As ações do juiz Sérgio Moro, da operação Lava Jato, contra o ex-presidente Lula estão sendo questionadas por especialistas e formadores de opinião fora do Brasil. É o que garante o antropólogo e professor na Universidade de Harvard John Comaroff, de acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta sexta-feira (4).
Ele afirma que os questionamentos se referem à consistência das provas usadas pela força-tarefa da Lava Jato contra o ex-presidente. “Quero ser cuidadoso, porque não se pode fazer julgamento legal sem todos os aspectos esclarecidos. Não faço ideia se Lula é culpado ou não e suspeito de que ninguém o saberá antes de se apresentar um processo sustentado em provas”, disse.
“Pelas evidências que temos visto, as várias formas de propina, o apartamento etc., é tudo muito, muito incerto. O ponto levantado pelo juiz Moro é tudo menos conclusivo pelo que foi relatado até aqui”, garantiu Comaroff.
O antropólogo é especialista em “lawfare”, que é um termo que associa o uso da lei a fins políticos. Ele vem sendo consultado pelos advogados de Lula pelo seu conhecimento no tema.
“Ao vazar conversas privadas, mesmo que envolvam 20 pessoas, se Lula está entre elas, você sabe que é dele que a mídia falará. Isso é ‘lawfare’. Você manipula a lei e cria uma presunção de culpa”, destacou.
Moro autorizou e tornou públicas escutas de telefonemas de Lula, inclusive uma com a presidenta eleita Dilma Rousseff, que ainda não havia sido afastada do cargo por meio de um golpe de Estado. Esse diálogo foi considerado ilegal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter sido gravado após o período autorizado.
Grampo ilegal – Para o professor de Harvard, o grampo aos advogados do ex-presidente é considerado “muito ilegal no mundo todo”. “Não se pode fingir que não se esperava que essas medidas contra Lula não teriam impacto. Isso demonstra uma ânsia em acusá-lo”, disse o professor. “Parece que Lula tem recebido um tratamento diferente nos aspectos legais na operação”, criticou.
Diante de tantos questionamentos à conduta de Moro, o antropólogo é favorável que Moro seja afastado do caso como uma demonstração de isenção política da operação.
Comaroff destacou ainda que vem tentando entender o caso, dizendo que nem mesmo outros colegas em Harvard conseguiram compreendê-lo. “Há fatos que perturbam a audiência internacional”, afirmou. “O país possui um sistema legal robusto. Não há necessidade de se violar a lei.”
“Quem se beneficia dos ataques contra Lula também é objeto de reflexão, internacionalmente. Não estou julgando, mas há muito questionamento em torno especialmente do papel do Judiciário nesse caso, que parece muito ansioso por condená-lo”, completou.
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