O jornal “Le Monde” publica editorial sugestivo sob o título: “O mundo árabe desafia o muro do medo”. As cenas de massas populares ocupando as ruas de Túnis, Cairo, Suez, Alexandria e Sanaa comovem o mundo e levam a perplexidade e o medo não somente às tiranias do mundo árabe, mas também a seus patrões ocidentais. O jornal “Le Monde” tem razão: O medo mudou de lado.
O primeiro dominó a cair foi a tirania da Tunísia. O ditador Zine El Abdine Ben Ali fugiu do país dia 14 de janeiro. Mas o povo tunisino não se desmobilizou, continua fazendo pressão porque os aliados do tirano manobram para continuar no poder.
O objetivo das ruas é constituir um governo provisório sem a participação de partidários do antigo ditador e organizar eleições democráticas à médio prazo. A manobra esperta dos sobreviventes do antigo regime era realizar uma eleição às pressas, pois assim cresceriam suas chances de manipular os resultados. As ruas rejeitaram esta armadilha.
O ditador tunisino já fugiu, mas as brasas da revolução ainda ardem em Túnis e suas chamas já se propagam pelo Egito, onde manifestações multitudinárias tomam as ruas e desafiam o toque de recolher para exigir o fim da ditadura moribunda de Hosni Mubarack.
Neste momento, as chancelarias das potências ocidentais se desdobram em contorcionismos retóricos para arrumar uma saída discreta e indolor para o ditador Egípcio. A esta altura, as agências multilaterais, tipo FMI e Banco Mundial, certamente estão tentando esconder seus relatórios que teciam loas desempenho da economia da Tunísia, país que era apontado como exemplo a ser seguido pelos vizinhos.
Mas o incêndio não se limita aos países citados. Manifestações foram verificadas também no Iêmem, na Mauritânia e na Jordânia. Não há exagero em afirmar que todas as tiranias do mundo árabe têm razões para tremer.
Esses acontecimentos configuram a eclosão de uma verdadeira primavera democrática dos povos árabes, desmentem o preconceito racista, segundo o qual os árabes estão destinados a viver sob tiranias e eliminam o pretexto daqueles que usam o fundamentalismo islâmico para justificar ditaduras.
Os movimentos que estão abalando as ditaduras árabes são democráticos, laicos e não têm relações com fundamentalismos religiosos. A pauta colocada trata de questões bem terrenas: emprego, inflação e democracia. A Bancada do PT saúda a primavera democrática dos povos árabes e manifesta sua esperança de que as mobilizações se cubram de êxito e sirvam para instalar um clima de paz e prosperidade em todo o mundo árabe.
Brasília, 1º de fevereiro de 2011
Deputado Paulo Teixeira – Líder do PT