Por Alencar Santana Braga
A independência formal do Brasil ocorreu em 1822. Hoje, precisamos lutar, enquanto sociedade, por outros tipos de independência, vinculadas aos problemas do nosso tempo, às mazelas do nosso povo. Patriotismo verdadeiro é defender um país soberano e livre em todos os seus aspectos, não apenas na retórica beligerante e extremista que o atual presidente da nação usa cotidianamente.
Em 2013 o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU. Com o golpe de 2016, rapidamente voltamos a essa triste lista dos países que possuem fome endêmica no seu território. Bolsonaro e seus apoiadores no agronegócio berram que o Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas, uma mentira que não se sustenta, mas que se torna vergonhosa quando constatamos que mais de 20 milhões de pessoas no Brasil não sabem se terão a próxima refeição. Portanto, fazer o Brasil sair do Mapa da Fome outra vez é um dos desafios para que nos tornemos uma nação independente de fato.
Em janeiro de 2015 todos os meios de comunicação repercutiam outro fato emblemático: dezembro de 2014 foi o mês com o menor índice de desemprego já registrado na nossa história. Entre 2013 e 2014 vivemos o que tecnicamente se chama de “pleno emprego” – a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera que um país alcança essa condição quando a taxa de desemprego fica situada entre 4 a 6,4%.
Cinco anos após a destituição da presidenta em cujo governo foi alcançado o pleno emprego, o índice de desemprego no Brasil de Bolsonaro ronda os 15%, recorde absoluto em nosso país. A reforma trabalhista de Temer prometia gerar 10 milhões de empregos. Já a reforma da previdência de Paulo Gudes prometeu gerar outros 8 milhões de empregos, metade deles até 2022, inclusive.
Trabalhadores e trabalhadoras não viram a mais tênue garoa dessas prometidas “chuvas de emprego”. Ao contrário, além de terem perdido todos os direitos trabalhistas com as sucessivas reformas que transformaram a CLT em artigo de museu, a perspectiva é de piora de todos os indicadores econômicos: disparada da inflação, aumento de custos e queda na produção industrial, fuga de investidores de um país à deriva onde apenas os bancos e os amigos do Paulo Guedes conseguem faturar.
Recuperar o nível de emprego e o nível de produção industrial, além de reestabelecer os direitos que garantem dignidade a quem vive do seu trabalho, são desafios que equivalem a uma nova independência.
Ameaças internas
Outra “independência” pela qual devemos lutar é a recuperação de um ambiente de normalidade democrática e de respeito às instituições que são os pilares da democracia. Com um chefe de Estado que não passa um único dia sem promover ameaças e disparar bravatas e mentiras contra quem não se submete a ele, é impossível retornarmos a essa situação, que foi rompida em 2014, quando Aécio Neves e o PSDB não aceitaram a derrota nas urnas e uniram tudo que existe de pior no país para derrubar o governo eleito pelo povo.
A família Bolsonaro e a extrema-direita em geral, que pregam sistematicamente o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, precisam ser extirpadas da vida pública porque são nocivos à democracia e à sociedade. Não podemos permitir que as brechas da democracia permitam que os inimigos dela tenham êxito nas suas ações de promover o caos e a insegurança da nação. Celebremos o 7 de Setembro, data em que devemos enaltecer a democracia e não fustigá-la!
() *Alencar Santana Braga é advogado e deputado federal (PT-SP). Foi vereador em Guarulhos e deputado estadual
(Artigo publicado originalmente na Tribuna da Grande São Paulo em 7/09/2021)