O que está acontecendo no Senado não é um impeachment, é uma disputa política daqueles que perderam as últimas quatro eleições. A afirmação é da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que tem sido uma defensora incansável da democracia e do mandato da presidenta Dilma Rousseff. “O julgamento de Dilma é um erro crasso, desses que nos cobrarão um preço amargo, agora e por muitos anos que está por vir, se não tivermos a coragem de rejeitar as acusações vazias e infundadas”, alertou.
Vanessa Grazziotin enfatizou que a junta pericial, que analisou os atos pelos quais a presidenta está sendo julgada, afastou qualquer possibilidade de imputação de crime à Dilma. “O Ministério Público também disse que a operação do Plano Safra não foi operação de crédito e, portanto, também não é crime” afirmou.
Ela frisou que apesar de o processo de impeachment ter seguido o rito, para que seja feita a justiça, a forma só não basta, é necessário que o conteúdo de uma sentença também seja justo. “Esse é um momento muito triste da nossa história, é o momento talvez mais triste que eu já vivi na minha vida”, lamentou e fez questão de dizer que vota não ao impeachment porque é contra o golpe parlamentar e pediu aos seus pares: “Fiquei do lado da justiça, da verdade e da democracia”.
Farsa – Vanessa Grazziotin aproveitou para fazer uma comparação do processo contra a presidenta ao julgamento de um cidadão comum acusado por um adversário, cuja denúncia foi acolhida por um desafeto. “Ao aceitar a denúncia, a farsa começa”, disse a senadora. “O juízo formado por 513 deputados foi um verdadeiro show de horror, dizendo que admitiam a denúncia pelo conjunto da obra”.
Ela disse que, ao avançar, o processo foi para uma nova instância e lembrou que, na comissão especial do Senado, elegeram um relator do mesmo partido do acusador, se referindo ao senador Anastasia (PSDB-MG).
“Mais uma vez pergunto: não seria da ordem do bom senso que a neutralidade vigore”?
Para a senadora, “não há ninguém nesse plenário que acredite que Dilma esteja sendo julgada pelos crimes citados na peça acusatória”. Segundo Grazziotin, o que está em discussão é até que ponto “estamos dispostos a fazer uso político do TCU, a rasgar a Constituição, a fraturar o Estado Democrático de Direito e a inovar a própria doutrina jurídica”. E continuou: “O que está em discussão aqui é até que ponto estamos dispostos a instaurar um juízo de exceção para remover a presidenta da República. O que estamos fazendo hoje aqui, senhoras e senhores, é responder: Quem somos nós? O que entendemos por Justiça? Que espécie de democracia é o Brasil?”
Grazziotin enfatizou que não se pode elevar o Parlamento a colégio eleitoral, “conduzindo ao Planalto quem não conseguiu voto da população brasileira”. E encerrou com um recado para os que querem a presidenta eleita Dilma fora do cargo, por um cálculo político do poder. “A esses não digo nada. Deixamos a eles o julgamento da história. Aos que querem encerrar as investigações da Lava Jato, digo que este País tem sede de justiça e essa sede não será aplacada por um hiato constitucional”.
Vânia Rodrigues
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