O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), representante da Bancada do PT no Grupo de Trabalho sobre a reforma, defendeu em entrevista publicada nesta segunda-feira (5,) pelo jornal Correio Braziliense, a consulta popular como a melhor forma de dar legitimidade a uma reforma política. Na sua opinião, o governo deu uma resposta ousada e sincera ao clamor das ruas.
Leia a seguir a entrevista completa.
Correio Braziliense – Por que o plebiscito sobre a reforma política provocou tanta celeuma dentro do PT?
Deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) – Não digo que deu celeuma. O PT já tem uma posição bastante consolidada em relação aos temas da reforma. O que houve, por parte de poucas pessoas, foi uma descrença na possibilidade de se fazer um plebiscito. Entendemos que a melhor forma de dar legitimidade à uma reforma política é consultar o povo. Houve essa divergência em relação à presença do Cândido Vaccarezza na coordenação do grupo de trabalho (formado pela Câmara).
Que tipo de desgaste isso provoca no PT?
Independentemente da opinião de cada um, este é um assunto secundário. O principal é saber se há ou não condições de se fazer uma reforma política a partir desse grupo de trabalho.
Há condições?
Eu tenho, particularmente, uma posição cética. Esse assunto não é novo. Há poucos meses tivemos uma tentativa de votação em plenário que acabou sem resultado.
A Comissão criada então é só de fachada?
Talvez seja uma oportunidade. O ponto central é o financiamento de campanha.
Mas as pessoas que foram às ruas questionaram o mau uso dos recursos públicos. Como convencê-las a financiar campanhas de personagens tão desgastados como os políticos?
Se for no padrão atual das campanhas, creio que todos serão contra. O que tem que fazer é mudar a concepção do que é política. Qualquer candidato a deputado federal faz uma festa de lançamento de campanha para 3 mil, 4 mil pessoas. Neste padrão, de fato, nem eu teria coragem de propor.
A proposta do plebiscito também não foi apenas para escapar das críticas e acabou sendo mal pensada?
Se houvesse o entendimento na realização do plebiscito, daria tempo para fazer. Não seria nenhuma violência você estabelecer uma exceção para o princípio da anterioridade. Levando-se em consideração que houve fato social relevante, poderíamos fazer por emenda constitucional aprovada por consenso ou ampla maioria estabelecendo prazo de oito meses, não de 12 meses.
O governo soube responder as ruas?
Respondeu de maneira ousada e sincera. Ousada porque as críticas das manifestações não foram apenas ao governo federal. Aliás, os serviços mais questionados têm suas operacionalidades ligadas mais diretamente aos estados e municípios, como saúde, educação e segurança pública.
Qual sua opinião sobre a reação dos médicos ao Programa Mais Médicos?
Tem uma postura de reação corporativa demasiada. Existe um problema concreto de alocação de médicos no Brasil. Isso é inegável. A proposta do governo é buscar uma dotação com critérios. Primeiro, procurando médicos brasileiros. E aproveitando médicos estrangeiros que venham para o Brasil nas regiões onde faltam médicos brasileiros.
Como explicar a queda de 30 pontos percentuais da presidente nas pesquisas?
É previsível. Houve uma mudança de humor que foi simultaneamente causa e efeito das manifestações que atingiu governantes em geral. Política é isso, ter momentos de alta, de aprovação e ter momentos de desaprovação. É claro que vai ser uma eleição muito mais disputada e mais dura.
Até maio, dava para pensar em vencer em primeiro turno?
Uma coisa é suposta intenção de voto faltando um ano na eleição. Outra coisa é campanha na rua. Você tem a possibilidade de ter pelo menos três adversários no primeiro turno num cenário que mudou o ponto de partida. É jogar o jogo sem presunção de favoritismo.
Incomodou o PMDB propor a redução no número dos ministérios?
É curioso que essa proposta surja numa hora dessas. Eles têm o direito de propor. Mas como é um partido que tem cinco ministros e o vice-presidente, também poderiam ter proposto isso no início do governo. Não precisava ser agora.
Como está o volta Lula?
Este debate praticamente não existe. Tirando um ou outro militante ou parlamentar que fala de maneira bastante isolada, de maneira geral o sentimento das pessoas é que o nosso caminho é com a nossa líder do projeto, que é a presidente Dilma. A mudança de candidato poderia significar um sentimento de enfraquecimento não só do projeto, mas de quem está à frente dele. Em 2014, estaremos com a Dilma para reelegê-la e dar continuidade ao projeto.
O senhor foi ministro da Previdência e do Trabalho, presidente do PT no auge do mensalão e durante o caso dos aloprados em 2006. No governo Dilma, estava escondido. Como é essa volta à ribalta?
Sempre mantive o mesmo estilo de militância. Gosto de missão, de tarefa. Quando eu percebo que tem algo que posso ajudar, me coloco à disposição, independentemente de achar se é ribalta ou não.
A cassação dos mensaleiros no Congresso também não seria uma resposta às ruas?
Respeito o devido processo legal. Do ponto de vista jurídico, eles ainda não estão condenados, haverá a apreciação de embargos. Só estarão condenados quando transitar em julgado.
Que recado as ruas deram para os políticos?
Tem uma parte da população que sempre tem uma postura de afastamento da política. Como se isso fosse resolver o problema. Até que se encontre uma forma mais eficaz de representar os pontos de vista, os partidos são os veículos das opiniões. Precisamos aperfeiçoar a democracia brasileira, não negá-la. “