustrialização. Esse caminho retomaria a capacidade de estimular a economia e a distribuição de renda, para aquecer o mercado interno. Mas isso será alcançado só com outro governo, pois esse já fracassou.
Reginaldo Lopes é deputado federal (PT-MG)
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo