Os deputados Paulão (PT-AL) e Enio Verri (PT-PR) afirmaram na terça-feira (2), em discursos no plenário da Câmara, que a política externa do governo Bolsonaro é “errática”, “estabanada” e já está “trazendo prejuízo ao Brasil”. Membro da Comissão de Relações Exteriores, o deputado Paulão lembrou que as ações do governo Bolsonaro de menosprezar as relações com a China já causaram prejuízos à agricultura brasileira com a exportação de soja. Enquanto Bolsonaro e membros de seu governo criticavam o país asiático, este fez um acordo comercial para aumentar a compra de soja dos Estados unidos, prejudicando o Brasil.
“Faz uma política errática com a Nova Zelândia, em relação ao leite, prejudicando os produtores, inclusive a bacia leiteira do Nordeste, que tem um papel fundamental na região; Alagoas, diga-se, tem destaque. Uma política errática em relação ao trigo, na relação bilateral com a Argentina. Então, é política errática constante”, observou Paulão.
O prejuízo em relação ao leite veio após decisão do ministro da Economia, Paulo Guedes, de reduzir os impostos de importação de leite em pó da Nova Zelândia e da Europa, prejudicando os produtores de leite do Brasil. Já o conflito com a Argentina com respeito às exportações de trigo, ocorre após visita de Bolsonaro aos Estados Unidos quando ele se comprometeu a importar 750 mil toneladas de trigo norte-americano com imposto zero, violando regra tarifária do Mercosul e prejudicando especialmente a Argentina.
Já o deputado Enio Verri criticou a possiblidade de prejuízo para as exportações brasileiras aos Países Árabes, diante da aliança incondicional do governo Bolsonaro com Israel. Ele disse ainda que os parlamentares que defendem essa política não enxergam os danos às exportações brasileiras.
“Preocupante um deputado que vem aqui [no plenário] defender um presidente da República, que concernente às relações internacionais, é um estabanado. O trabalho que Bolsonaro tem feito é de destruir a agricultura do Brasil, aproximando-se de Israel. Isso vai criar problema com o mundo árabe e custar muito caro. Gostaria que esses deputados [que defendem Bolsonaro] visitassem meu estado, o Paraná, e dissessem lá o que se vai fazer com o frango que é exportado para os países árabes”, argumentou Verri.
O deputado Paulão lembrou ainda que, ao prometer inicialmente transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém – cidade disputada por judeus e palestinos como capital de seus respectivos estados – e depois decidir abrir um escritório comercial na cidade contrariou os países árabes.
“Existe possibilidade de conflito com o mundo árabe, que tem 22 votos em todos os conselhos multilaterais, e isso tem consequência no agronegócio”, alertou.
Héber Carvalho
Fotos: Gustavo Bezerra