A ofensa inominável do presidente Bolsonaro à repórter Patricia Campos Mello chocou o país e provocou uma enxurrada de notas de protesto, inclusive de entidades que até então não haviam se posicionado frente ao reiterado comportamento agressivo do mandatário. Patricia, vale lembrar, é considerada uma das melhores repórteres do jornalismo brasileiro, experiente em coberturas internacionais e que, durante as eleições de 2018, denunciou a gigantesca indústria de fake news transmitida através de redes ilegais operadas por apoiadores do então candidato Bolsonaro. Denúncias essas que, numa situação democrática normal, levariam à anulação das eleições. Mas mesmo que fosse uma jornalista iniciante ou uma pessoa de qualquer outra atividade, a agressão seria igualmente condenável.
No entanto, é de se perguntar: a postura de Bolsonaro causa alguma estranheza? Não. Seu comportamento é coerente com tudo o que fez na vida pública. Aliás, esse comportamento é tudo o que fez na vida pública até vencer as eleições da forma como venceu. Sua longa e opaca atuação parlamentar resume-se a isso. À defesa de torturadores, ao endeusamento de ditadores e, especialmente, a ofender seus adversários, com atenção especial às mulheres. Sim, o valentão, como se apresenta publicamente, prefere insultar as mulheres com argumentos relacionados ao machismo mais rasteiro. Os casos são fartamente conhecidos.
Bolsonaro não é um pavio curto ou um destemperado, como alguns sustentam buscando uma tênue defesa dos gestos abomináveis que comete. Ao imaginar que está fazendo uma piada contra a repórter Patricia, está revelando a sua essência: um ser grosseiro, incapaz de lidar com questões básicas da convivência humana como tolerância e respeito. Um indivíduo que não tem noção do que significa a dimensão do cargo que ocupa, nem demonstra interesse em saber. Não entende os requisitos éticos e morais exigidos para ocupar um cargo como o que ocupa e não está preocupado com isso. Sua preocupação é agradar seu grande herói Donald Trump, apesar do desprezo que este dedica ao Brasil nas relações bilaterais. Sua missão é manter o processo de desmonte do país operado por seu “posto Ipiranga” Paulo Guedes e, mais do que tudo, proteger sua prole, criada a sua imagem e semelhança e envolvida em escândalos de corrupção e vinculações com as milícias.
A presença de Bolsonaro da Presidência ofende qualquer parâmetro de civilidade e desmoraliza a mais simplória noção de convivência republicana. Chegará o dia em que seus apoiadores perceberão a nocividade de termos no mais alto cargo da República um indivíduo com estas características. Enquanto isso, estaremos denunciando não apenas sua postura indigna, mas o projeto que ele representa de entrega do patrimônio nacional, de perseguição à pesquisa, ao conhecimento e à cultura, e, principalmente, às ações nefastas contra os brasileiros mais pobres.
Deputado Henrique Fontana (PT-RS)
Artigo publicado originalmente na Carta Capital
Foto: Gabriel Paiva