O presidente Lula se reuniu, nesta quinta-feira (15), com o presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sisi, no Cairo. Além de assinarem acordos nas áreas de agricultura, ciência e tecnologia, os dois líderes discutiram a guerra na Faixa de Gaza, a necessidade de reforma da governança global, o combate à fome e à pobreza, entre outros temas.
Após o encontro, os dois presidentes fizeram uma declaração à imprensa. Lula iniciou afirmando que seu retorno ao Egito ocorre em um “momento importante da política mundial”, numa referência às guerras em Gaza, na Ucrânia e em outras regiões.
“Num momento em que deveríamos estar falando no aumento da produção de alimentos para o mundo, num momento em que a gente deveria estar falando em crescimento econômico, distribuição de renda e geração de empregos, nós estamos falando em guerras”, lamentou Lula.
O presidente acrescentou que os conflitos armados são decididos “da forma mais insana possível” e trazem “morte, destruição e sofrimento”. Ele lamentou que a Organização das Nações Unidas (ONU) não tenha “força suficiente para evitar que essas guerras aconteçam, antecipando qualquer aventura, porque a guerra não traz benefício a ninguém”.
Lula disse que espera contar com o apoio do Egito nas discussões sobre a necessidade de reforma dos órgãos de governança global. “E o que é lamentável, presidente, é que as instituições multilaterais que foram criadas para ajudar a solucionar esses problemas, elas não funcionam. Por isso, o Brasil está empenhado, esperamos contar com o apoio do Egito, para que a gente consiga fazer as mudanças necessárias nos órgãos de governança global”, afirmou Lula.
Ele defendeu, por exemplo, que haja a abertura de espaço para que outros países possam participar do Conselho de Segurança da ONU. “Outros países da África, outros países da América Latina participando. É preciso que tenha uma nova geopolítica na ONU. É preciso acabar com o direito de veto dos países. E é preciso que os membros do conselho de segurança sejam atores pacifistas, e não atores que fomentam a guerra”, enfatizou.
Gaza
Ao falar especificamente sobre a guerra na Faixa de Gaza, Lula voltou a condenar o massacre de mulheres e crianças, no enclave palestino, pelas forças de Israel.
“O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel e ao sequestro de centenas de pessoas. E nós condenamos e chamamos o ato de ato terrorista. Mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”, afirmou Lula.
“De qualquer ângulo que se olhe, a escala da violência cometida contra os 2 milhões de palestinos em Gaza não encontra justificativa. Sempre vimos o Egito como um ator essencial na busca de uma solução para o conflito entre Israel e Palestina”, prosseguiu o presidente. Segundo ele, “é urgente estabelecer um cessar-fogo definitivo que permita a prestação de ajuda humanitária sustentável e desimpedida, a imediata e incondicional liberação dos reféns”.
Lula disse também que o Brasil é terminantemente contrário a tentativas de deslocamento forçado do povo palestino. “Por esses motivos, entre outros, o Brasil se manifestou em apoio ao processo instaurado na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul. Não haverá paz sem um Estado palestino, convivendo lado a lado com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, disse o presidente.
Repatriação
Lula também agradeceu a ajuda do governo do Egito nas negociações que resultaram na repatriação de brasileiros que estavam em Israel e na Faixa de Gaza quando a guerra começou.
“E eu não poderia deixar de começar toda a minha conversa agradecendo ao presidente Al-Sisi em ajudar o Brasil para que a gente conseguisse retirar os brasileiros e as brasileiras que estavam na Faixa de Gaza”, disse Lula. “Eles atenderam nosso embaixador, conversaram muito, e nós conseguimos retirar praticamente quase duas mil pessoas que estavam em Israel e uma boa parte delas na Faixa de Gaza. Então, eu quero publicamente agradecer ao presidente Al-Sisi”, prosseguiu.
Centenário das relações diplomáticas
A visita de Lula ao Egito acontece no momento em que se comemora o centenário das relações diplomáticas entre os dois países. “Retorno agora para celebrar o centenário do estabelecimento de relações diplomáticas entre nossos países. Hoje, como em 2003, minha visita tem por objetivo aproximar o Brasil dos países da África e do Oriente Médio”, disse Lula, acrescentando que “as relações com o Egito ocupam papel singular nessa trajetória”.
Lula afirmou que estava satisfeito em voltar ao Egito vinte anos depois de ter sido o primeiro presidente brasileiro a visitar o país africano. Ele também destacou o fato de o Egito ser o segundo maior parceiro comercial do Brasil na África, com um intercâmbio de US$ 2,8 bilhões, e a importância do ingresso do país no BRICS, a partir deste ano. “O ingresso do Egito como membro do Banco do BRICS também representa um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes”, afirmou.
Parceria estratégica
Lula relatou ter proposto ao presidente egípcio que as relações entre os dois países sejam elevadas ao nível de Parceria Estratégica.
“Porque dois países que são importantes nos seus continentes, que têm o tamanho das populações que têm o Egito na África e o Brasil na América Latina, não podem ter uma relação pequena. A nossa relação tem que ser muito forte, muito grande, e envolver todas as atividades possíveis, da agricultura à defesa, da economia à ciência e tecnologia, da nossa relação conjunta para tentar democratizar o funcionamento das Nações Unidas, no campo da educação, no campo da cultura”, afirmou.
O presidente prosseguiu: “Somos dois grandes países em desenvolvimento que apostam na promoção do desenvolvimento econômico e social como pilares para a paz e segurança. Combatemos todas as manifestações de racismo, xenofobia, islamofobia e antissemitismo”.
Lula disse ainda que o Brasil voltou a apoiar a iniciativa egípcia de criação de uma Zona Livre de Armas no Oriente Médio, à semelhança do que já existe na América Latina.
Ele afirmou também que conta com o apoio do Egito para o sucesso da presidência brasileira no G20, em especial nas duas iniciativas que serão lançadas: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima.
PTNacional