Em artigo, o deputado Leo de Brito (PT-AC), analisa a falta de escrúpulos do governo de Michel Temer, que faz de tudo para se manter no cargo. “Enquanto isso, o cidadão brasileiro paga a máquina do governo federal comandada por Temer, para fazer arapongagem contra o Ministro Fachin, distribuir cargos, emendas e outas benesses para deputados. Tudo isso para garantir míseros 172 votos na Câmara dos Deputados para que o presidente não se torne réu no STF”. Leia a íntegra:
Leo de Brito
Pudores às favas
As revelações que vieram à tona após o impeachment da presidenta Dilma atestam de forma incontestável que a agenda comandada pelo atual presidente da República, lançando mão de todos os instrumentos possíveis é só uma: salvar a própria pele e de sua quadrilha.
Todo o resto é mera perfumaria para pagar a fatura dos patrocinadores do golpe, que confiaram a Temer a missão de fazer o serviço sujo contra o povo brasileiro. Via de consequência, a agenda de desenvolvimento do país e de construção de um projeto de nação soberana não passa de mera retórica.
Está cada vez mais claro que o presidente ilegítimo está disposto a um verdadeiro vale-tudo para se manter no poder e evitar sua prisão. Os movimentos são muito às claras, sem nenhum pudor: barrar requerimentos parlamentares, CPIs e pedidos de impeachment, reduzir as verbas da Polícia Federal, nomear ministros no STF e TSE, mudar o ministro da justiça, calar Eduardo Cunha e intimidar Janot e Fachin. Isso sem contar com as dúvidas envoltas no estranhíssimo acidente de avião sofrido pelo ministro Teori Zavascki, então relator da lava-jato no Supremo Tribunal Federal.
O mais incrível de tudo é que o PSDB, que se apresentou nas últimas 4 eleições presidenciais com o discurso de um projeto de país, embarcou na nau temerista (ou temerária) pelos mesmos motivos. As revelações dos áudios das conversas entre Joesley e Aécio Neves revelam exatamente isso. A necessidade absoluta de barrar investigações contra o PSDB, Temer e as hordas governistas. Consequentemente, na medida em que o barco Temer vai afundando, o PSDB submerge com ele. É só olhar as últimas pesquisas.
A posição tucana esconde uma dura realidade: ou salvam Temer ou serão dizimados. A questão central é a salvação do mandato do senador Aécio no Senado. O medo dos tucanos? E se Aécio abrir a boca? O que sobrará do PSDB? Por outro lado, o tucanato tenta ainda ”vender” seu apoio momentâneo ao que ainda sobra de governo, em troca de uma possível aliança capenga com o PMDB em 2018. É o verdadeiro abraço dos afogados.
A atual crise política, iniciada por Aécio, em suas palavras, ”só para encher o saco do PT”, com a ação no TSE que na última semana restou infrutífera, revelou, com a volta do cipó de aroeira para cima dos tucanos, a extrema fragilidade do partido. Como disse Lula, ”não precisou de uma capa da Veja”. Lula e o PT são vítimas de uma verdadeira caçada midiático-judicial que dura anos, e ainda assim, mantiveram um forte capital político, com Lula despontando como favorito na eleição presidencial de 2018.
Enquanto isso, o cidadão brasileiro paga a máquina do governo federal comandada por Temer, para fazer arapongagem contra o Ministro Fachin, distribuir cargos, emendas e outas benesses para deputados. Tudo isso para garantir míseros 172 votos na Câmara dos Deputados para que o presidente não se torne réu no STF. Caso vença essa batalha, restarão os pedidos de impeachment e a maior de todas as cartadas: nomear um ”engavetador geral” para cumprir o maior objetivo do golpe: estancar a sangria.
E pensar que o brasileiro que foi às urnas em 2014 sonhando com um país melhor, hoje é governado por uma quadrilha cujo comandante age sem escrúpulos à luz do dia. Parafraseando Gilmar Mendes no julgamento do TSE: ”pudores às favas.
(Brasil 247)