Em artigo, o deputado Bohn Gass ( PT-RS) analisa a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha e a conduta da operação Lava Jato. Para ele, se Cunha falar, derruba o governo Temer. Sobre a Lava Jato ele afirma que é ilusão achar que a operação deixou de ser seletiva apenas por que levou o “figurão do PMDB” à cadeia. “Aliás, a demora nesta prisão que as evidências insistiam em exigir, só fez retirar ainda mais dessa operação sua credibilidade. Por que, afinal, Sérgio Moro gastou tanto tempo com ações pirotécnicas, conduções coercitivas abusivas e até vazamentos ilegais, antes de prender Cunha? Será porque a credibilidade da Lava Jato está em baixa depois que atores famosos se recusaram a viver o papel de Moro numa série da Netflix? Ou será porque a operação esteja preparando mais uma ação espetaculosa que necessite de algum crédito para minimamente justificá-la?”. Leia a íntegra:
Prisão de Cunha faz tremer o Planalto, mas não salva a Lava Jato
Elvino Bohn Gass (*)
Eduardo Cunha está na cadeia. As provas colhidas contra ele no âmbito da Operação Lava Jato já justificariam seu encarceramento. Mas Cunha tem dupla cidadania, dinheiro no exterior e poderia, sim, fugir do país.
Então, mais justificada, ainda, está sua prisão.
Agora, a única forma que Cunha tem de livrar-se, ao menos em parte, da montanha de acusações (e das várias provas) que já existem contra ele, parece ser a delação premiada. E se Cunha falar, derruba o governo Temer. Afinal, como confessou Romero Jucá (PMDB-RR) na famigerada conversa gravada por Sérgio Machado, “Michel é Cunha”. Ali, ficou-se sabendo que os dois agiam combinadamente. Porque tinham os mesmos interesses e porque sabiam os podres um do outro. Eles articularam e executaram juntos o golpe contra Dilma.
Pior e mais grave: não se trata apenas de Michel e Eduardo, mas de toda a cúpula do PMDB. Sim, o próprio Jucá é Cunha, Moreira Franco é Cunha, Eliseu Padilha é Cunha e Geddel Vieira de Lima é Cunha. Ou seja, o centro do governo Temer é todo Cunha. Como também o são as dezenas de parlamentares que viviam sob suas asas, os que o elegeram presidente da Câmara e o bajularam enquanto ele detinha poder para manobrar votações e pautas-bomba gerando a crise política artificial que paralisou o governo Dilma. Por tudo isso, desde que foi cassado, Cunha tornou-se uma bomba que a prisão, agora, pode fazer explodir.
Mas não se pense que a Operação Lava Jato deixou de ser seletiva apenas por que levou um figurão do PMDB à cadeia. Afinal, as razões agora alegadas para trancafiar Cunha já estavam postas há muito tempo. Aliás, a demora nesta prisão que as evidências insistiam em exigir, só fez retirar ainda mais dessa operação sua credibilidade. Por que, afinal, o juiz Sérgio Moro gastou tanto tempo com ações pirotécnicas, conduções coercitivas abusivas e até vazamentos ilegais, antes de prender Cunha? Será porque a credibilidade da Lava Jato está em baixa depois que atores famosos se recusaram a viver o papel de Moro numa série da Netflix?
Ou será porque a operação esteja preparando mais uma ação espetaculosa que necessite de algum crédito para minimamente justificá-la?
(*) Deputado federal (PT-RS), vice-líder da Bancada do PT na Câmara
Foto: Gustavo Bezerra
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